A temporada de 2022 do Mundial de Fórmula 1 começou com a promessa do ressurgimento da Ferrari, mas terminou com um domínio avassalador da Red Bull e de Max Verstappen, que esteve irrepreensível ao longo da época para acumular um número recorde de triunfos num só ano – 15. Este e outros factos ficam na história de uma temporada que marcou o início de uma nova era para a modalidade.

Após o adiamento da introdução das novas regras aerodinâmicas para 2022 – devido à pandemia de Covid-19 –, o Mundial de Fórmula 1 teve uma temporada em grande com uma série de novidades que apimentaram a modalidade mesmo que o resultado do campeonato de Pilotos e de Construtores tenha sido antecipadamente decidido dada a competitividade de Max Verstappen.

Eis um resumo de dez factos que marcaram a temporada de 2022.

1. Max Verstappen, o incontestado. Com um pecúlio de 15 triunfos numa só temporada é difícil não encontrar em Verstappen um justo campeão de 2022, obtendo assim o seu segundo título de forma bem mais pacífica do que o de 2021. Após a luta com Lewis Hamilton em 2021, o piloto neerlandês, que fez regressar o número 1 à modalidade em 2022, tratou de demonstrar uma competência e velocidade de mais alto nível, sobretudo demonstrando também a sua capacidade para batalhar de forma mais moderada contra Charles Leclerc, que foi o seu principal opositor até meados da temporada.

2. Ferrari, a arte de saber perder. Desde 2007 que a Ferrari não conquista um título de Pilotos, com a mudança de regulamentos de 2022 a proporcionar uma excelente oportunidade para que a equipa italiana voltasse a lutar pelo triunfo. As primeiras corridas demonstraram que o F1-75 era, de facto, um monolugar muito bem nascido, batendo a Red Bull em confronto direto, sobretudo no caso de Charles Leclerc. Porém, problemas mecânicos variados (Leclerc abandonou por duas vezes quando liderava), opções estratégicas dúbias por diversas vezes e a pouca eficácia dos desenvolvimentos trazidos ao longo da temporada deixaram a Red Bull livre para celebrar os títulos de Pilotos e de Construtores.

Com quatro triunfos em 22 corridas, a temporada de 2022 acaba por ter um travo amargo para a Scuderia, que deposita esperanças no ‘regresso’ em 2023, tendo abandonado o desenvolvimento do monolugar ainda muito cedo.

3. Mercedes, o hábito de querer vencer. Campeão por sete vezes, Lewis Hamilton terminou a temporada a dizer que o W13 é um monolugar que não vai querer recordar. Com efeito, o piloto britânico falhou pela primeira vez na sua carreira um triunfo numa temporada, cabendo esse feito em 2022 apenas a George Russell, numa ‘dobradinha’ alcançada no GP do Brasil. Com um conceito demasiado radical e problemas de afinação resultantes do efeito de ressalto (‘porpoising’) a alta velocidade causados pelo regresso do efeito-solo (a sucção do monolugar contra o asfalto), o carro revelou-se altamente instável e poucas vezes competitivo, melhorando substancialmente na fase final da época.

Ainda assim, para uma formação habituada a vencer (oito títulos de construtores desde 2014), a temporada de 2022 foi pouco positiva.

4. Apertar o cinto. Pela primeira vez, as questões do teto orçamental foram discutidas quando se descobriu que a Red Bull havia superado o limite orçamental definido para a temporada de 2021. Após uma longa investigação levada a cabo pela Federação Internacional do Automóvel (FIA), definiu-se que a Red Bull havia ultrapassado de forma ligeira o teto orçamental de 145 milhões de dólares de 2021, recebendo assim uma multa de 7 milhões de dólares e uma diminuição de 10% no tempo de utilização do túnel de vento em 2023, limitando assim o desenvolvimento do monolugar.

Algumas equipas, como a Ferrari ou a Mercedes, chegaram a propor também a aplicação de penalizações desportivas, mas a FIA decidiu-se por aquelas duas medidas. Outras formações que também falharam neste aspeto, ainda que apenas por motivos procedimentais, foram a Aston Martin e a Williams, cada uma com uma multa pecuniária.

5. Carros mais juntos, mais ultrapassagens. A introdução dos novos regulamentos e o regresso do efeito-solo à Fórmula 1, com canais inferiores no fundo do monolugar a funcionarem como elementos de sucção ao solo, permitiram que em 2022 os carros pudessem rodar mais juntos em pista e, com isso, facilitar as ultrapassagens.

O elemento do espetáculo saiu reforçado com diversas batalhas em pista que animaram os grandes prémios, mas nalguns casos, o DRS trouxe também o chamado ‘comboio’, em que, sobretudo nos circuitos com retas mais curtas, um carro mais lento acabava por formar atrás de si um ‘comboio’ de pilotos que não se conseguiam ultrapassar. Ainda assim, um fator bem-vindo para tornar as corridas mais animadas.

6. Um adeus definitivo, três em potência. A temporada de 2022 ficou marcada ainda pelas despedidas de quatro pilotos que não estarão nas grelhas de partida em 2023, entre eles a de um campeão do mundo, Sebastian Vettel. O alemão será a baixa mais sonante de um plantel que, no final, não poupou nos elogios e nas homenagens ao tetracampeão do mundo (2010 a 2013) pela Red Bull.

Adotando uma postura de vida mais sustentável e com a vontade de dedicar mais tempo à família, Vettel deixa assim a Fórmula 1. Também Daniel Ricciardo não estará na grelha em 2023, com o simpático piloto australiano a apostar num regresso à Red Bull como terceiro piloto. Este, tal como Mick Schumacher e Nicholas Latifi, que também não estarão de regresso no ano que vem, esperam poder voltar aos circuitos no futuro, sendo que no caso do alemão fala-se na possibilidade de juntar-se à Mercedes como terceiro piloto.

7. Pelotão muito equilibrado. Apesar do teto orçamental e da mudança de regulamentos, as três equipas principais – Red Bull, Ferrari e Mercedes – mantiveram o seu estatuto destacado na frente das operações, embora atrás dessas a luta tenha sido particularmente feroz. McLaren e Alpine discutiram entre si as posições imediatamente seguintes no campeonato de Construtores, cabendo à marca francesa a vantagem.

Em pista, os confrontos foram sempre muito animados, sobretudo pelo equilíbrio de forças que variava ciclicamente consoante as características do traçado. Pilotos como Fernando Alonso, Lando Norris, Valtteri Bottas ou Esteban Ocon foram nomes em destaque numa grande parte das corridas de 2022.

De resto, vale a pena apontar que 22 pilotos participaram em corridas na época, com Nico Hulkenberg e Nyck de Vries a substituírem por razões de força maior Sebastian Vettel e Alex Albon nas equipas Aston Martin e Williams, respetivamente. Para as estatísticas, fica o facto de 21 pilotos terem pontuado: apenas Hulkenberg não pontuou. Ainda assim, noutro dado curioso, tanto o alemão como de Vries vão passar de terceiros pilotos a titulares em 2023, assumindo os lugares de Mick Schumacher (Haas) e de Nicholas Latifi (Williams).

8. As causas humanitárias. O ano de 2022 fica marcado pela guerra na Ucrânia, devido à invasão russa, e a Fórmula 1 não foi indiferente, com muitos pilotos e insurgirem-se logo em março contra a possibilidade de se manter um GP de Fórmula 1 na Rússia. Vettel foi um dos mais críticos dessa possibilidade, mas foi apoiado por outros pilotos, com a FIA a entender também que, em virtude de diversas sanções impostas à Rússia, não havia condições para organizar uma prova naquele território.

De igual forma, outras causas voltaram a ter repercussão no paddock, com nomes como Lewis Hamilton ou Sebastian Vettel (de que são exemplo as imagens deste ponto) a serem muito visíveis na defesa dos direitos humanos ou dos direitos LGBTIQ+.

9. Corridas à chuva são problema à espera de solução. Após o fiasco do GP da Bélgica de 2021, em que os carros não efetuaram qualquer volta em condições de corrida, a temporada de 2022 voltou a trazer à baila o problema das corridas à chuva, obrigando a adiamentos da partida ou à intervenção do safety car para neutralizar a competição em pista. O facto de os monolugares terem hoje pneus de chuva muito mais eficientes na extração de água do piso acabou por piorar o problema da falta de visibilidade devido ao spray levantado pelos carros, este ano agravado pelos regulamentos técnicos que trouxeram de volta o efeito-solo. Interrupções como a do GP do Japão tornaram-se comuns, embora os pilotos e, sobretudo, os adeptos sejam particularmente críticos.

10. O regresso em força pós-pandemia. Ou quase. Após dois anos de uma pausa invulgar no que diz respeito ao público nas bancadas – embora nalguns casos tenha chegado a ser possível com um limite de pessoas admissíveis –, o Mundial de Fórmula 1 voltou a ter as bancadas repletas de espectadores, quebrando-se recordes de assistência nalguns dos casos. Graças ao maior relaxamento nas restrições de viagem, circuitos já habituais voltaram ao calendário, como foram os casos de Albert Park, Melbourne (Austrália), Gilles Villeneuve, Montreal (Canadá), Suzuka (Japão) e Marina Bay (Singapura).

Ainda assim, a China, que mantém um acordo para permanecer na Fórmula 1, voltou a não ter prova em 2022, devido à restrição nas viagens e à sua política de zero-Covid. Espera-se o regresso da prova em 2023, mas os rumores começam a apontar para que volte novamente a ser cancelada.

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