Texto: João Ouro
«Está tudo aqui!», diz Sérgio Santos. «É tudo… cabeça», diz, de novo. O melhor é conhecer-se a pista, as curvas, as retas, cumprindo e fazendo (tudo) o que os instrutores disserem. Estou pronto. Os avisos sobre o traçado da pista de Portimão (Autódromo Internacional do Algarve, AIA), a célebre montanha-russa, relembram-me a última experiência em que o desacerto foi constante.
Agora, a primeira volta é ao lado do piloto-instrutor—«50% a 60% do limite…», adianta Edgar Gonçalves—, sendo importante fixar quase tudo. Para que lado é a curva, onde se trava, onde se entra, onde se sai, onde está a reta, onde está o volante. Onde? O Mercedes-AMG A 45 S (421 cv) não se importa com a esfrega e, meu Deus!, se isto é a metade do limite. Brutal. Foi tudo tão rápido, suave e certinho, que me esqueço de quase tudo e não me recordo de quase nada. Baralhado? Sim. Troco de posição, aí está o volante, modo Race ativado e ‘lá vou eu’—acelero como quem não quer a coisa. E o pior é que quero (e muito) e assim que a voz autoritária do piloto-instrutor me entra pela cabeça adentro, pelo intercomunicador, só tento ouvi-lo. A pista passa a ser virtual, não está lá, o asfalto desaparece, não há vivalma nas bancadas e estou tramado: «trave, trave, mais forte, com força! Fechar pela esquerda, saímos à direita, acelere, acelere, trave agora, suave, progressivo, travagem forte, forte! Trave a direito, ao fundo, fechar pela direita, sair à esquerda. Sem travar, só volante, pouco, pouco, agora, confie, vá, agora, acelere, acelere!». A pista nem sequer lá está.
«Já aqui esteve?», pergunta Edgar Gonçalves. «Só uma vez!», respondo. Faço outra volta. Cada vez pior ou melhor. Aprendi com alguns erros, mas volto a fazê-los e, caramba, aquela voz não me sai da cabeça. Porque não te calas. «Trave, trave mais, ainda dá. Força, força! Só com o volante, suave, suave. Para dentro, mais, agora, vá. Deixe ir assim, não trave. É muito, é muito, menos, menos». Ufa!
Não me lembro de me ter benzido (devia tê-lo feito), mas, mais aliviado, telefono para casa, digo que está tudo bem. Tudo bem, Cristina!
O Mercedes-AMG A 45 S parece perdoar-me. Saio da pista, capacete na mão, touca fora, com a ideia de ter cumprido o desafio. Nunca tive tantas instruções a conduzir, mas não levo a mal, antes pelo contrário. Aprender faz-me bem. À tarde, lá para as cinco da tarde, está previsto entrar em pista com o novo Mercedes-AMG GT 63 4Matic+ Coupé. Quê? Espero que a paciência do Edgar e do Sérgio não se esgote (sim!, já começo a tratá-los só pelo nome próprio…) e que a Daniela Jorge, a grande ‘culpada’ da Mercedes-Benz Portugal, também não se arrependa disto. No caso do amarelinho AMG-GT 63 Coupé (a partir de 245.350 €) estarão ‘em jogo’ cerca de 280 mil €. É melhor não pensar nisso.
PIÕES NA ‘BOLACHA’
A experiência seguinte já foi melhor. O exercício é o de um ‘slalom’, que é premiado com honra e… ‘bravura’, tanto a travar, como a acelerar e a curvar, com e sem ESP ligado, em piso seco e zona molhada. «Esta é [mais] a tua praia!», diz Edgar. O elogio é simpático, mas consigo ler nas entrelinhas. Uma indireta ao que se passou no ‘drift’.
E AGORA: AMG-GT 63 4MATIC+ COUPÉ
O grande momento. Não há como evitá-lo. Não quero evitá-lo! Touca, capacete, e preparo a entrada (foto, foto!!!) no amarelinho Mercedes-AMG GT Coupé de segunda geração. Tração 4Matic+ totalmente variável (integral, até 55% à frente), suspensão ativa (Active Ride Control), controlo semiativo de estabilidade, eixo traseiro direcional e motor ‘unipessoal’ AMG V8 biturbo de… 585 cv. Outra dimensão. Ponto.
No intercomunicador, a voz regressa, maldita, desta vez mais calma, é certo, mas rapidamente com outra veemência. Diz-me o que fazer. E ainda bem. Volta a cegarrega: «trave, trave, mais forte! Fechar pela esquerda, saída à direita, para cima, acelere, mais, mais!». E continua, contínua. Sempre. Obrigado.
A dinâmica e a estabilidade do amarelinho são brutais e tenho a sensação de que faço quase tudo errado. Gostava de saber o que o Sérgio está a pensar. Não há tempo. Vamos depressa, lá isso vamos. O AMG GT Coupé perdoa-me muito, perdoa tudo. Credo. De repente, volante puxado ao meio. Que é isto!? Não me zango. «Mais aqui, mais aqui!, sem travar, vamos, confia». Confio. Vamos a descer a montanha-russa do Algarve: «gaita, isto é possível de ser feito assim», penso. Tenho o cérebro aos ziguezagues, acelero, travo, volto a acelerar (e muito), travo forte, uma, duas e mais vezes. E não acaba. Tento sobreviver, a mente processa tudo ‘a mil à hora’ e acelero como nunca na reta da meta. O meu tutor pergunta se está tudo bem. «Então, não está!». Três voltas, três voltas. E o mundo virado do avesso. Fazia isto a vida toda. Vá lá, durante um mês, pelo menos.
«Estive muito mal?», pergunto. O Sérgio entende que me pode deixar de rastos. Diz que não. «Não!, mas falta o conhecimento [técnico] da pista», diz. É difícil, é difícil. Quanto ao amarelinho Mercedes-AMG GT Coupé, uma única palavra: brutal.
Depois das aulas em pista, uma última e grande lição: aprender faz bem. E sabe (ainda) melhor.