Velocidade muito pouco furiosa

03/05/2018

Não há nada mais honroso para um entusiasta dos automóveis do que tentar fazer passar o seu carro por um modelo muito mais potente. O nome técnico é tuning (com um ‘n’ apenas, por favor) e quem nunca pensou nisso que atire a primeira pedra. Aqui o escriba também já foi jovem e foi um ‘tuner’. Não muito sério, mas seja como for, o melhor é não pensar em demasia no desperdício de dinheiro…

Como muitas das histórias romanceadas, tudo nasceu no escurinho do cinema. Mas não foi um romance de carne e osso. Foi uma coisa mais… ‘mecânica’. O primeiro Velocidade Furiosa aparecia no cinema e alterou – de forma decidida – a forma como se abordavam as transformações automóveis. O tuning, se lhe quisermos chamar de forma mais exata. Nada era mais excitante para um apaixonado do que ver aquelas máquinas reluzentes a cuspirem labaredas, cores garridas misturadas com gráficos barrocos nas portas e carroçaria e muita fibra nos para-choques e ailerons de grandes dimensões.

Já antes havia muito gosto pelas transformações automóveis, pelo que se acumulavam muitas revistas da especialidade lá por casa, sobretudo espanholas, país onde o tuning ganhou importância muito mais cedo do que em Portugal.

Porém, o Velocidade Furiosa, com os seus Honda Civic Coupé pretos, o Mitsubishi Eclipse verde, o Toyota Supra laranja e o Volkswagen Jetta (Vento) branco, entre outros, mostraram aquilo que era feito no lado de lá do Atlântico. E depois, passou para aqui, ora feito com qualidade, ora feito com alguma… parolice.

Enfim, nada melhor, também, do que um filme do tuning para acicatar as jovens mentes sequiosas de ideias. Enfim, assim nasceram muitas ideias para aquele que foi um dos outros carros lá de casa – juntamente com o Vento vagaroso que servia para as deslocações principais -, o Civic ESI de quatro portas que – meus amigos – era um portentoso modelo com motor 1.6 de 125 CV.

Porém, nada que um para-choques desportivo em fibra, umas jantes maiores (de 15 polegadas, que aqui gostávamos todos de andar legais…), suspensão rebaixada e um aileron que… variava entre a vergonha alheia e o orgulho da jovialidade irreverente, não transformasse num portento com… 125 CV! Ou seja, não ganhava nada em potência, embora houvesse espaço para uma admissão de ar no motor.

A fase do tuning ainda durou uns tempos e, felizmente, nunca passou disto. Contudo, alguns meliantes entenderam que a questão do aileron era muito desadequada ao carro e assim, numa manhã de verão, descobri que o mesmo tinha sido roubado. Assim mesmo, à porta de casa, sem qualquer pudor! Meliantes que, por certo, queriam também sentir alguma daquela vergonha alheia.

Uma chatice para mim, que fiquei a lamentar os euros gastos naquela maravilhosa peça, surripiada pela madrugada dentro. Depois, ainda não satisfeito, coloquei um outro, este inspirado no do Subaru Impreza, mais discreto e simpático, vá. Que nunca me foi levado por qualquer ‘rabanada’ de vento maldosa…

O Civic manteve-se na minha posse durante mais uns anos, sempre lado a lado com o Volkswagen Vento 1.4 da família, servindo-me para recordar o quão mais lento era a máquina alemã com os seus 55 CV. Mas ambos tinham um carácter único: a simplicidade nipónica contra a robustez de construção alemã. Aquele motor 1.6 do ESI ainda hoje se mantém como um dos mais interessantes daquela época, pela sua fogosidade e pela sua ‘fome’ de rotações.

Infelizmente, não tenho muitas fotos da ‘máquina’ da época, mas a imagem ali em cima é representativa do modelo em questão. Até a cor é a mesma…