O circuito de Portimão, no Algarve, recebe a segunda ronda do Campeonato do Mundo de Endurance (WEC), as 6 Horas de Portimão, na qual irão estar em pista 37 carros e 111 pilotos de diferentes nacionalidades, numa panóplia que inclui campeões do mundo da disciplina, mas também da Fórmula 1 e da Fórmula E, jovens promessas e gentlemen drivers. A luta pelo triunfo nos Hypercars promete ser renhida naquela que é conhecida como a ‘montanha-russa’ do Algarve.

Após a primeira prova em Sebring, que ficou marcada por uma ‘dobradinha’ da Toyota, os carros do Mundial de Endurance rumam ao Sul de Portugal, mais concretamente ao AIA para a segunda ronda, na qual voltam a estar em contenda sete construtores na classe principal Hypercar, com a marca japonesa a surgir, de forma natural, como o ‘alvo a abater’ pela concorrência, que envolve Cadillac, Glickenhaus, Ferrari, Peugeot, Porsche e Vanwall.

Na prova de abertura da temporada, a Ferrari, que está de regresso a título oficial às competições de resistência após 50 anos de ausência, surpreendeu com a pole position, mas o resultado final da corrida demonstrou que a Toyota se apresentou ainda em melhor forma, dando continuidade a um domínio que tinha vindo a exercer nos últimos anos.

Agora, a grande incógnita é saber se a Gazoo Racing Toyota irá conseguir manter a superioridade num circuito mais convencional e longe das irregularidades do asfalto de Sebring, ou se as rivais se irão aproximar, com a Ferrari, Porsche e Cadillac a assumirem-se como as principais rivais, na medida em que a Peugeot aparenta ter ainda algum trabalho a fazer até lutar pelos triunfos, enquanto a Glickenhaus e Vanwall não contam com os mesmos recursos das fabricantes de ponta.

Resumo da matéria dada: as classes

Para dar nova vida às corridas de resistência, a Federação Internacional do Automóvel (FIA) e o Automobile Club de l’Ouest (ACO) lançaram as bases da classe Hypercar em 2018, a nova categoria de topo do WEC. Depois de vários anos com os LMP1, houve uma mudança de filosofia, para conter a escala de custos, promover uma grande variedade em termos técnicos e assegurar igualdade de performance dos carros.

Nasceram, assim, as classes LMH e LMDh. Como ideia base, a vontade de controlar a performance em vez de restrições de design, geometria ou aerodinâmica. Permitir aos construtores escolher vias tecnológicas diversas, tentando o regulamento que as marcas pudessem dar aos protótipos de competição uma imagem ligada aos modelos de produção. Ao mesmo tempo, ser uma montra para as vias de desenvolvimento tecnológico que os construtores estão a seguir. Por exemplo, ao nível de motorizações, atmosféricas ou híbridas, onde não há limites de cilindros e cilindrada, podendo a potência ser passada aos dois eixos (LMH) ou apenas ao posterior (LMH e LMDh).

Para manter os níveis de performance o mais próximos possível, a FIA e o ACO criaram as designadas “janelas de performance”, com limites mínimos e máximos em áreas como peso, potência e capacidade aerodinâmica. A potência máxima foi estipulada nos 520 kW e o peso mínimo nos 1030 kg. Na fase de homologação, os carros são medidos aerodinamicamente em túnel de vento e a potência dos motores controlada com o uso de sensores de binário. Isso permite aos construtores escolher soluções técnicas eficientes e menos dispendiosas, sem futuros gastos, pois o protótipo fica com homologação congelada a cada ciclo.

Conter custos é a palavra de ordem. Existem limite de testes. O uso de materiais exóticos está grandemente controlado. Por exemplo, a caixa de velocidade não pode pesar menos de 75 kg. A suspensão tem de ser obrigatoriamente de duplo braço, sem quaisquer sistemas ativos. Proibida está ainda a homologação de uma carroçaria especial, com menos arrasto, para as 24 Horas de Le Mans.

Uma das novidades é o controlo da competitividade graças a sensores de binário instalados na transmissão de cada carro, permitindo uma melhor definição, e em tempo real, do “Balance of Performance” (BoP) usado nas provas de resistência há cerca de 20 anos. Outra novidade do BoP para 2023 advém dos tempos por volta deixarem de ter o papel principal na definição dos valores de performance. A base de todo o processo passam a ser as simulações feitas com dados de telemetria, num sistema criado pela empresa AVL. Haverá um BoP em todas as provas até às 24 Horas de Le Mans, outro para a maior corrida do ano e está aberta a possibilidade de surgirem alterações após a clássica francesa que este ano cumpre 100 anos de existência.

A segurança foi outra das preocupações, sobretudo na proteção do habitáculo. Após uma extensa série de testes usando um manequim virtual “THUMS”, os pilotos estão sentados mais altos, para evitar lesões de coluna, tendo sido revistos os pontos de ancoragem dos cintos de segurança, a proteção para as pernas e os apoios de cabeça.

Classes dentro de classes

Os Hypercar LMH (Le Mans Hypercar) não podem ter mais que cinco metros de comprimento e dois metros de largura, com uma distância entre eixos máxima de 3150 mm. O peso mínimo é de 1030 kg, sendo que o motor tem de pesar pelo menos 165 kg e a caixa de velocidades 75 kg. O motor é livre em cilindros e cilindrada, enquanto a potência elétrica não pode ser superior a 200 kW e tem de ser utilizada por via do eixo dianteiro, com velocidade mínima limitada pelo BoP.

Nesta classe, estão inscritas a Toyota, que optou por um motor V6 turbo de 3500 cc, a Ferrari, que aposta num V6 turbo 3.0 e a Peugeot, que recorre a um V6 turbo de 2.6 litros. Estes três construtores têm motorizações híbridas, ao contrário do que acontece com os Vanwall (Gibson V8 4.5 atmosférico) e Glickenhaus (V8 3.5 Turbo).

Na classe LMDh (Le Mans Daytona híbrido) foram criados a pensar no campeonato americano IMSA, onde competem como GTP. Os chassis têm de ser construídos pela Oreca, Ligier, Dallara e Multimatic, devendo depois cada construtor criar uma carroçaria própria com identificação à marca. Os motores, derivados de série ou de competição, também não têm limite de cilindrada, mas o sistema híbrido (Williams-Bosch) é comum a todos os carros, com apenas 50 CV de potência extra, num valor total para o motor que também não pode passar os 520 kW. A caixa de velocidades é monomarca (Xtrac) e a tração faz-se apenas pelo eixo posterior.

A Porsche, com um motor V8 4.6 Turbo, e a Cadillac, com um V8 5.5 atmosférico, enfrentam o WEC com carros desta classe.

Lista de grandes nomes

A lista de inscritos para as 6 Horas de Portimão contempla muita qualidade e muitos nomes sonantes, entre ex-pilotos de Fórmula 1, pilotos de Fórmula E e multivencedores de provas de resistência, não faltando também nomes portugueses em destaque.

Jacques Villeneuve, campeão do Mundo de Fórmula 1 (F1) em 1997 e vencedor das 500 milhas Indianápolis em 1995, é um dos grandes nomes, mas há mais 12 nomes que passaram pelos Grandes Prémios de F1, casos de António Giovinazzi e Pietro Fittipaldi, ainda pilotos de testes de equipas da disciplina, ou com vitórias e pódios nessa categoria como Robert Kubica, Kamui Kobayashi e Daniil Kvyat. A esses juntam-se Esteban Guerrieri, Andre Lotterer, Sebastien Buemi, Brendon Hartley, Paul di Resta, Jean-Eric Vérgne e Giedo Van der Garde.

Campeões do Mundo no WEC desde 2012 estão presentes 15: Earl Bamber, Mike Conway, Sébastien Buemi, Loic Duval, Romain Dumas, Andre Lotterer, Kamui Kobayashi, Brendon Hartley, José Maria Lopez e Ryo Hirakawa. Acrescentam-se mais cinco do Mundial de GT: Kevin Estre, Michael Christensen, Alessandro Pier Guidi, James Calado e Nicki Thiim.

Com títulos na Taça do Mundo de LMP2 surgem António Félix da Costa, Julien Canal, Gustavo Menezes, Philip Hanson, Frijns, Ferdinand von Habsburg e Charles Milesi, sete nomes a que se juntam mais cinco que venceram a Taça do Mundo de LMGTE-Am desde 2012: David Heinemeier-Hansson, Paul Dalla Lana, Nicklas Nielsen, Alessio Rovera e Ben Keating,

Vencedores à geral nas 24 Horas de Le Mans são uma dezena, entre eles todos os seis pilotos da Toyota Gazoo Racing, aos quais se somam Lotterer, Bamber, Duval e Dumas.

Se falarmos de vencedores nas classes em Le Mans, onde António Félix da Costa está na lista, chegamos quase a uma vintena de nomes.

Há também nove campeões do European Le Mans Series (ELMS): Olivier Pla, Harry Tincknell, Van der Garde, Memo Rojas, Hanson, Deletraz, Kubica, Ye Yefei e Habsburg.

Do atual plantel do Mundial de Fórmula E, para além de António Félix da Costa, estão presente Vergne, Robin Frijns, Nico Muller, Buemi e Lotterer, sendo que o português e Buemi garantiram títulos na disciplina.

Félix da Costa e JOTA despedem-se da classe LMP2

Nos LMP2, onde todas as equipas competem com um protótipo Oreca equipado com um motor Gibson, o destaque vai para português António Félix da Costa, atual campeão da categoria, embora a concorrência seja forte.

“Muito contente por ter mais uma corrida em casa. Vou divertir-me e tentar acabar a jornada nos LMP2 com uma vitória. Estive em Portimão com o WEC há dois anos, mas em tempo de pandemia, sem público, sem conseguir sequer partilhar esse momento com a minha família. Agora, posso voltar a correr em casa, e com o regresso à normalidade, estou a fazer força para que as bancadas do AIA possam encher. Quero voltar a competir face aos muitos fãs que normalmente me apoiam e não têm esta hipótese de me ver correr tão de perto”, afirma o piloto em antevisão à corrida.

“Esta vai ser a última prova que faço com o LMP2 da Jota. Este Oreca mudou a minha carreira. Tornou-me o piloto que sou na resistência. Consegui ganhar provas e campeonatos incríveis com este carro, com esta equipa, defrontando pilotos de enorme valor. Com isso considero-me quase um especialista das provas de resistência, mas ainda com um longo caminho pela frente e uma nova etapa que se avizinha ao volante do Porsche 963 LMDh da Hertz Team Jota na categoria Hypercar”, completou.

A lista de inscritos conta ainda com a presença de Filipe Albuquerque, mas o piloto da United Autosports não irá estar em Portimão, já que a corrida do WEC coincide com o prova do IMSA em Long Beach. Sendo esta a sua prioridade, Albuquerque preferiu ficar nos Estados Unidos para procurar mais um bom resultado para o seu pecúlio.

Nos LMGTE-Am, o interesse está na mistura de pilotos profissionais com amadores, criando um fator de impressibilidade às corridas onde se defrontam os GT da Aston Martin, Ferrari, Porsche e Corvette. Será nesta categoria que irão estar os outros dois pilotos portugueses na prova lusa, com Miguel Ramos e Guilherme Oliveira a integrarem a equipa Project 1-AO, com um Porsche 911 RSR-19 que terá ainda o italiano Matteo Cairoli.

As 6 Horas de Portimão disputam-se no domingo, entre as 12h00 e as 18h00.

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