Recordo o Capitão Roby porque entendo que, numa altura em que tanto se fala de mobilidade sustentável, ele foi um pioneiro. A mobilidade foi sempre o seu modo de vida (até ser apanhado, é certo…), com vista à sua própria sustentabilidade. Como sabemos, de resto, mobilidade é uma palavra que soa diferente consoante os ouvidos. Os funcionários públicos, por exemplo, pegam logo na pistola sempre que a ouvem. A mim, apetece-me beber uma cerveja fresca e fazer-me, sem mais, à estrada. Mas a expressão, no seu uso atual, pretende explicar um conceito integrado de locomoção, onde o automóvel particular é relegado para segundo plano. Ou para plano nenhum.
Se a mobilidade é o caminho, a propriedade será o fim. Nem que venha, na maioria das vezes, apenas no final do empréstimo de uma vida. Ter ou não ter, já não é sequer a questão. Uma máxima que vale para automóveis, casas e amores. Vale para tudo. Não há melhor maneira de desfrutar de algo do que abdicar da pretensão de o ter.
O usufruto é a arte. Uma arte onde Capitão Roby ditou tendências há mais de 30 anos. Não imagino se o Opel Ascona seria dele ou se apenas o conduzia. O apartamento no 9º andar, destinado a visitas de última hora, sei que não era seu, mas sim arrendado. Mas como ele desfrutou dele, mesmo que nunca tenha pago a renda. Um génio que cedo entendeu que a posse pouco importa e que viveu apenas como proprietário de todas as vidas que inventou para si, de piloto a médico e a empresário. “Porque nada é tão perfeito como tu consegues imaginar. Porque nada é tão excitante como a fantasia”, escreveu Chuck Palahniuk, autor de “Fight Club”. Esquecendo a parte criminal, o Capitão Roby foi alguém muito à frente do seu tempo. Mas ninguém é perfeito. Exceto ele, como é óbvio.