Ao volante do Peugeot 208 Rally 4: Parece fácil… nas mãos de um piloto

A estrutura oficial da Peugeot levou a cabo a apresentação oficial do novo 208 Rally 4 no Norte de Portugal, aproveitando os troços sinuosos da zona de Fafe, mais concretamente da Senhora do Viso, como ‘base’, deixando também diversos pilotos passar pelo volante para poderem sentir as novidades deste modelo de competição que dará corpo à edição 2020 da Peugeot Rally Cup Ibérica, organizada pela Sports & You. Além dos mais experientes, houve tempo também para alguns ‘wannabes’ com relativamente pouca experiência em carros de ralis, como era o caso deste escriba.

A oportunidade, porém, única e intransmissível, era difícil de rejeitar e, passados dez minutos no local, estava já de fato vestido e capacete posto, pronto para entrar no lugar do piloto. Presentes no local, duas unidades do 208 Rally 4 faziam tarefas distintas – uma servia de unidade de ensaios para os presentes e a outra para o piloto espanhol Efren Llarena, campeão europeu na categoria FIA ERC3, levar a cabo co-drives e prosseguir também o desenvolvimento do carro francês.

Tudo pronto. Esgueirando-me para o interior do carro, encaixado na bacquet de competição e ‘amarrado’ pelo cinto de segurança de cinco pontos, é tempo de prestar atenção às explicações de um dos responsáveis da equipa, que simpaticamente ditou os principais assuntos: “Este é o botão de corrente e tens de o pressionar primeiro para depois poderes ligar o motor. Aqui é a caixa sequencial, empurrando para a frente reduzes, empurrando para ti sobes uma mudança. Para engrenar marcha-atrás tens de pressionar em cima. Embraiagem usas só no arranque, depois não precisas. Aqui é o botão que altera a gestão do motor entre troço e estrada aberta. Alguma dúvida?”.

Naturalmente que as dúvidas só aparecem na prática, um pouco como os testes de faculdade. De seguida, entra a navegadora, a igualmente campeã Sara Fernández, que usualmente dita as notas para Llarena, mas que desta feita teve a pouca sorte de ter ao volante um entendido da Playstation. Repete algumas explicações e dá o aval para a partida. A direção é pesada, mas tem o feedback essencial para a pilotagem em troços de rali e a sonoridade já clama por notas mais altas do acelerador. Tudo pronto. Ou quase…

Primeiro e único desafio ao sair do ‘parque de assistência’: não deixar o carro ir abaixo. Enquanto a mente repetia ‘não vás abaixo, não vás abaixo’, o motor cala-se ao rodar o volante. ‘Dá mais gás’, afirma Fernández. O pedal da embraiagem não é pesado, mas exige acelerações constantes e mais fortes para manter o motor ‘vivo’. O segundo desafio era trazer o carro e os ocupantes sãos e salvos, claro.

Pronto para um pequeno troço com cerca de quatro quilómetros, asfaltado, estreito e muito sinuoso, percebo rapidamente duas coisas. Em primeiro lugar: que não consigo ver bem a estrada, já que a bacquet vai baixinha, o que complica as coisas e, em segundo, tudo se processa muito depressa. As primeiras curvas são feitas algo a medo e percebo que tenho de confiar cegamente nas notas ditadas por Fernández, rápidas e cantadas em castelhano.

Reativo, o 208 Rally 4 sente-se leve e dançante, subindo de velocidade rapidamente. Direção precisa e seletor de mudanças SADEV que obriga a determinação na engrenagem, o mesmo se podendo dizer do pedal do travão. Há que atacá-lo com mais afinco do que numa qualquer tarde de Segunda Circular, em Lisboa. Exige garra. O motor turbo não denota qualquer sinal de ‘lag’ e é rápido a subir de regime graças aos seus 208 CV (mas com sensação de mais alma), ecoando sonoridade rouca pela serra. O acerto do chassis é firme, como convém, e evidencia grande rigidez em curva. À passagem por zona de lama no asfalto, a traseira desliza ligeiramente, mas a motricidade elevada recoloca tudo no caminho certo.

Quase sem dar por isso, chega o momento de dar a volta para fazer o percurso até ao início, mas perdendo-se a nota na tradução, acabo por preferir fazer inversão de marcha de três pontos. Por certo que a navegadora, habituada a muita mais adrenalina, não terá ficado impressionada por aí além. Mas sempre foi melhor jogar pelo seguro do que ficar a conhecer alguma pedra de forma mais íntima. Afinal, era também a primeira vez que passava, sequer, pela zona.

No caminho de regresso, arrisco um pouco mais e sinto de forma mais intensa os 208 CV do motor 1.2 sobrealimentado, que ‘ruge’ em eco pela serra. Depressa, muito depressa, chegamos ao local de partida e ligo, novamente, o modo de ‘estrada’, embora com a certeza de que poderia fazer aquilo a tarde toda.

Saído do lugar do piloto, passei para o carro do lado, no qual Llarena mostrou, de facto, o que é pilotar o 208 Rally 4. Empenhado, o carro que me parecia leve e dançante, era efetivamente uma máquina de competição bastante intensa, saltando de curva em curva com velocidade excitante. Na bifurcação onde preferi fazer inversão de marcha à ‘medroso’, o campeão espanhol atira o Peugeot com o travão de mão, numa rotação prefeita, acelerando rapidamente serra acima. De facto, estive no lugar do piloto, mas não pilotei, tentei pilotar, naquela que foi uma experiência impressionante, servindo para comprovar as credenciais competitivas deste novo 208 Rally 4 na certeza de que os seus pilotos terão aqui um carro que obriga já à exponenciação do talento.