Amesterdão. No bairro da luz vermelha, perto do Museu da Prostituição, há um carregador num pequeno parque de estacionamento. Quando chegamos ao local a placa reservada para carros elétricos, normalmente, pintada de azul, estava ocupada (não é um exclusivo português), por um veiculo de abastecimento convencional. Contiguamente, existe um parque de cargas e descargas e pedimos amavelmente a um indivíduo, magro, cabelo cor de chumbo, se podia recuar um pouco a sua carrinha para que através do parque de descargas o cabo de ligação pudesse chegar ao nosso carro. Havia muito espaço para todos.
A resposta foi negativa, que ele estava bem, que nós não podíamos estar nas cargas e descargas, que o carro que estava ocupar o lugar do elétrico é que estava mal, que tinha muito que fazer, rebéubéu pardais ao ninho. Entretanto, eu, desesperadamente tentava obter a app que dava a acesso ao carregamento. O posto de carregamento só tinha instruções em holandês, não tinha qualquer número de telefone de apoio e além disso não estava a encontrar na App Store a malfadada aplicação.
Aproximaram-se dois policias municipais de bicicleta, obviamente, a quem explicamos a situação e pedimos ajuda. Os policias focaram a atenção, apenas, no carro que estava mal estacionado. O indivíduo que tinha muito que fazer, continuava ali mas, desta vez, dialogava em holandês com os policias municipais. Pela linguagem gestual percebemos que os policiais não estavam interessados e mandaram-no à vida dele. O homem magro de cabelo cor de chumbo não arredava pé.
Expliquei aos policias que o que nos interessava era carregar o Soul EV. Não queríamos criar problemas a ninguém. Entretanto chegou o reboque e quase ao mesmo tempo, um homem com cerca de 40 anos, enorme, tipo cristaleira de Paços de Ferreira, pouco falador que abanava a cabeça constantemente: o dono do automóvel mal estacionado. O policia municipal dizia-lhe qualquer coisa e ele abanava a cabeça num gesto afirmativo. O homem magro de cabelo cor de chumbo dizia-lhe qualquer e ele abanava a cabeça negativamente.
Por sua vez o reboque, estava a impedir os carros de entrarem e sair do estacionamento reservado às cargas e descargas. O homem magro de cabelo cor de chumbo bracejava e o condutor do reboque abria os braços para os policias municipais como quem diz: “então rebocamos ou não? Tenho mais que fazer…”
Com o “circo” já montado, entrava mais um protagonista em cena: um policia de trânsito. Entretanto, quer pelo burburinho, quer pela decoração do Soul EV que chama muito atenção, juntou-se ao nosso redor uma pequena multidão de mirones (não é um exclusivo português), a quem o indivíduo magro de cabelo cor de chumbo relatava a história, digo eu, desde o primeiro segundo.
A discussão estava acesa e já havia outros intervenientes ativos. Instintivamente, tivemos a mesma ideia e ao mesmo tempo: vamos sair daqui! Recolhemos o cabo, metemo-nos dentro do carro e como Soul EV não faz qualquer ruído de combustão, saímos de fininho. Pelo espelho do retrovisor ainda vi o indivíduo magro, de cabelo cor de chumbo, apontar para nós, como quem diz: arranjaram esta confusão toda e agora piram-se.
Conseguimos estacionar o Soul EV num lugar de carregamento, embora sem o carregar, perto da Cervejaria Heineken Experience, num dos canais de Amesterdão e, tranquilamente, fomos dar um volta pela cidade.