Um camião em cima de um comboio poupa muito

23/07/2024

Se nos pusermos a caminho da fronteira de Vilar Formoso, deslizamos por um tapete de autoestrada, na A25, sem sobressaltos. Entramos na A62 espanhola diretos a Salamanca a 119 km, passando ao lado de Ciudad Rodrigo onde no pico do verão tudo fecha à tarde para dormir a sesta, e o piso da estrada muda por completo. Há troços onde parece que se sente o atrito das unhas numa ardósia. Não pagamos portagens nesta autoestrada, logo que entramos em lado espanhol, e por aqui se veem matrículas portuguesas encarreiradas em camiões TIR de longo curso. O corrupio é grande.

 

Crónica de Bruno Mateus (Diretor do Motor24)

Não é difícil de imaginar o desgaste que provoca a passagem da camionagem por este alcatroado da região de Castela e Leão. Pior, só a poluição.

A logística da Europa quer ser mais rápida, segura e sustentável. E neste aspeto, uma rede ferroviária de transportes para escoar mercadorias é de elementar necessidade e uma parte fundamental da solução. Com benefícios ambientais à cabeça, o custo do transporte de comboio será tendencialmente mais barato, com a taxação dos combustíveis rodoviários, o que garante maior competitividade para as empresas.

Vê-se à passagem pelas fronteiras portuguesas que neste canto da Península Ibérica o transporte rodoviário tem uma utilização massiva – com a agravante de que ainda estamos longe da eletrificação da frota de camiões, ou do hidrogénio.

Entre Salamanca e Madrid a autoestrada melhora a qualidade do tapete. Curiosamente, já há um troço com portagem à entrada da capital, nestes 207 km, o que pressupõe que haja mais obras de manutenção. Pelo caminho entra-se primeiro num mesclado de matrículas portuguesas e espanholas e depois tendencialmente vão ficando as locais em larga maioria.

O que vem a seguir é que volta a suscitar curiosidade: entre o terminal madrileno de Abroñigal e o porto de Valência existe agora a nova “autopista ferroviária” que a partir de setembro vai assegurar o transporte em Espanha dos semirreboques com origem ou destino em Itália, com ligação marítima através de um navio de contentores.

Neste corredor espanhol o Motor24 já fez a primeira viagem com a transportadora de mercadorias portuguesa Medway, antiga CPCarga.

 

A partir de 2025, Portugal terá a primeira autoestrada ferroviária entre Elvas e o Entroncamento. O que se espera a seguir é que venha a ser possível que os semirreboques de camiões possam chegar de comboio a Portugal vindos de Valência. Por estrada, são 860 km passando por Madrid. Se a atual “autopista ferroviária” já vai tirar das estradas espanholas 18 mil camiões por ano a pouparem emissões poluentes e consumo de combustível, a extensão do percurso em terras portuguesas poderá aumentar substancialmente este número. O movimento dos camiões entre as estradas portuguesas e espanholas seria transposto em larga escala para uma autoestrada mais segura e sustentável do que as rodovias atuais.