Contar os mortos

11/04/2020

Uma vida nunca substituirá outra. E uma morte também não. Nestes estranhos tempos que vivemos, mas que parece que não vivemos, damos connosco a comparar números, a olhar para equações que nunca estarão certas.

A covid-19 ocupa todos os espaços. Todas as notícias. Todos os pensamentos. Escapar ao vírus é difícil, mas fugir à sua contabilidade é impossível. Até hoje, dia 11 de abril, o novo coronavírus ceifou já a vida a 470 portugueses – e infetou 15.987. Em todo o mundo são já 103.800 mil vidas perdidas para a covid-19, a grande maioria na Europa.

Contas de somar. Em 2019, morreram, nas estradas nacionais, 472 pessoas; mais 7% do que em 2018, segundo a ANSR. Já o registo de acidentes e de feridos graves aumentou 2%; mais 26.664 sinistros, num total de 135.063. A subida de feridos graves foi de 3%; mais 147, num total de 2288. Números que não são só números.

Explicar uma morte não é fácil. E explicar as suas estatísticas ainda menos. A diferença entre uma subida e uma descida das taxas de mortalidade, em acidentes de viação, muitas vezes, depende do acaso. Da sorte e do azar.

O que se poderá controlar (ou tentar…) será a ocorrência dos acidentes. Essa é a variável que estará nas mãos dos condutores e das autoridades que fiscalizam o trânsito. Um pouco como acontece com esta pandemia. Por mais que olhemos para os números divulgados, diariamente, para a contabilidade que teima em somar mortos aos mortos e infetados aos infetados, neles não encontraremos conforto. Nem ilusão de controlo. A única variável que podemos controlar, neste momento – e enquanto não existe uma vacina -, será evitar o contágio, o acidente, ficando em casa e cumprindo as regras do isolamento social. O resto virá depois. Porque virá. O novo coronavírus passará. Deixará de ser novo. Talvez regresse de outra forma e com outro nome. Não sabemos. Por isso, o importante, desta vez, será estarmos preparados, reforçando equipas médicas, multiplicando ventiladores, equipamentos e infraestruturas hospitalares. Eis uma variável controlável.

Voltando aos números. Só em janeiro de 2020 perderam a vida 44 pessoas em acidentes de viação. O ano começou negro nas estradas portuguesas, assinalaram os jornais, na altura, ainda longe de adivinhar que o foco, em breve, seria colocado, quase em exclusivo, nas vítimas da covid-19.

Amanhã será domingo de Páscoa. Mas não trará consigo a tão desejada ressurreição da economia, nem do setor automóvel, também ele moribundo por estes dias. Resta esperar que as necessárias restrições à circulação automóvel contribuam, ainda que de forma paralela, para inverter a tendência verificada no primeiro mês do ano, baixando o número de mortos nas estradas em 2020.