No entanto, quando se circula numa via fundamental como a Segunda Circular, em Lisboa, não se compreendem algumas decisões tomadas ainda durante o mandato do anterior autarca, nomeadamente, o da redução do limite de velocidade de 80 km/h para 50 km/h em dois pequenos troços (mais concretamente, na Avenida Eusébio da Silva Ferreira), sendo que em ambos os sentidos há dois novos radares ‘XPTO’ que captam a velocidade de todos os automóveis com minúcia exemplar. Nessa mesma via ainda há outro local de redução de 80 para 60 km/h (junto à saída para o Bairro da Encarnação, junto a Sacavém) que, embora não tenha lá um radar fixo, acaba por ser ‘poiso’ habitual para um descaracterizado…
Ora, sem qualquer razão aparente, a redução de velocidade naqueles dois pontos revela aquela que é a total desadequação das condições da via à realidade dos automóveis na atualidade. Nunca os automóveis foram tão seguros e estáveis e, porém, os limites máximos de velocidade são reduzidos. Compreende-se esse facto dentro das grandes urbes, onde os peões e os outros meios suaves de deslocação devem ter prioridade, mas pouco cabimento tem quando uma estrada de três vias que é de 80 km/h de velocidade máxima passa, em poucas centenas de metros, para 50 km/h, gerando focos potenciais de colisão.
Entende-se que a ideia tenha sido a de reduzir a velocidade em dois locais de curva que, ao longo dos anos, têm gerado alguma sinistralidade, mas o problema nunca esteve em quem cumpria os 80 km/h de velocidade máxima anteriormente instituídos, mas sim em que se habilitava a passar por ali a 120 km/h ou mais, como se numa autoestrada estivesse. Ou seja, a ideia de que os acidentes aconteciam porque se circulava ali a 80 km/h é – lamento opinar assim – desprovida de qualquer sentido.
O que acontece agora é que se geram situações de travagem extemporânea que é potencialmente mais perigosa para quem ali circula. Isto porque nem todos os automobilistas abrandam – nas três vias de circulação – para os 60 km/h primeiro e para 50 km/h depois ao mesmo ritmo. Basta um condutor fazê-lo 20 metros antes que o automobilista que segue atrás e o tempo de reação deste é, desde logo, determinante. O mesmo sucede para quem segue atrás desse e assim por diante. Travagens bruscas passaram a ser comuns, tanto num sentido como no outro, paradoxalmente reduzindo-se a segurança de quem ali conduz.
A solução mais fácil seria repor o limite de velocidade do local para os 80 km/h, atendendo ao perfil da via. Basta ser-se honesto para se admitir que, como está, não faz qualquer sentido e contradiz o propósito com que se instalam radares.Mas essa não é a única incongruência em prol da aparente segurança rodoviária na capital. Na Avenida Calouste Gulbenkian está outro cenário estranho com um limite de 40 km/h a descer que é risível numa estrada com três vias de rodagem. Mas também se sabe que é aí que se encontra um local habitual de controlo de velocidade por parte das autoridades com veículos descaracterizados – a descer, já se sabe, ‘todos os santos ajudam’. Menos a pagar contas.
Mais ainda, correndo o risco de ser polémico, mas qualquer limite de velocidade fora das cidades que seja inferior a 60 km/h é praticamente inútil e despropositado. Um limite de 40 km/h de velocidade em locais longe das localidades e sem travessias de peões é um desperdício daquilo que se convencionou ser o automóvel.
Se os radares podem e devem cumprir uma missão de segurança rodoviária, o que deve ser feito, de igual forma, é um ajuste da velocidade em cada local àquela que seria a mais adequada. Ou seja, tornar as condições de circulação realistas e adequadas e não centradas num qualquer mundo que parou em 1970, quando um automóvel era bem menos seguro e estável do que hoje.
Mas também já não há ingenuidade para se achar que tudo se centra na mera noção de segurança rodoviária…