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A única corrida disputada durante a Segunda Guerra Mundial

A década de 1930 ficou marcada pelo domínio dos 'Flechas de Prata', como o Mercedes-Benz das imagens.
A equipa Mercedes-Benz ainda em 1938: da esquerda para a direita, Manfred von Brauchitsch, Alfred Neubauer (de fato), Richard Seaman, Hermann Lang e Rudolf Caracciola.
Sem cinto de segurança, mas com toda a garra: Tazio Nuvolari com o Auto Union Type D de 12 cilindros.
Tazio Nuvolari celebrando mais um dos seus triunfos.

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O ano de 1939 fica marcado nos livros de História como o do início daquele que ficou conhecido como um dos maiores conflitos bélicos de sempre, a Segunda Guerra Mundial (o epíteto Grande Guerra ficou reservado para a Primeira, entre 1914 e 1918). Mas, no âmbito do automobilismo, existe a curiosidade de ter existido uma derradeira corrida antes de o mundo se fechar nas ‘trevas’ da guerra, uma vez mais. Esta foi também a única corrida realizada no período da Segunda Guerra Mundial…

Chamando muita atenção do público local, o Grande Prémio de Belgrado teve lugar a 3 de setembro de 1939, precisamente no dealbar da Segunda Guerra Mundial, que teve início no primeiro dia daquele mês com a invasão da Polónia pela Alemanha (com as subsequentes declarações de guerra de França e Reino Unido).

Mas, apesar do ambiente tenso em Belgrado, ouviam-se ainda os motores e não os disparos. Apenas cinco carros participaram na corrida (dos 12 participantes inicialmente inscritos), quatro deles de marcas alemãs e um único ‘independente’ do piloto local Boško Milenović, com um Bugatti Type 51, mas sem argumentos para os dois Auto Union e para os dois Mercedes-Benz.

Tanto os Maserati como os Alfa Romeo renunciaram à corrida e os pilotos britânicos nunca chegaram, alegando preocupações com a sua segurança. De Itália, o genial Tazio Nuvolari, como Enzo Ferrari tantas vezes o apelidara antes, apenas conseguiu viagem depois de as autoridades alemãs intercederem em favor do mesmo, já que Itália havia decretado a proibição de saída do país.

Era, portanto, uma luta a quatro no circuito repleto de irregularidades no piso e com apenas 2.794 metros de comprimento por volta: Nuvolari e Hermann Müller (Auto Union) contra Manfred von Brauchitsch e Hermann Lang (Mercedes-Benz). Se todos eles tiveram problemas no pavimento empedrado das ruas de Belgrado, acabou por ser o italiano a levar a melhor, cumprindo as 50 voltas da corrida em 1h04m03,8 segundos a uma velocidade média de 136 km/h. Von Brauchitsch ficou em segundo, a cerca de oito segundos e Müller foi o terceiro, enquanto Milenović terminou em quarto, mas a longínquas 19 voltas do vencedor.

Tão ou mais importante do que a corrida foram as ‘estórias’ paralelas – além da já referida viagem de Nuvolari (que chegou um dia atrasado), ficaram também para os livros a atitude de von Brauchitsch que, ao saber da guerra, quis regressar no domingo para o seu país, chegando mesmo a estar perto do embarque num voo da Lufthansa antes de ser ‘resgatado’ de novo para a corrida por Alfred Neubauer, diretor da Mercedes-Benz. Ou, ainda, o facto de tudo ter permanecido relativamente inalterado durante o Grande Prémio. Findo o evento, no regresso à Alemanha, máquinas e pilotos passaram a pertencer ao esforço de guerra. Para a Auto Union, foi a vitória final da sua história.

Nota, ainda, para a história de Milenović: o piloto nascido no Império Austro-Húngaro perdeu toda a sua fortuna na sequência de um bombardeamento em abril de 1941, em pleno decurso da Segunda Guerra Mundial. Aos 44 anos, sem nunca conseguir restabelecer-se financeiramente, coloca um ponto final na sua vida, em março de 1955.