Mesmo assim, estou convencido de que no que toca a um dos progressos tecnológicos mais falados e seguidos atentamente a Cidade Invicta é líder nacional. Falo da chamada condução autónoma, tema capaz ainda de gerar dúvidas e polémicas, mas inquestionável no Porto. De facto, naquela cidade, é raro o condutor que não seja autónomo. A maioria faz o que quer e muito bem lhe apetece, sem ter de prestar contas a ninguém.
Desde parar nos passeios ou em terceira fila à porta das escolas (com lugares disponíveis metros adiante), circular à velocidade mais conveniente para pensar nas dificuldades da vida ou escrever mensagens no telefone até estacionar em plena via horas a fio, os condutores portuenses têm autonomia para tudo, menos esquecer, um minuto que seja, recarregar o parcómetro, onde os seus carros estão devidamente estacionados e sem complicar o trânsito, pelo menos enquanto a criatividade autárquica nas pinturas do asfalto e na arte de lhe espetar “pinos” não se estender a esta área.
Não admira, por tudo isto, que a cidade esteja cada vez mais impraticável e constitua um exemplo importante da necessidade de criar taxas de circulação nos seus limites e, igualmente, um incentivo para o avanço do car sharing e, até, dos carros que se conduzem a eles próprios e que, em princípio, não vão permitir as atuais práticas, numa espécie de duelo entre condutores autónomos e automóveis autónomos.
E digo em princípio porque, já que estou a divagar um pouco em torno do assunto, são muitas as questões que se levantam ainda sobre os carros autónomos, desde as mais simples, como, por exemplo, qual virá a ser a capacidade ou a responsabilidade de quem os utiliza.
Uma coisa é certa: não se lhes assobiará, dizendo “vai buscar”, com se faz a um cão – e o bicho obedece. Pelo contrário, tudo indica que a maioria dos condutores, e em particular os do Porto, vão passar a ter mais cuidado a estacionar, a circular e a esquecer menos vezes coisas que os obrigam, a voltar para trás, e parar ali, sim “ali no meio da rua, mas só um minuto”, para ir comprar pão fresquinho…