Novo XC40: O Volvo que fala chinês

22/11/2017

Para me estrear no Motor 24, nada melhor do que começar com um exclusivo ensaio em primeira mão. Este é o primeiro texto em português que lhe diz como é guiar o novo Volvo XC40 e por que razão ele fala chinês. Um SUV que vai fazer a vida negra ao Audi Q3 e ao BMW X1.

Em 2010, os chineses da Geely compraram a Volvo à Ford e esperou-se o pior… Mas aconteceu o melhor! A marca cresce a cada ano que passa, nas vendas e nos lucros e agora começa a entrar nos segmentos que realmente interessam, os que fazem volume e dinheiro. Para quem anda um pouco confuso com tantos SUV a chegar ao mercado quase todas as semanas, cabe aqui dizer que o XC40 se posiciona no mesmo segmento do Nissan Qashqai, mas apenas em dimensões. Pelo preço e posicionamento, os seus rivais diretos são o envelhecido Audi Q3 e o clonado BMW X1. No ano passado, a Volvo vendeu meio milhão de carros, mas o objetivo é chegar aos 800 000 e conta com a linha 40, a mais acessível, para dar o salto. Para já com este XC40 e depois com a nova V40, que deve estar à venda em 2019. Toda esta linha de modelos usa a nova plataforma CMA, que não é a sigla da câmara municipal de Almada, mas sim de Compact Modular Architecture. E é por isso que o XC40 fala melhor chinês que os Volvo mais caros: a CMA serve de base aos modelos da Link & Co (não é uma marca de perfumes, é uma marca chinesa de automóveis que está para chegar à europa) e a outros modelos da Geely, feitos para o mercado interno chinês. É a primeira vez que o grupo vai fazer esta partilha de componentes, o que pode deixar muita gente de pé atrás.

Para saber se os engenheiros chineses condicionaram os suecos no desenvolvimento do XC40, fui esta semana a Barcelona, onde a Volvo organizou o primeiro ensaio de estrada, para o júri do Car Of The Year (COTY, para os amigos) do qual tenho a enorme honra de pertencer. Não vale a pena ir já “googlar”, o COTY existe desde 1964 e é o prémio mais ambicionado por todos os construtores, porque é atribuído por 60 jornalistas especializados europeus. E porque a sua conquista resulta numa mensurável subida nas vendas.

Em Barcelona, encontrei duas motorizações para guiar: o D4, Diesel, e o T5, a gasolina, ambos 4×4 e com caixa automática, ou seja, muito longe do D3 de tração à frente e caixa manual que será o mais procurado pelos portugueses, que por ele quiserem dar 38 000 euros. Mas têm que esperar até março ou abril. Obviamente, escolhi o D4 de 190 cv, sempre era um Diesel, que é o que o mercado continua a comprar neste segmento, apesar de tudo o que se tem dito acerca do famigerado “dieselgate.”

Para quem me conhece, sabe que não costumo perder muito tempo a falar de estilo e de estética. Já levei grandes secas de dezenas de estilistas e designers e não quero fazer passar os leitores pelo mesmo. O XC40 segue na linha do XC90 e do XC60, os dois maiores SUV da Volvo, acrescentando apenas um ziguezaguear no pilar traseiro do tejadilho. Depois lá vem a personalização, com o tejadilho de cor diferente, algo que a Mini já fazia nos anos sessenta, sem saber dar-lhe um nome. O habitáculo tem mais que se lhe diga. Lá está o monitor central ao alto, tipo tablet, que a Volvo estreou no XC90 com grande sucesso, um volante que apetece agarrar e um banco que consegue o impossível: ser fino e muito confortável. A posição de condução é alta para o segmento, mas sem que o condutor se sinta desamparado, e os (poucos) botões que escapam aos menus do monitor tátil, estão bem posicionados, como o dos modos de condução, que permite escolher entre as posições Eco/Comfort/Off-Road/Dynamic. Altera-se a resposta do acelerador, o peso da direção e as passagens da caixa automática, que também tem patilhas no volante, para os dias em que o condutor se sinta um verdadeiro Lewis Hamilton. Para os outros dias e para as manobras, há um comando manual “by-wire” que obriga a olhar para o painel de instrumentos, para ver que posição ficou realmente engrenada.

A qualidade do interior, esse papão que os construtores criaram e que agora os assombra, mistura plásticos macios e duros criteriosamente distribuídos pelo tablier e pelas portas. Onde é mais provável que os dedos vão tocar, estão plásticos macios, como é óbvio. Mas o aspeto geral é bom, para o segmento. Ainda no habitáculo, o espaço para os joelhos dos passageiros de trás é muito bom, mas o banco é estranhamente estreito, dificilmente levando três adultos. A mala leva tudo e mais alguma coisa e ainda tem um alçapão para esconder mais tralha sob o piso. As novidades são um caixote do lixo amovível na consola central, bolsas das portas gigantes, porque não levam os altifalantes e uma gaveta sob o banco do condutor, para esconder um mini-tablet. E também um gancho na tampa do porta-luvas, para as senhoras pendurarem a mala.

Porta fechada, botão da ignição pressionado e o motor Diesel quase nem faz barulho. A Volvo tem vindo a especializar-se em insonorizar os seus carros. Quer dizer, do lado de fora os motores fazem tanto barulho como os outros, mas aos ouvidos dos ocupantes quase nada chega. A sensação de força deste motor aparece logo desde rotações muito baixas, nem sendo preciso puxar por ele e deixando a caixa automática de oito ir subindo rapidamente. A direção é leve, sem ficar nervosa, mas nota-se que é mais direta que a do XC60 (2,7 voltas totais ao volante, em vez de 3,0) a bem de uma intenção de maior agilidade. A suspensão também é mais firme que a do XC60, mas sem perder muito no conforto em mau piso, mesmo com pneus de medida 235/50 R19. Seja com tração às quatro ou às duas rodas, a suspensão traseira é sempre independente, o que nem o grupo VW faz. Também há uma suspensão desportiva, ainda mais firme e, mais tarde, vai chegar outra de amortecimento pilotado, como modos Comfort e Sport.

Em autoestrada, a serenidade da condução é excelente, os ruídos aerodinâmicos muito baixos e o motor discreto. Até deu para experimentar o Pilot Assist, que mantém o XC40 dentro da faixa com pequenos toques na direção. Deixando a “autopista” e passando às estradas nacionais, o acerto dinâmico mostra aquilo que se tornou o típico da Volvo. Uma grande facilidade de controlo, a que é dada mais importância que a “desportividade.” Não se encontra aqui a obsessão em obter a maior velocidade de passagem em curva, como nos BMW, mas a eficácia é suficiente para um condutor experiente que queira tirar algum prazer da condução rápida. A subviragem na entrada em curva está bem controlada e a traseira mantém-se estável, mesmo quando provocada. A tração à saída das curvas, como seria de esperar, é muito boa, conseguindo as quatro rodas colocar toda a potência no chão, com o ESP a entrar só em situações limite. A transmissão só passa potência para as rodas de trás quando é preciso, por exemplo em reta a velocidade constante, só as rodas da frente “puxam”, para poupar combustível. Não houve oportunidade para o testar fora de estrada, o que também poucos proprietários farão. Mas com 210 mm de altura ao solo e com uns pneus mistos, até deve ser capaz de umas escapadelas em estradões de terra.

A Volvo prepara-se também para o futuro no que à mobilidade diz respeito. Por exemplo com o “car-sharing”, em que, através de uma App, um amigo do proprietário de um XC40 lhe pode pedir permissão para usar o carro. O dono envia-lhe um código e com o telemóvel o utilizador temporário pode abrir o carro e arrancar. Outra hipótese é receber encomendas (das compras na internet) na mala do carro, seguindo um esquema semelhante, em que o empregado da empresa de entregas abre a mala do XC40 e lá deposita a encomenda, evitando assim a maçada de ir aos correios. É impossível não pensar em “hackers” ao ouvir isto.

Os suecos garantiram-me que desenvolveram o carro na Suécia e vão construi-lo na Bélgica, só mais tarde será feito na China e também usado para modelos locais. Uma coisa é certa, este XC40 pode saber falar chinês, mas o sotaque ainda é sueco.

Ficha técnica

Volvo XC40 D4 AWD
Motor Diesel de quatro cilindros, biturbo
Cilindrada 1969 cm3
Potência 190 Cv
Vel. Máx. 210 km/h
Aceleração 0-100 km/h 7,9 segundos
Consumo médio 5,1 l/100 km
Emissões CO2 135 g/km
Peso 1773 kg
Bagageira 460 l
Preço euros

Gama em Portugal
XC40 D4 AWD Momentum Auto – 52.121€
XC40 T5 AWD Momentum Auto – 51.484€
XC40 D5 AWD Auto – N.D.
XC40 T3 FWD Manual – 36.639€
XC40 D3 FWD Manual – 39.956€

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