Adrian Newey: O ‘mágico’ por detrás de muitos triunfos na Fórmula 1
26/12/2018
Numa época em que as equipas independentes tinham um papel de primeira linha das corridas de Fórmula 1, Newey começou por marcar um forte impacto com o seu primeiro projeto, na March, em 1988, com um monolugar equipado com motor Judd e que, apesar de não ter os mesmos recursos que as equipas de ponta, terminou em segundo no GP de Portugal desse ano, com Ivan Capelli a ficar apenas atrás do McLaren de Alain Prost. Em 1990, outro segundo lugar numa corrida de antologia de Capelli no GP de França, aqui já com um Leyton House CG901B (na foto), que havia adquirido a March antes do início da temporada.
Depois da March/Leyton House, de onde foi despedido em meados de 1990, Newey mudou-se para a Williams, onde o seu trabalho começou a progredir no sentido de fabricar alguns dos monolugares mais eficazes da F1. Verdadeiramente bestial, o FW14b, de 1992, foi uma evolução de um monolugar que em 1991 já deu grandes dores de cabeça a Ayrton Senna (McLaren), valendo-se da competência da suspensão ativa para dominar a temporada com Nigel Mansell (campeão do mundo) e Riccardo Patrese. Foram os primeiros títulos de Newey e de Mansell.
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No ano seguinte, com Mansell a rumar aos Estados Unidos para competir na Fórmula Indy (e vencer o campeonato), a Williams chamou um veterano de luxo: Alain Prost. O gaulês viria a ganhar o seu quarto e derradeiro título mundial de Fórmula 1 com um monolugar extremamente competente, embora longe do domínio de 1992. Ainda assim, mais uma prova da sabedoria de Newey e do seu domínio na área da aerodinâmica e engenharia.
A ‘besta negra’ na carreira de Newey também está na Williams. Em 1994, foi a vez de Ayrton Senna rumar à equipa britânica, assumindo o lugar que era de Prost. Depois de anos de avanços nas tecnologias de assistência à condução, como a suspensão ativa, aquele ano era um retrocesso nesse aspeto. Queixando-se sempre do comportamento do seu carro, o FW16, o piloto brasileiro abandonou nas duas primeiras corridas de 1994 (Brasil e Pacífico) e chegava a Imola, para o GP de São Marino, convicto de que o campeonato ‘começava ali’. A história, como se sabe, foi outra e teve contornos trágicos. O título ficou para Michael Schumacher, mas a Williams lutou até final com Damon Hill.
Depois da Williams, a carreira de Newey progrediu na rival McLaren, equipa na qual repetiu a tarefa prodigiosa de desenvolver um carro dominador. Em 1998, no segundo ano com a McLaren, o MP4/13 chegou a Adelaide, para o GP da Austrália, com o epíteto de favorito, mas poucos seriam capazes de augurar tamanha vantagem, sobretudo perante o binómio Ferrari/Michael Schumacher que haviam terminado a época de 1997 na luta pelo triunfo. Na corrida australiana, Mika Hakkinen e David Coulthard deram uma volta a todos os outros pilotos e, apesar do desafio posterior de Schumacher, Hakkinen viria mesmo a sagrar-se campeão. Repetiu em 1999.
De 2000 até 2004, o domínio pertenceu a Michael Schumacher e à Ferrari e de 2005 a 2006 foi a vez de Fernando Alonso e da Renault liderarem os acontecimentos. Nessa fase, Newey passou para a Red Bull, com o seu primeiro projeto vitorioso a ser o monolugar de 2009, época em que a modalidade sofreu uma grande revolução aerodinâmica e técnica, com a introdução pela primeira vez de sistemas híbridos. Boas prestações de Mark Webber e Sebastian Vettel levaram a equipa a terminar o Mundial de Construtores em segundo, atrás dos surpreendentes Brawn GP. Jenson Button venceu o campeonato.
Em 2010 chegou o primeiro título de Newey ao serviço da Red Bull. Tornou-se também no único projetista a vencer títulos mundiais de construtores com três equipas distintas (Williams, McLaren e Red Bull). Numa temporada em que Webber e Vettel foram figuras maiores, coube a este último a distinção máxima ao bater no GP de Abu Dhabi, prova final da temporada, Webber e Fernando Alonso (Ferrari). A supremacia do design de Newey fica ainda patente nas 15 pole positions conquistadas em 19 possíveis naquela época.
2011, 2012 e 2013 (na foto): Em três anos, mais três títulos para Sebastian Vettel com os Red Bull projetados por Adrian Newey, confirmando a sua supremacia nesse capítulo. De 2014 em diante, com as novas regras técnicas a imporem forte componente híbrida, a Mercedes-AMG tem dominado, embora a competência dos chassis da Red Bull tenha permitido aos seus pilotos manterem-se na contenda pelos lugares cimeiros.
Nem só de carros de F1 vive o engenho de Newey. Para o projeto Vision Gran Turismo, no qual os construtores e projetistas são desafiados a imaginarem carros de competição sem restrições técnicas, Newey também deu um 'ar da sua graça'. Dessa forma, o jogo Gran Turismo 5 contou com aquele que era um monolugar coberto de excelência máxima, o X2010 (na foto) sem limites aerodinâmicos e técnicos. Em 2011, surgiria uma evolução, o X2011, mais radical ainda.
Um dos seus objetivos foi sempre o de passar alguns dos seus conhecimentos para os carros de estrada e o seu sonho foi cumprido em 2017 com o anúncio por parte da Aston Martin de que iria encetar uma parceria com a Red Bull Engineering para o desenvolvimento de um hiperdesportivo radical com prestações de luxo e bastante exclusivo. O Valkyrie, como viria a ficar conhecido, continua a evoluir no seu design para apresentação mais tarde em 2019.
Na prática, o Aston Martin Valkyrie assume os contornos de um monolugar de Fórmula 1 carenado, com trabalho aerodinâmico de elevadíssimo gabarito. Aliás, o fundo do veículo é perfeitamente esculpido para gerar o máximo de carga aerodinâmica em velocidades altas.
O sucesso nas pistas de Fórmula 1 é muitas vezes imputado apenas aos pilotos, mas aos engenheiros e técnicos de cada equipa é reservada uma grande fatia responsabilidade nos triunfos (ou da falta deles…) de cada época.
Indubitavelmente, Adrian Newey é um dos engenheiros que mais carros de sucesso tem no seu currículo. E, também, uma besta negra.
Adrian Newey tem um longo historial na Fórmula 1, passando por diversas equipas de renome e conquistando o título em três formações diferentes: Williams, McLaren e Red Bull, pela qual se mantém ainda. Nascido a 26 de dezembro de 1958, o engenheiro e técnico britânico cumpre 60 anos e, nesses, contam-se muitos exemplares de sucesso.
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