E agora voltamos à estrada

18/05/2020

O Planeta está a mudar a forma como se movimenta, a reduzir a sua velocidade, devido ao isolamento imposto pela covid-19. Mas estaremos todos nós a mudar a forma como nos movimentamos dentro desse mesmo Planeta? Estaremos a abrandar o nosso ritmo? A mudar de hábitos?

Um estudo publicado na revista Nature dá conta de uma redução de 1/3 da movimentação habitual da Terra. Um grupo de investigadores registou uma quebra de ruído sísmico brutal e acredita que este será resultado da pouca movimentação humana durante a pandemia.

Uma redução apenas observável, segundo os investigadores, por um período muito curto, no Natal. Uma época que convida mais a ficar em casa com a família e não tanto a deslocações de automóvel ou de avião. O novo coronavírus, por sua vez, alargou este período – e esta redução de ruído – para um registo nunca antes observado. Ou vivido. Fez-se silêncio no Mundo. E isso teve benefícios evidentes para os pulmões da Terra.

Mas será que a forma como o ser humano se movimenta dentro deste Planeta e nesta nova realidade permanecerá idêntico? No primeiro dia da segunda fase de desconfinamento, em Portugal, impõe-se a questão: e agora? Vários estudos sustentam que não. Antes da covid-19, os transportes públicos e os veículos partilhados galgavam terreno nas opções de locomoção da sociedade, mas o vírus infetou esta tendência. Quase todos os que experimentaram os transportes coletivos, durante esta pandemia, pensam voltar a utilizar o seu veículo particular, com receio do contágio. Um levantamento efetuado, em Espanha, pela plataforma online Clicars, aponta para 93% o número daqueles que se prepara para tirar o automóvel da garagem ou mesmo para adquirir um veículo privado.

Estaremos perante um regresso a tempos mais gloriosos do que as últimas duas décadas para a indústria automóvel? Essa nem sequer será a questão de um milhão de euros – ou dólares – porque os grandes fabricantes europeus (e mundiais) pagariam muito mais do que isso por uma luz no final deste longo túnel da pandemia.

Ou não tenham contas superiores em mãos com a eletrificação das suas gamas, para fugir às multas, já em 2021, devido às limitações europeias de 95 g/km de emissões. A pandemia transformou um ano crítico para a indústria, numa era das trevas, sobretudo, se a Europa não criar uma moratória para o cumprimento da nova lei.

Talvez o mundo tenha abrandado e não volte, nunca mais, ao ritmo anterior. Com vantagens inequívocas para o Planeta. Mas agora voltemos a mover-nos. Regressemos à estrada. Parar definitivamente também não é solução. Nem ambiental. As águas paradas tendem a estagnar.