Está a milhas de significar isto a minha convicção na inevitabilidade de nos encontrarmos perante matéria sem história ou discussão, tão óbvio resultará termos de admitir o desenvolvimento, o avanço tecnológico, a supremacia da questão ambiental sobre todas as outras. Tudo vai resolver-se com naturalidade. É simples. É sempre assim, inexoravelmente. É o progresso! Será?
Por mais voltas que dê, por mais que tente convencer-me de que as baterias capazes de garantirem percursos de muitos quilómetros, 500/600, serão as coisas mais simples do mundo no futuro que nos pintam, falta-me qualquer coisa quando penso nesse progresso. Afinal, pego no telemóvel e é um instante enquanto a carga desaparece se não me limitar a utilizá-lo para aquilo que nasceu – a simples chamada telefónica. Não é como era, com certeza, os progressos foram imensos, o smartphone é outra coisa, hoje até posso ter um pequeno carregador no bolso, dispor de uma tomada USB no automóvel e, claro, aproveitar o almoço ou o jantar no restaurante para um “cheirinho” de carga. Afinal, até posso ter dois telemóveis… E passaram quantos anos desde o tempo do “tijolo” que permitia fazer telefonemas? Em números redondos: 25 anos! Menos do que o tempo que nos separa de 2030.
Os lóbis
Mas vai uma distância enorme entre o telemóvel e o automóvel. Até vão outros interesses, lóbis poderosíssimos e, pelo meio, uma sociedade que será preciso transformar e adaptar a outra realidade, admito que inclusivamente outro estilo de vida.
Eu sei que até a Mercedes, que não brinca em serviço e pensa a sério no futuro, se decidiu a construir uma fábrica de baterias, vai investir um balúrdio para ampliar a sua produção e está a patrocinar estudos exaustivos e a tentar os cérebros da investigação de modo a convencê-los a queimarem neurónios para até descobrir como reciclar o que vai sobrar das baterias dos automóveis que, parece garantido, nunca mais servirão para os fazer andar… Mas esse é outro problema de que nem interessa agora falar muito. Porque nisto de lóbis, eles andam por todo o lado, pólos opostos não deixam de ter interesses. E todos se batem pelos seus. Lembre-se o que o sr. Trump diz sobre o aquecimento global!Eu sei, tenho olhos na cara, que são cada vez mais os automóveis elétricos, vejo-os à carga nos postos de carregamento em Lisboa, encontro-os Europa fora em grandes cidades, Amesterdão por exemplo, e exemplo a reter na fronteira de duas Europas bem diferentes, pois para Norte, a realidade é outra, condicionada também por razões tão diversas que até contemplam o clima… e uma outra forma de viver e utilizar o automóvel durante quase metade do ano. Atente-se no caso da Noruega, vista como um dos grandes exemplos na adesão à mobilidade elétrica.
Todos sabemos que os combustíveis fósseis são finitos. Todos sabemos que é preciso poluir menos. Que o problema até nem está só nos automóveis. Mas é preciso começar por qualquer lado e o automóvel tem de mudar.
Como fazer?
Claro que sim! O automóvel tem de mudar. E o resto, as cidades, a sociedade? Vamos ter um carregador em cada lugar de estacionamento? Vamos limitar quem vive em bairros históricos em Lisboa ou no Porto, Madrid ou Barcelona, Paris, Londres, Roma a optar entre estacionar o automóvel longe de casa, provavelmente pagando e bem, ou a mudar de casa para viver num prédio com garagem? Vamos considerar que ao fim-de-semana, ou nas férias, a solução das famílias se resume aos transportes públicos eventualmente combinados com um automóvel elétrico alugado num qualquer sistema de partilha? Ou talvez a utilizar a bicicleta?
Vamos continuar a falar de automóveis elétricos, com certeza. Ou a hidrogénio. Ou híbridos e Plug-in que sejam mais do que a atual fantasia que procura pintar de verde uma mentira que mascara as performances com economia medíocre e uma defesa ambiental que vai pouco mais longe do que os sistemas start-stop.
Vamos continuar a falar do automóvel do futuro mas olhando em seu redor. O problema está longe de ser apenas a autonomia das baterias. Importa agir, claro, encontrar alternativas, pensar e discutir soluções. Mas importa, antes de mais, deixar de fingir e, sobretudo, falar verdade. No dia em que todos os automóveis forem elétricos ou a hidrogénio muito terá sido preciso mudar. Muito mesmo e não é necessário estar ao nível do pensamento dos génios para o admitir. A menos que como aquele jovem desenrascado e meu vizinho, se admita que, para carregar a scooter elétrica, basta um cabo do quinto andar para a rua… O futuro não pode ser tão simples. Parece-me, pelo menos.
Um futuro elétrico? Tem espaço, com certeza! Mas é preciso arranjar baterias para alimentar uma solução de compromisso. Afinal, isto de automóveis elétricos não é só ligar à corrente… e ter baterias com mais autonomia.