Os cânones de propulsão estão em mutação acelerada, motivada em grande parte pelos feitos da Tesla com os seus modelos, mas também se pode dizer o mesmo em termos de posicionamento no mercado, surgindo como uma alternativa às tradicionais marcas Premium. Não era tarefa fácil, mas a Tesla conseguiu sê-lo com veículos bem concebidos e eficientes.
Porém, nas últimas semanas, a Tesla foi também notícia pela sua cotação em bolsa e pelo facto de se ter tornado na marca automóvel mais valiosa dos Estados Unidos da América (EUA), suplantando a General Motors e a Ford com 51.54 mil milhões de dólares de avaliação. Mas, apesar de tudo, este facto traz consigo um problema: o medo de uma bolha especulativa. Isto porque, muito simplesmente, a Tesla tem um valor por ação que é superior a 300 dólares, tratando-se de uma companhia que, em termos automóveis, vendeu no primeiro trimestre deste ano 25.418 unidades, um recorde e um crescimento de 69% face a igual período do ano passado, mas os analistas preveem, ainda assim, uma quebra nos lucros. A este ritmo, note-se, a Tesla deverá ter uma produção em redor das 100.000 unidades em 2017, fazendo uma estimativa muito por alto. Atendendo a isto, valerá os tais 300 dólares por ação?
Olhando para o ano passado, a Tesla continuou a ter prejuízos (também se pode dizer que os mesmos se devem aos investimentos feitos na preparação para o futuro), enquanto a companhia de Mary Barra (GM) voltou aos lucros recorde. No entanto, paradoxalmente, não é tão valiosa quanto a Tesla.
Parece confuso, mas talvez exista uma explicação que… não explica tudo. No cerne dessa apreciação bolsista estão, sobretudo, aspirações e ideias do projeto de Musk, que reparte a sua atenção por setores como os dos transportes rodoviários, espaciais (SpaceX) e da energia solar (SolarCity). Não se pode contrariar a ideia de que a Tesla poderá vir a ser uma peça inigualável na nova visão dos transportes – elétricos, sustentáveis, autónomos e conectados – mas, o valor que lhe é incutido neste momento faz recordar os tempos anteriores à grande crise económica de 2008, quando a especulação era aceite de forma mais ou menos aberta.
O problema não está na marca, atente-se, que faz o seu caminho, mas sim na forma como é abordada por analistas e investidores, que apontam a sua crença de que a Tesla será enorme, um ‘game-changer’ industrial, para assim produzir um efeito de crescimento em bolsa. Face a isto, há quem aponte jogos de interesses financeiros para alavancar o potencial da companhia. E aqui reside um dos problemas…Um dos analistas de assuntos tecnológicos e colunista do The Verge, Walt Mossberg, escreveu no Twitter que a apreciação da marca em bolsa era irrealista: “Admiro a Tesla e @elonmusk, mas este é o enésimo exemplo de que o valor em bolsa não reflete a realidade”. Ou seja, mesmo na indústria parece aceite por muita gente que a Tesla não tem o valor que lhe é dedicado em bolsa, sendo alvo de uma bolha que vai enchendo, reconhecendo-se assim o facto de as cotações serem pouco fidedignas.
Os objetivos da companhia são ambiciosos: Musk quer vender 500.000 unidades já em 2018. Se leu a parte acima, terá visto que em 2017 deverão ser vendidos cerca de 100.000 carros. O que implicará um aumento substancial da sua capacidade de produção em pouco mais de um ano, algo que também levanta muitas questões.
Model 3 essencial
O Tesla Model 3 terá um papel fundamental na estratégia da marca, mas o seu sucesso parece garantido à partida, já que as reservas foram bastante numerosas, mas há aqui um outro ponto curioso em relação às vendas esperadas. O subsídio federal atribuído nos EUA para os elétricos é reduzido assim que um construtor vende 200.000 veículos, decrescendo faseadamente.
Além disso, mesmo quando se aponta a validade do conceito elétrico e de mobilidade da Tesla, importa notar que as companhias rivais não estão paradas na sombra: Daimler, Volkswagen, BMW, Toyota, Honda, General Motors, Hyundai e Ford, entre outras, além das proeminentes companhias chinesas, trabalham em novas soluções de mobilidade e de segurança que rivalizarão com a Tesla. A Volvo, por exemplo, terá com o seu novo XC60, já este ano, um modelo tremendamente seguro em termos de funcionalidades tecnológicas.
Resta saber como é que a Tesla vai lidar no futuro com esta responsabilidade de ser a marca mais valiosa dos Estados Unidos sem que tenha ainda os méritos de vendas para tal. O que parece evidente é que a apreciação da Tesla em bolsa se baseia na expectativa de futuro e não no presente. A própria sustentabilidade da Tesla depende de uma série de fatores e esta avaliação em bolsa pode trazer mais pressão do que boa sorte…