Diesel: Transição (in)sensata

30/01/2019

Ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes. (Fotografia: Diana Quintela/ Global Imagens)
Derrapagem? Velocidade excessiva? Ingenuidade política? O ministro do Ambiente “incendiou” o mercado automóvel com a seguinte declaração: “Quem comprar carros a diesel não terá valor na troca daqui a quatro anos”, afirmou Matos Fernandes. A indústria já se comprometeu em reduzir as emissões, mas a transição terá de ser gradual. ACAP e ACP fizeram precisamente esse alerta, além de criticarem o ministro pelas declarações que dizem ser “alarmistas”.

Um governante – para mais, com as áreas dos Transportes e Energia – não pode nunca esquecer-se de que a PSA, em Mangualde, e a Autoeuropa, em Palmela, representam uma grande fatia das exportações portuguesas e que muitos dos automóveis feitos, por exemplo, em Palmela ainda são a diesel. A menos que Matos Fernandes já saiba alguma noticia, que os jornais não conhecem ainda, de uma eventual saída da fábrica de Portugal ou de um cenário de substituição dos T-Roc por carros eléctricos. Não sendo o caso, então é junto dos fabricantes que é preciso fazer toda a pedagogia para que invistam e construam carros híbridos e elétricos.
Os consumidores estão cada vez mais cientes desta necessidade e os combustíveis fósseis têm registado preços incomportáveis para a maioria das carteiras das famílias portuguesas. E as empresas também querem poupar nos custos energéticos, mas não têm dinheiro para, de um dia para o outro, renovar todas as suas frotas.

O apelo tem de ser, cada vez mais, mais no sentido de converter a indústria automóvel numa indústria que fabrica produtos (carros) menos poluentes, que contribui para a descarbonização, e, já agora, faria todo o sentido que o governo voltasse a conceder incentivos fiscais ao abate de veículos antigos e mais poluentes.

Frases alarmistas dirigidas aos consumidores – que ficam assustados com a desvalorização do seu automóvel (e, para a compra do mesmo, muitas das famílias até se endividaram) – não são construtivas, até porque a maioria não tem como adquirir um carro eléctrico hoje, já que os preços continuam bem acima dos de outros veículos a gasolina ou a gasóleo. Mais, se todos os portugueses que tem carro a diesel fossem hoje mesmo aos concessionários para comprar veículos eléctricos não haveria oferta para tamanha procura!

Por cá, os carros a gasóleo ainda têm uma quota de mercado de 53,25%, menos 10% do que no ano anterior, e esta é a tendência. Fazer a transição energética e, por conseguinte das próprias formas de mobilidade, exige mais do que verificar os números, exige bom senso e um cronograma exequível para a realidade nacional. Em várias áreas da inovação, Portugal é um dos países que está na linha da frente e é bom que tenhamos sempre essa ambição, mas em várias matérias ainda estamos longe de ser a Alemanha, que em outubro de 2016 anunciou a morte dos carros a diesel.

Rosália Amorim / Publisher do site Motor 24