Texto: António Eduardo Marques
“Qual é a autonomia disso?” é a frase que mais frequentemente ouço quando amigos e conhecidos sabem que tenho um carro elétrico. Sei também que é algo que preocupa mais quem não tem um EV do que quem conduz um diariamente, mas compreendo a pergunta. Até porque é algo que não se coloca quando falamos de veículos a combustão.
E, no entanto, também estes têm “autonomia” – o número de quilómetros que conseguimos percorrer com um depósito cheio de combustível – embora nunca tenhamos qualquer preocupação com ela. A diferença de autonomia entre um diesel que permite quase 1000 quilómetros com um depósito ou um citadino a gasolina que “só faz” 500 quilómetros é algo que nunca preocupou ninguém.
E a razão é simples: num carro a combustão, quando “entramos na reserva”, basta encontrar (sem que seja preciso procurar muito) uma estação de serviço e abastecer. Em poucos minutos, estamos prontos a seguir viagem.Ora é precisamente neste ponto que os veículos a combustão e os elétricos a bateria oferecem uma experiência de utilização bastante diferente.
Na minha experiência de condução de um VE, nunca senti verdadeiramente a chamada “ansiedade da autonomia”, muito embora as minhas circunstâncias sejam muito particulares: tenho um carregador no escritório e, mesmo quando não o posso usar, à minha volta existem, literalmente, dezenas de carregadores públicos, normais e rápidos.
No entanto, admito que sempre que tenho que sair da cidade a fazer uma viagem maior, programar o local onde irei (re)carregar o meu carro, um BMW i3 com uma pequena bateria de 27 kWh, provoca-me efetivamente alguma ansiedade. O carregador estará disponível? Estará a funcionar corretamente? E não estará um carro a combustão (mal) estacionado no local impedindo a sua utilização pelos VEs?
Os mais cínicos poderão dizer que, no final do dia, ansiedade da autonomia ou ansiedade do carregamento, acaba por ser a mesma coisa. Mas permitam-me que discorde. Porque a primeira só faz sentido se for insolúvel; e a segunda, que resolve o problema, é efetivamente solúvel… a prazo.
Por muito que digamos que “é preciso mudar o interruptor”, “pensar de forma diferente” e que “os VEs não se carregam, vão-se carregando” – de resto, tudo afirmações verdadeiras! – enquanto a rede de carregamento não for suficientemente grande e fiável, a autonomia continuará a ser uma métrica relevante.
Mas, e é aqui que quero chegar, sê-lo-á cada vez menos e consigo imaginar um futuro em que reabastecer um VE será tão simples como “encostar na bomba” e seguir viagem. Só ainda não chegámos lá – mas para lá caminhamos.
E, nessa altura, poderemos entrar no stand e selecionar o nosso próximo carro, elétrico, sem que seja necessário considerar qual o tamanho da bateria e quantos quilómetros podemos percorrer antes de a termos de “encher” novamente.