O já vasto e bem sucedido clã, a olhar para os 30 anos com energia redobrada, mas sem perder o porte aristocrático e o estilo trendy, esteve muito bem representado nesta iniciativa do ativo Clube Mazda MX-5, hoje uma verdadeira família de participantes construída em torno deste ícone do mundo automóvel ou não fosse o roadster mais vendido em todo o planeta.
As quatro gerações – NA, NB, NC e os mais atuais ND (soft-top e RF) –estiveram representadas com galhardia, tamanha é a paixão dos proprietários por um modelo que ousa desafiar a marcha do tempo num mundo tão exigente e em acelerado processo de modernização.
A prova está no entusiasmo gerado em torno deste passeio, de tal ordem que as inscrições esgotaram num ápice, estilo «é tão bom, não foi?»
Ao volante do mais recente dos MX-5, dotado da tecnologia Skyactiv-G, em estreia neste modelo, fizemo-nos à estrada.
De cabelos ao vento, deitando para trás, sem dificuldade, a capota soft top, neste verão tardio que já nem pede licença ao S. Martinho e continua sem facilitar a vida ao outono, lá deixámos para trás as SCUT do nosso descontentamento pagas a preço elevado e sem as devidas contrapartidas, e sorrimos ao longo de centenas de quilómetros nas autovias espanholas sem pagar qualquer portagem.Uma folga para a carteira, reforçada com o atestar do depósito em terras de Espanha, a exemplo do que fazem as empresas portuguesas de transportes. Uma diferença significativa no preço por litro, que faz encher as áreas de serviço espanholas vizinhas da fronteira.
Pela Rota da Prata, com paragem em León para retemperador almoço, seguimos pela serpenteante estrada nacional, em magnífico estado e muito bem sinalizada, até Puerto de Pajares a 1379 metros de altitude.
Com um peso aligeirado – sempre são menos 100 kg – o elegante Mazda – o design Kodo ajuda a dar alma ao movimento –, trepou com incrível agilidade, sem esforçar os 131 cavalos, que «respiraram» muito bem apesar do fator altitude.
Paisagem arrebatadora, de cumes recortados no horizonte e vales profundos, dando a sensação de quererem permanecer escondidos. Impantes, os MX-5 venceram as alturas sem sobressalto e lançaram-se na vertigem da descida, num curioso exercício de ballet. A ação parecia sincronizada.
Para trás, desde Chaves, onde já tivera início outro passeio do clube através da mítica Nacional 2, tinham ficado 373 quilómetros.
A organização, sempre meticulosa e pragmática, não falhou e toda a gente ficou, positivamente, siderada com o cenário do jantar. Que cena na Tierra Astur!
Uma sidreria tradicional, castiça, ruidosa e convivial, para ganhar forças, uma vez que a etapa seguinte se antevia mais exigente em termos físicos. Cangas de Oniz foi o destino matinal, antes da subida, bem esquematizada, dada a logística necessária, a Covadonga.
Um local fantástico onde Pelágio lutou, entre o oceano ali tão perto e os vizinhos Picos da Europa, que fazem sombra ao santuário perto da famosa gruta.
O percurso, variado e com alguns trechos em estrada de montanha, revelou todas as qualidades do Mazda MX-5: excelente posição de condução, bom comportamento, em grande parte graças à eficaz ação do redesenhado chassis e ao rebaixado centro de gravidade. Resposta eficaz, em qualquer situação, do motor da versão 1.5, muito bem equipada : nível MT Evolve HS Navi.
Interior sóbrio e requintado, com um toque de modernidade, menos apreciado pelos puristas, é certo, mas que dá prazer usufruir nas viagens mais extensas.
A despedida de terras asturianas, após uma 2.ª etapa mais curta – 175 quilómetros — completou saboroso e bem humorado comparativo de «arroz de leche», mais uma nota doce em região de clima um pouco ácido: chuva incessante marcou a manhã da derradeira etapa, cumprida em autoestrada de montanha (AP 66), com o nevoeiro a esconder cenário de grande beleza, a quase 2 000 metros de altitude. O túnel de Negron, com mais de 4,5 km de extensão, junto a Caldas de La Luna, é um dos pontos marcantes deste percurso, em que o sol voltou a brilhar com León no horizonte.
O céu limpo foi convite para uma saltada aos lagos de Sanábria, em breve servidos pelo AVE espanhol, o comboio de alta velocidade que vai colocar Bragança mais perto de Madrid.
O controlo final estava instalado em Gimonde, aldeia a uma dúzia de quilómetros de Bragança e às portas do Parque Natural de Montezinho. Um final em beleza, após 331 quilómetros desde Oviedo.
Contas feitas, 880 quilómetros em grande estilo, consumo médio da ordem dos 6,1 litros, a comprovar que esta 4.ª geração é poupadinha, mas pródiga em provocar boas sensações.