Partir o telemóvel. O meu e o teu…

04/05/2019

Não sei se Conan Osiris é um génio criativo, um desvario lírico ou um navegador moderno de ondas efémeras. Mas, o que sei é que ele vai partir telemóveis. O meu e o teu. E, vai na volta, ele é que está certo.

Obviamente que esta não é uma crónica sobre a prestação mais ou menos polémica do candidato luso à glória no Festival Eurovisão da Canção, mas sim sobre a forma como o telemóvel está a tornar-se, muito rapidamente, numa autêntica praga ao volante, sendo hoje já uma das causas mais gritantes para o aumento da sinistralidade rodoviária. Apesar do gradual agravamento da moldura sancionatória quanto à utilização do telemóvel enquanto se conduz, ainda é prática comum encontrar condutores com o aparelho encostado ao ouvido.

Alguns ainda tentam disfarçar, com a mão fechadinha em concha junto à cabeça, fazendo por ocultar o aparelho, mas o esforço é inglório. Outros… Nem por isso, simplesemente arriscam com o telemóvel no ouvido. Mas, ao fazê-lo, ao mexer no aparelho ou, simplesmente, ao tirar uma mão do volante, arriscam a sua segurança e a de todos os outros utentes da via.

Falar ao telemóvel torna as reações do condutor mais lentas, além de desvirtuar a manobrabilidade do veículo e o problema é praticamente global. Só no ano passado, em Portugal, os dados estatísticos da Polícia de Segurança Pública (PSP) e da Guarda Nacional Republicana (GNR) apontam para um total de 39.276 autos de contraordenação passados a condutores apanhados a falar ao telemóvel (sem uso do auricular, entenda-se). Na prática, foram mais 2385 infrações em 2018, relativamente a 2017, num dado que causa preocupação e que pode ser muito bem uma das causas para o agravamento do número de mortes nas estradas.

Urge, pois, mudar comportamentos e as mentalidades de quem anda na estrada, para que percebam que o smartphone/telemóvel deve ficar para depois e que o mais importante é olhar e prestar atenção à estrada. Até porque hoje em dia um dispositivo do género faz muitas mais coisas do que meramente chamadas e esse é, à partida, o principal problema: as redes sociais, o imediatismo das coisas e o chamamento quase viciante do telemóvel fazem com que o telemóvel seja muito mais constante agora do que na época em que só faziam chamadas e recebiam mensagens SMS arcaicas. O problema é tanto mais graves nas gerações mais jovens, mas não se circunscreve apenas a esses.

E sim, é verdade que o telemóvel é um dispositivo fantástico de liberdade e de opções, tornando-nos livres de amarras físicas, mas ao mesmo tempo, torna-nos refém do que é imediato. Um telefonema antigamente teria de esperar por uma cabine telefónica disponível ou em funcionamento. Agora, está ali, à mão de semear. Fenomenal, mas ao mesmo tempo obliterante, quase, da nossa sanidade mental.

Peões também

Mas, também os peões têm culpa no cartório. O cenário é frequente: olhos enfiados no ecrã do aparelho, com os headphones postos e o mundo real em segundo plano. Ao ausentarem-se do mundo real, os peões incorrem precisamente no mesmo grau de distração dos condutores, com a agravante de saberem que a sua responsabilidade não é muita mais do que meramente andar e desviarem-se de postes no seu caminho. Não raras vezes também eles são causadores de acidentes, havendo também um aumento do número de atropelamentos que, certamente, não se deverá apenas ao maior número de carros ou aos condutores desvairados.

Vamos, pois, deixar o telemóvel de lado enquanto se conduz. Ou então corremos o risco de engrossar os cofres do Estado com o dinheiro de multas ou, pior, engrossar as listas de sinistralidade rodoviária. Mais vale partir o telemóvel. O meu e o teu. E já agora o do Conan.