No longo historial do Mundial de Fórmula 1, poucos grandes prémios tiveram tamanho volte-face como aquele que se viveu no circuito de Hockenheim em 2000.

Com o triunfo praticamente ‘no bolso’, os McLaren-Mercedes de Mika Hakkinen e David Coulthard lideravam a prova, sem grande oposição dos demais pilotos. Mas um desempregado da Mercedes-Benz acabou por abrir a ‘porta’ a um triunfo da Ferrari, mas aquele que menos se esperava…

Com o Campeonato de Pilotos ao rubro, Michael Schumacher e Mika Hakkinen chegavam ao circuito alemão de Hockenheim nas duas primeiras posições da tabela – o piloto da Ferrari na frente, com 56 pontos, contra 48 do finlandês numa época em que o triunfo valia dez pontos.

Mas, na partida, tal como 15 dias antes, uma partida menos positiva de Schumacher levou a um contacto com o Benetton do italiano Giancarlo Fisichella, acabando ambos contra o muro. Uma vez mais, zero pontos para Schumacher, desta feita frente ao seu público.

Caminho ‘livre’ para os dois McLaren-Mercedes rumo ao triunfo. Mas, como tantas vezes nos seus mais de 60 anos, a F1 é pródiga em ‘golpes de teatro’. Rubens Barrichello, que havia partido do 18º lugar na grelha de partida, fez valer a competitividade do seu Ferrari e chegou ao terceiro posto, mas longe do duo da frente. Até que um ex-funcionário da Mercedes-Benz, protestando contra o seu despedimento, invadiu o circuito e obrigou à intervenção do safety car. Os 33 segundos de vantagem de Hakkinen esfumavam-se num ápice.

Pouco depois do recomeço, porém, seria a chuva a complicar a tarefa dos pilotos. Com uma agravante tática: a chuva apenas caía numa das partes do circuito alemão, então ainda composto pelas suas longas retas em que as velocidades de 350 km/h eram comuns. Na zona do Estádio e no primeiro setor o piso estava molhado, no restante, seco. Neste cenário, muitos pilotos optaram pela mudança de pneus, como sucedeu com Hakkinen e Coulthard. Mas não com Barrichello.

O paulista, conhecido pelo seu talento de pilotagem à chuva – a sua prestação em Donington 1993 ficaria ofuscada pela de outro brasileiro, neste caso Ayrton Senna – arriscou em fazer a última dezena de voltas com os pneus para piso seco. Com mil cuidados na zona molhada.

Numa ‘guerra de preces’ – uns pediam mais chuva, outros pediam menos -, Barrichello conseguiu levar o seu Ferrari a ‘bom porto’, ou seja, à bandeira de xadrez. Tantas vezes traído pela mecânica ou por azares alheios, daquela vez tudo correu bem a Rubens Barrichello, obtendo o seu primeiro triunfo depois de largos anos de espera. Um triunfo que teve contornos de ‘fábula’, muitas lágrimas à mistura e que teve dedicatória especial ao ídolo de sempre, Ayrton Senna.

Nota, ainda, para um alemão igualmente satisfeito. Num recinto em que os germânicos estavam – naturalmente – em larga maioria, Schumacher não perdeu tempo a festejar o triunfo do seu companheiro de equipa, não só por esse facto, mas porque o triunfo do brasileiro permitiu a Schumacher manter a liderança do Mundial de Pilotos.

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