Nunca viajamos sós

07/05/2018

Nunca viajamos sós. Uma viagem é um ritual de passagem que envolve muita gente, por vezes, pessoas que nem imaginamos que existem. A nossa viagem tem a particularidade de ter o objetivo de alcançar um determinado ponto, por estrada, conduzindo um Kia Soul EV 100% elétrico (gosto de repetir isto) e isto, faz toda a diferença.

Para nós, é impossível chegar a uma cidade, pegar num roteiro e visitar todas as referências turísticas da cidade. Assistir tranquilamente ao pôr-do-sol numa esplanada, visitar um parque ou fazer uma caminhada. Para isso, existem as viagens de fim-de-semana alargado, Pacotes turísticos a preços razoáveis e para todos os gostos, com mais ou menos estrelas, que fazem as delicias do turista convencional.

A nossa viagem, é uma prova de superação, um desafio, uma ação de sensibilização em prol da mobilidade elétrica. A ideia não é que as pessoas passem a viajar de veiculo elétrico, que façam longas etapas, não. Mas que é uma solução viável para o dia-a-dia, lá isso é!

Todos estamos de acordo que é urgente reduzir a emissão de dióxido de carbono, o famigerado gás “fantasma” também designado por C02. O Acordo de Paris é muito claro e muitas cidades europeias querem eliminar, a curto-prazo, das suas praças ruas e travessas, os automóveis de combustão convencional. Não vai ser fácil. Por outro lado, se me perguntar se a mobilidade elétrica é o futuro, a minha resposta, é perentória: não sei. Acho que ninguém sabe. Mas as vantagens de um veiculo elétrico no dia-a-dia estão comprovadas e o Soul EV é a prova disso.

No inicio desta prosa comecei por escrever que nunca viajamos sós. Como escreveu Agostinho da Silva, o dia da partida não é o dia em que começa; a viagem pode ter começado muito antes, e o fim da viagem até pode não acontecer, porque conhecemos pessoas que prolongam essa viagem, mesmo depois de chegarmos a casa.

De facto, já nos cruzamos e interagimos com pessoas fantásticas que prolongam a viagem para além do movimento em si. Recordo Peter, um holandês alto e fininho, uma daquelas pessoas que irradia tranquilidade. Num daqueles momentos em que precisávamos de carregar a bateria e não havia solução à vista, fomos parar a uma oficina de uma espécie de Automóvel Clube. Peter era o rececionista e, desde logo, disponibilizou o ponto de carregamento rápido da empresa, ofereceu-nos café, conversamos, e ainda carregamos os telemóveis.

Na Dinamarca, depois de termos passado por Copenhaga começamos a procurar hotel. A dificuldade não era encontrar hotel, a dificuldade era encontrar alojamento dentro do nosso orçamento diário. Copenhaga estava fora de questão. Encontramos o Vila Marina e indagamos se era possível carregar a bateria do carro. A resposta foi negativa. Não havia tomadas no Parque e além disso não tinha ordem superior para o fazer. Compreendemos e resignados fomos para o quarto.

Passado algum tempo, bateram à porta do nosso quarto. Já era quase meia-noite. Era Alexsandra Simanska, a rececionista do Vila Marina que nos trazia uma sugestão para carregar a bateria do carro. Na Dinamarca, existem alguns postes de iluminação publica, com tomada que serve, eventualmente, para uma urgência. Então, a Alexsandra deixou o colega na receção e teve o cuidado de andar na naquela pequena vila à procura de um desses postes. Encontrou um no outro lado da rua a cerca de 600 metros do nosso hotel e foi-nos dizer. Como se não bastasse ainda nos acompanhou até ao dito poste e vimos nos seus olhos que ficou extremamente feliz por nos ter ajudado. Alexsandra, já tinha estado em Portugal de férias, tinha adorado e, imagine, adorava ouvir falar português.

Já na Suécia, numa pequena e pitoresca vila chamada Granna formos abordados por um simpático casal com uma criança: portugueses. A Nélia, o José e o simpático Ricardo de 10 anos, que tem um cachorro chamado Faísca. Viram o Soul EV estacionado, consultaram a net e não quiseram deixar de dar o seu apoio pessoal à nossa iniciativa. Oriundos de Évora, vivem em Granna por razões profissionais de José que trabalha numa multinacional de logística. Sentem-se muito bem em Granna e carregaram-nos, carinhosamente, as baterias de incentivo e foi muito gratificante interagir com este simpático casal. Neste momento, estamos em Estocolmo.