Ricardo Moura vence Rali Serras de Fafe

Um duelo empolgante, emotivo até ao derradeiro metro protagonizado pelos dois pilotos que mostraram andamento mais forte e consistente que os restantes marcou o Rali Serras de Fafe, prova que teve a classificação alterada muito tempo após o final da prova

A penalização de 10 segundos aplicada a Miguel Barbosa, por alegada partida antecipada na classificativa noturna no centro de Fafe, ampliou, na secretaria, a diferença registada após o derradeiro controlo do Rali Serras de Fafe, prova inaugural do Campeonato de Portugal de Ralis. Por sua vez, Pedro Meireles, alvo de idêntica sanção, perdeu o 3.º lugar a favor de José Pedro Fontes. Uma decisão dada a conhecer fora de horas, uma vez que a infração fora cometida na véspera à noite; ou seja, os pilotos correram riscos, no fundo desnecessários, ao longo de metade do rali…

Todavia, a sanção aplicada em nada retira brilho, longe disso, ao duelo travado nas especiais. No final, a dupla Ricardo Moura/António Costa (Ford Fiesta) fez a festa que escapara nos dois últimos anos, marcados por problemas mecânicos quando o triunfo parecia estar tão perto.

Teve, de algum modo, sabor a desforra este triunfo, – o 2.º do açoriano na prova do Demoporto, após o êxito de 2015 – alcançado por escassa margem: 1,7 segundos, ou seja, a 5.ª menor diferença registada, na estrada, na história do campeonato.

Ricardo Moura levou o seu Fiesta à vitória, a segunda do piloto açoriano nesta prova

As trocas na liderança, a luta que chegou a ser ao décimo de segundo e o mesmo tempo rubricado, ex aecquo, por ambos na decisiva classificativa – Gontim-2 (6,77 km) – traduzem de modo iniludível a intensidade emotiva do despique: “Após dois anos muito difíceis para nós, aqui, em que demonstrámos rapidez, é um orgulho muito grande festejar esta vitória com fantástica equipa da ARC”, sublinhou Ricardo Moura, no final, ao Motor 24.

Com palavras elogiosas para o adversário, que “fez uma excelente prova. Ainda bem que o açoriano apareceu por aqui, se não o Miguel (Barbosa) tinha andado por aí a gerir o andamento” -, o piloto de Ponta Delgada confessou “não saber o que fazer mais, em muitos sítios, para ir buscar um décimo de segundo com este Fiesta”.

A diferença de competitividade, que se subentende das palavras de Moura, reforça a atuação imaculada do açoriano. “O carro não tem uma amolgadela”, acrescentou.

Para Miguel Barbosa, que passou pela liderança por várias vezes, foi como “morrer na praia”. O piloto do Skoda, que acabou por fazer boa operação em termos de campeonato, uma vez que Moura adiantou não ter programa com mais provas, expressou sentimentos contraditórios – “triste por perder por tão pouco”, mas otimista, quanto ao que se segue: “Há que retirar a parte positiva; temos margem para trabalhar e evoluir. Foi um grande espetáculo”.

De facto, as classificativas, cujo piso muito deteriorado, consequência de incontáveis passagens, que criam sulcos bastante profundos, foi alvo de muitas críticas por parte de vários pilotos e navegadores, estiveram, uma vez mais, emolduradas por milhares de espetadores.

Uma enchente, de resto, anunciada logo na manhã de sábado, com a afluência ao parque de assistência, bem montado em pleno centro de Fafe, onde não faltaram muitas caras conhecidas dos ralis de outros tempos.

É um rali muito especial, até no estendido programa, que faz arrastar a prova no tempo, fator agravado pelas eventuais paragens e neutralizações, ainda que haja razões atendíveis por compromisso com as autarquias.

Com programa completo para esta temporada, Pedro Meireles cedo ficou arredado da luta pela vitória e foi, gradualmente, perdendo terreno. “Tenho especificações de diferenciais diferentes do ano passado e faltam quilómetros de testes”, justificou o piloto do Skoda, que podia ter começado a época com um pódio, não fosse a penalização aplicada a destempo.

Bom regresso, apesar das naturais limitações de ordem física, de José Pedro Fontes. A subida gradual de rendimento, após “uma entrada cautelosa, a ver como reagíamos, só forçando nos troços da noite» valeu ao piloto do Citroën DS3 um encorajante (e inesperado) 3.º lugar neste rali em que Ricardo Teodósio (Skoda Fabia) não teve sorte – tirante da direção partido ditou desistência logo em Luilhas-1-, aproveitando o piloto algarvio o regresso em Super Rally para testar novas afinações.

Também o regressado Joaquim Alves, ausente desde o Vinho da Madeira do ano passado, foi pouco feliz: quando tudo corria de acordo com as expectativas, “sem arriscar, a ganhar ritmo e confiança depois de tanto tempo parado”, aparatoso despiste em Ruivães/Confurco-1 colocou o piloto de Cesar fora de prova, “com o físico em bom estado, mas a alma destroçada”.

Elias Barros (Ford Fiesta) e o regressado José Carlos Macedo, com outro dos Ford Fiesta da família Barros, estiveram pouco tempo em cena no primeiro dia, desistindo na sequência de despistes, logo em Lameirinha-1.

José Carlos Macedo fraturou vértebra

O antigo piloto da Renault Portuguesa, que fez dupla com Luís Lisboa, esteve no centro de muitas das atenções, o que conferiu, por momentos, uma atmosfera revivalista, particularmente grisalha, ao espaço da Speedy Motorsport.

O pior aconteceu na manhã de domingo: a receção após o salto de Ruivães/Confurco correu menos bem para o piloto de Braga. Muito queixoso, foi conduzido ao hospital de Guimarães, onde lhe foi diagnosticada a fratura da 3.ª vértebra lombar. Após uma noite internado, José Carlos Macedo teve alta.

Para João Barros (7.º lugar), problemas elétricos no primeiro dia e “sem conseguir o ritmo que desejava” revelaram-se contrariedades não ultrapassadas na segunda metade do rali. “Não é o meu dia”, confessou, com espontaneidade, o piloto do Ford Fiesta.

Apesar de problemas de travões e do motor que foi abaixo por duas vezes, no dia inicial, Paulo Meireles (Hyundai i20) voltou a ter atuação positiva (8.º lugar) neste regresso esporádico à competição.

Pedro Antunes domina 2 RM

Nas duas rodas motrizes (2RM), o campeão em título Pedro Antunes, com Jorge Gonçalves, dominou o duelo entre os Peugeot 208 R2, justificando em absoluto os galões que ostenta.

A diferença – 1,31 minutos – para Daniel Nunes/Rui Raimundo ilustra o desempenho do jovem piloto de Torres Vedras, valor emergente da nova geração. Paulo Neto/Vítor Hugo (Citroen DS3 R3 Max) completaram o pódio.

No Campeonato Norte, mandaram os Mitsubishii: a dupla Fernando Peres/José Pedro Silva (Lancer Evo IX) impôs-se por 12,6 segundos a Carlos Fernandes/Valter Cardoso (Lancer Evo VI) e por 57,1 segundos face a Márcio Marreiros/Rui Serra (Lancer Evo IX).

A dupla André Ferreira/Gonçalo Dias (Peugeot 208) impôs-se entre os carros de duas rodas motrizes.

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