Desde 2014, ano em que entraram em vigor os novos regulamentos técnicos da Fórmula 1 que o velho adágio do futebol se tornou também no lema da Fórmula 1: “são 11 contra 11 e no final ganham os alemães”. No automobilismo não há 11 – na verdade são 20 os pilotos que se irão degladiar em igual número de circuitos pelo mundo – mas o resultado final foi sempre o mesmo: ganharam os alemães da Mercedes-AMG. Principal beneficiado da superioridade técnica da equipa de Brackley? O britânico Lewis Hamilton, a quem já ninguém nega também o talento capaz de ombrear com os grandes nomes do passado da Fórmula 1.
O ano de 2019 conta com uma mudança técnica com vista à melhoria do espetáculo em pista e aumento das ultrapassagens, com as asas dianteira e traseira a serem mais altas e largas, enquanto os pneus passaram a ter novos compostos. A asa da frente passa a ser 200 mm mais larga, 20 mm mais alta e a ter um desenho mais simples. O peso dos monolugares também se alterou.
Os últimos dois anos trouxeram consigo uma aproximação mais feroz da Ferrari, sobretudo com o alemão Sebastian Vettel, com quem a Scuderia procura reeditar os tempos de sucesso de Schumacher, mas erros próprios e uma menor capacidade de evolução do monolugar ditaram derrotas que ditaram mudanças profundas na equipa. A mais recente ‘vítima’ foi Maurizio Arrivabene, que foi afastado do cargo de diretor desportivo, cedendo o lugar a Mattia Binotto, um homem da casa e com grande conhecimento técnico.
A missão é recuperar os títulos para Maranello e os testes de pré-temporada, em Barcelona, demonstraram uma Ferrari muito forte, mas também com alguns problemas técnicos para debelar. O esforço é grande para bater a Mercedes-AMG, mas sabe-se que a equipa campeã em título tem o empenho e a capacidade técnica e financeira para tentar não ceder o seu lugar dominante na Fórmula 1. Lewis Hamilton continua a ser, por isso, o principal favorito ao título, com Sebastian Vettel (Ferrari) a ser apontado como o seu principal rival, mas os companheiros de equipa de cada um – Valtteri Bottas na Mercedes e o recém-chegado Charles Leclerc na Ferrari – poderão ter uma palavra a dizer e baralhar contas. Aliás, a prestação do monegasco na equipa italiana reveste-se de grande interesse, havendo quem aponte que Leclerc poderá fazer vida difícil a Vettel.
No entanto, mais protagonistas se perfilam para uma temporada que promete ser emocionante. Um dos pontos de curiosidade reside na troca dos motores Renault por Honda na Red Bull, com a equipa de Milton Keynes a querer encontrar na histórica marca nipónica uma ‘colega’ de sucesso, o que não será fácil, mas que dará ao sempre fogoso Max Verstappen a oportunidade de brilhar quando possível. O holandês chama a si muitas das atenções, sobretudo num ano em que passa a ser o ponta-de-lança na Red Bull (ao lado do ‘rookie’ Pierre Gasly), já que Daniel Ricciardo passou para a Renault, onde terá a companhia de Nico Hulkenberg. Os dois terão a seu cargo a tarefa de recolocar a marca francesa nas posições da frente da Fórmula 1, algo de que tem estado arredada desde 2008 (últimos triunfos), com os primeiros indicadores a serem muito positivos.
O mesmo se pode dizer da McLaren, que depois de anos sem qualquer resultado de relevo, tenta voltar à ribalta com Carlos Sainz e o novato Lando Norris a assumirem esse desafio, uma vez mais com os motores Renault. Incógnita maior será aquela da Alfa Romeo, que assume o nome e o espírito da Sauber, embora se mantenha o centro nevrálgico em Hinwill. O arrojo técnico de um monolugar que surpreendeu com uma asa dianteira radical e um nome impactante que tem peso histórico concedem à equipa italiana uma situação de grande relevo na temporada de 2019. A ajudar à sua causa, a chegada de Kimi Raikkonen, que regressa ao ponto de partida (foi na Sauber que se estreou) e a jovialidade de Antonio Giovinazzi.
A batalha do meio do pelotão – que promete ser muito renhida – contará ainda com a Toro Rosso, que volta a beneficiar do entendimento com a Honda para assim poder batalhar por algumas prestações capazes de chamar a atenção. Curiosidade para observar como será a prestação do regressado Daniil Kvyat, que tem na formação de Faenza uma segunda oportunidade na família Red Bull. Ao seu lado terá o estreante Alexander Albon, de quem também muito se espera. Reformulada como Racing Point Racing, a antiga Force India retoma a sua esperança de manter o hábito de se intrometer amiúde entre os lugares cimeiros, contando com Sérgio Perez e Lance Stroll na sua lista de pilotos para 2019. Se do mexicano já se conhecem os méritos e rapidez, do jovem piloto também se espera uma subida de rendimento, sobretudo atendendo ao facto de ter sobre si a ‘nuvem’ de piloto pagante.
Onde ver? Em Portugal, a Eleven Sports começará na madrugada de quinta para sexta-feira a transmitir toda a ação da pista, com a narração de Óscar Góis e comentários do especialista João Carlos Costa. A eles juntar-se-á, ao longo de todas as transmissões de sexta a domingo, Nuno Pinto, um dos portugueses que nos dois últimos anos seguiu a F1 de muito perto, trabalhando como coach de Lance Stroll durante a passagem do canadiano pela Williams. Além disso, a aplicação F1 TV Pro também terá a transmissão dos eventos para os seus subscritores.
Menção igualmente de destaque para a Haas, este ano com uma decoração reformulada em tons de preto e dourado e nova parceria com uma bebida energética que tem como intenção destronar a Red Bull (dentro e fora das pistas), Rich Energy. Romain Grosjean e Kevin Magnussen continuam a defender a formação americana de Gene Haas, que tem na motorização Ferrari uma potencial vantagem.
Por fim, um dos nomes mais emblemáticos da modalidade, mas cujo início de temporada não foi o melhor. A Williams chegou atrasada aos primeiros testes da pré-temporada, perdendo praticamente um terço dos ensaios de preparação, tendo ainda o peso de melhorar aquela que foi uma das temporadas mais cinzentas de sempre na formação de Frank Williams. Nova temporada com fraca competitividade poderá ser dramática para a Williams. Ainda muita curiosidade para se assistir ao ‘pseudo-novato’ Robert Kubica, piloto que esteve diversos anos afastado da F1 devido ao acidente de ralis em 2011 que por pouco não lhe terminou a carreira… e a vida. Como colega de equipa, um outro estreante: Charles Russell, que traz consigo uma aura de ‘frescura’.
A temporada começa este domingo, em Melbourne, na Austrália, sendo que os testes de Barcelona terão pouco ou nenhum significado em termos de perspetivas assim que os semáforos encarnados se apagarem no domingo para o início de mais uma temporada da Fórmula 1.
Termina-se como se começou: será que é desta que os Mercedes-AMG são batidos? A resposta só será conhecida em Dezembro (no limite).
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