Um táxi a cair de podre em Teerão

27/12/2016

Durante a noite vim de autocarro para Teerão. Parti às dez da noite para aqui chegar às oito da manhã. Espantosamente era de luxo. Muito confortável e com enorme espaço para cada banco que reclinava, levantava um apoio para pés, etc.

A família  Sheakhloo veio trazer-me ao autocarro. Um programa diferente, para variar dos homens que massacram as costas e cujo espetáculo representa o entretimento de homens e mulheres nestes primeiros dez serões do seu mês de Mohrram.

Quando chegámos aos escritórios da companhia de camionagem abri a porta e disse à mãe Sheakhloo para passar à frente, o que fez muito hesitante. Os três homens, criança incluída, desmancharam-se a rir com a minha atitude, totalmente radical na cultura deles.

Dormi razoavelmente no autocarro e tinha combinado com um motorista de táxi esperar por mim nos escritórios da companhia ALD. O problema é que ali todos os nomes estavam em árabe, de maneira que não consegui ler os letreiros. Depois de andar 10 minutos para a frente e para trás à procura de quem falasse inglês, de entre centenas de pessoas lá me encontraram um recepcionista que, tendo vivido em vários países europeus, arranhava umas coisas.

Ligou para o homem que era suposto esperar-me, mas ele estava longe e rapidamente sugeriu ser ele a fazer o transporte, pois também tinha um táxi. Quando aceitei, o homem deixou os vários telefones que estava a atender, continuamente a tocarem, e arrancou comigo para o que ele apelidava do seu táxi. É mais lucrativa uma viagem de táxi ao centro de Teerão que passar a manhã a atender telefones. A viatura era um destes pequenos carros fabricados no Irão, a cair de podre e de cor cinzenta quando os táxis  aqui são amarelos ou verdes. O homem tirou um indicativo de táxi da mala que colocou no tejadilho e ficou pronto para a viagem. Como não tinha grande alternativa, pois parecia ser a única pessoa numa área de vários quilómetros quadrados a arranhar qualquer coisa de inglês, fizemos-nos à estrada, primeiro em direção à embaixada portuguesa, onde precisava de obter um papel para pedir o visto indiano, e depois à confusão que representa a embaixada Indiana.

O trânsito em Teerão é caótico, como seria de imaginar numa cidade com 10 milhões de habitantes em que cada um tenta furar por entre outros carros, peões e uma quantidade enorme de motos de 125 c.c. de fabricação local e que parecem cópias de Hondas antigas. Também cá fabricam o Peugeot 405 com motor 1600 a gasolina que aqui custa o equivalente a cerca de 13.000 euros, comparado com os 50.000 de um carro importado, como um Hyundai dos grandes.

Muitos carros têm pequenas mossas mas não se percebe como não batem mais nem atiram com muitas motos ao chão. Cheguei à conclusão que é por não haver movimentos bruscos. Eles avançam diretos aos peões, estejam ou não nas passadeiras, e outros carros e motos com vontade mas sem fazerem movimentos bruscos o que faz com que todos vão percebendo as reações de cada um.

Durante estes dez dias de memória ao Iman Hossein, não se pode ouvir música, nem no carro e quando o meu amigo Hossein a ligou a caminho do autocarro a mãe pediu que desligasse.

Este semi-taxista só dizia mal dos governantes, fossem eles Imã ou Presidente e mal entrou no pequeno charuto tratou logo de colocar uma cassete, à antiga, com música rock dos anos 70. Ainda não tínhamos chegado à primeira embaixada quando o homem deixou o carro ir abaixo e não voltou a pegar. Fiz ali uma revisão eléctrica à borda da estrada, no meio de carros a apitarem,  incluindo fusíveis e ligações do motor de arranque, e cheguei à conclusão que o problema era causado por verdete numa das fichas. Mostrei aquilo ao homem, raspei um pouco do verdete e tivemos outra vez viatura.

O trânsito é tão caótico que saímos às oito e meia do parque de camionagem, à entrada da cidade, passamos na embaixada portuguesa, onde me demorei uma meia hora e quando chegámos à da India já era meio dia e estava a fechar. Ainda me deram os papéis para preencher mas disseram que regressasse amanhã.

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*Francisco Sande e Castro está a dar a volta ao mundo de moto e M24 publica diariamente o seu livro de bordo. Acompanhe-o nesta grande aventura

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