A crise económica e financeira estava já bem presente em muitos dos países, trazendo consigo cenários de recessão que se viriam a conjugar para uma tempestade perfeita à escala global. A especulação imobiliária, o crédito excessivo e as dificuldades de financiamento de muitas economias levaram a que, em consequência, as empresas começassem a demonstrar grandes problemas, sobretudo, numa fase em que as vendas decaíram acentuadamente.
Foi no meio deste contexto que o final do ano de 2008 trouxe más notícias a um ritmo quase diário no defeso. Em dificuldades e obrigadas a repensar investimentos, muitas foram as marcas que tiveram de se afastar do desporto, algumas das quais viriam a ressurgir, outras permanecendo apenas no corredor da memória.
Honda e a ecologia que foi desastrosa
Depois de assumir o controlo das operações na equipa BAR (British American Racing) que Craig Pollock montara, quase à medida, para Jacques Villeneuve, a Honda reforçou o seu compromisso para com a Fórmula 1. A partir de 2005, passou a ter a seu cargo o desenvolvimento completo dos monolugares, com o ponto alto da sua segunda passagem pela modalidade enquanto equipa a surgir num caótico GP da Hungria de 2006, quando Jenson Button aproveitou as condições climatéricas muito instáveis para obter a única vitória da Honda na segunda fase (descontando, naturalmente, os triunfos enquanto fornecedora de motores e na década de 1960) da presença na F1 a ‘solo’.
Fortemente celebrada, chegou-se a pensar que a vitória do piloto britânico poderia ajudar a catapultar a Honda para um outro patamar. Contudo, a realidade demonstrou o inverso. Os monolugares de 2007 e de 2008 não eram competitivos e, além disso, a marca optou por um credo ecológico que afastou da sua decoração qualquer referência a patrocinadores. Logo, retorno reduzido em termos monetários. Em 2007, o monolugar apresentava uma imagem gigantesca do planeta Terra. O ritmo difícil do carro ficou ainda mais à vista pelo facto de a equipa satélite, a Super Aguri, ter conseguido um chassis melhor que lhe permitia fazer alguns brilharetes em pista.No final de 2007, a pensar mais nos novos regulamentos de 2009 do que na temporada de 2008, a Honda assina com o mago do sucesso de Michael Schumacher na Benetton e na Ferrari, Ross Brawn. O engenheiro é recrutado para desenvolver esse carro ao mesmo tempo que faz evoluir também o monolugar de 2008. Mas, os problemas de competitividade mantiveram-se, levando a formação a optar por direcionar os seus esforços quase na totalidade para o carro de 2009 ainda numa fase muito cedo da época. A decoração uma vez mais alusiva ao ambiente também não ajudou no capitulo financeiro e, no dia 5 de dezembro de 2008, de Tóquio vem a notícia que faz tremer o desporto automóvel: a Honda anunciava a saída com efeitos imediatos da Fórmula 1, deixando ‘sem chão’ os pilotos, Jenson Button e Rubens Barrichello, mas também uma vasta equipa de engenheiros, técnicos e assalariados da equipa sedeada em Brackley.
Ross Brawn, valendo-se da sua experiência e dos seus contactos, procurou uma solução para manter a equipa à tona, sabendo que o seu monolugar havia sido projetado ao longo de quase um ano para ser bem-sucedido à luz dos novos regulamentos técnicos e aerodinâmicos de 2009, que incluía, pela primeira vez, uma assistência elétrica à performance na forma do sistema KERS.
Brawn conseguiu encontrar financiamento para comprar a equipa, emprestando-lhe o seu nome, e adquiriu motores Mercedes-Benz, pelo que a secção traseira do monolugar teve de ser refeita à pressa para acomodar um bloco diferente daquele para o qual havia sido projetado. Ironia das ironias, o Brawn BGP001 foi um claro dominador da temporada – sobretudo na primeira metade – embora outras equipas tivessem conseguido dar alguma réplica à Brawn, como a Red Bull ou a Toyota.
Outros terramotos
Quiçá nenhum dos anúncios tenha sido tão surpreendente quanto o da Mitsubishi, que no início de 2009 decidiu dizer adeus à emblemática prova de TT mais conhecida do mundo, o Dakar, justificando-se com problemas financeiros e quedas das vendas a nível global. Uma receita que afetou praticamente todas as marcas.
Mais dois gigantes viram costas à F1
Os dias do automobilismo entre 2008 e 2009 viviam-se pois, na ideia de que outras marcas poderiam reduzir ou eliminar de todo, os seus esforços no desporto. Nas duas rodas, entre temores e desconfianças, marcas como a Honda ou Yamaha resistem, mas a Kawasaki decide parar a sua participação no Mundial de Motociclismo (MotoGP).
Seria, porém, no decorrer do ano que mais duas marcas, autênticos gigantes da indústria, viriam a surpreender com despedidas ao Mundial de Fórmula 1. Em meados do ano, foi a BMW, que havia adquirido o controlo da Sauber para estruturar a sua equipa. Com pouco retorno para o investimento feito e com o mercado cada vez menos positivo, o construtor bávaro deixa a modalidade no final de 2009, fazendo-se acompanhar da Toyota nesse mesmo propósito.
Tendo chegado à Fórmula 1 com grandes expectativas e uma bagagem repleta de dinheiro para despender numa estrutura evoluída, a Toyota, tal como a BMW, percebeu que não bastava ter os meios financeiros para se ser bem-sucedida. Apesar de em 2009 ter contado com o seu melhor ano na modalidade, a Toyota não conseguiu obter um triunfo sequer ao longo dos anos que competiu ao mais alto nível.
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