O sexto Encontro Nacional de Veículos Elétricos, teve lugar junto ao Estádio Municipal Magalhães Pessoa, em Leiria.
Vinha num Nissan Leaf 2.0 preto, que imediatamente se conectou num do postos de carregamento rápido. “O carro do ministro tem que carregar já”, ouviu-se.
A pressa em carregar as baterias do Leaf contrastou com a calma do seu discurso de abertura do ENVE, sempre acompanhado pelo Presidente de Câmara de Leiria, Raul Castro, e por Henrique Sánchez, Presidente da Associação UVE.
Sabemos que os discursos dos políticos apresentam verdades muito relativas, mas este, admito, fez as cruzes nos sítios certos. Como a meta de país neutro nas emissões de carbono em 2050 e com a mudança de mentalidades implícita.
Falando do excelente trabalho da Associação UVE na defesa e divulgação dos veículos elétricos, João Pedro Fernandes referiu que o seu papel não pode ser idêntico ao das associações de automóveis clássicos.Está naturalmente incluída a dependência constante do automóvel para quase todas as deslocações das nossas vidas. Os transportes públicos nunca vão satisfazer completamente as necessidades individuais dos cidadãos, pela sua natureza colectiva. Cabe-nos fazer a nossa parte, andando a pé, de bicicleta, ou partilhando soluções de mobilidade, como o car-sharing.
Após uma pequena, mas necessária, diatribe sobre as vantagens dos veículos elétricos, a deslocalização de emissões e a prestação das energias renováveis nos últimos meses em Portugal — 60% da energia produzida — e eis que o Ministro surpreende com uma comparação inesperada.
Comparação inesperada
Falando do trabalho da UVE na divulgação dos veículos elétricos, o Ministro referiu que o seu papel não pode ser idêntico ao das associações de automóveis clássicos. “Aqueles automóveis muito bonitos, os MG B, por exemplo, que gostamos de ver na rua. Essas associações são muito interessantes, mas permanecem de nicho. A associação dos veículos elétricos terá um alcance muito maior”, referiu o governante.
A ligação surpreende, mas registei com agrado a simpatia que dirigiu aos clássicos. Todavia, também me fez pensar que, atualmente, as semelhanças entre o movimento dos elétricos e dos clássicos são significativas.
A comunidade dos utilizadores de veículos elétricos é, de facto, ainda muito pequena em Portugal. Não por falta de entusiasmo, porque todos os membros desta comunidade transbordam paixão pelo tema.
A vontade de “converter mais um” e de espalhar o evangelho segundo São Musk é inabalável. Também aqui o paralelismo com outros “cultos” é flagrante, mesmo que este apresente um conjunto de argumentos objetivos e racionais acima da média.
Ganhar volume é imperativo
Este foi o primeiro ENVE em que participámos — fizemos 250 km de BMWi3 94Ah, em duas viagens impecáveis — e todos nos disseram que foi o melhor e o maior.
Para nós foi uma experiência interessante podermos contactar diretamente os profissionais e entusiastas e acompanhar de perto o admirável trabalho da UVE.
Mas o desejo de que os EV cresçam acima de um fenómeno de nicho, está longe de se concretizar.
E a culpa nem é da reduzida oferta de veículos elétricos no mercado nem do seu custo inicial. Como ficou bem patente nos fora e de discussão do evento, a rede de carregamentos é o principal obstáculo a vencer.
E essa é uma responsabilidade política e não dos utilizadores. Se aqui chegámos foi graças ao seu espírito pioneiro e de entreajuda.
Bem sei que, mais cedo ou mais tarde, lá chegaremos. E já não é mau as ideias de quem pode estarem alinhadas com as de quem precisa.
Mas estamos num momento decisivo, que exige ações concretas. Incluindo investimento e fiscalização das entidades privadas que assumiram responsabilidades para com o Estado e os utilizadores de EV.