Os números dizem tudo sobre a primeira parte da temporada de 2019 do Mundial de Fórmula 1: em 12 Grandes Prémios, o campeão do mundo Lewis Hamilton saiu vencedor em oito, enquanto a Mercedes-AMG alcançou dez, uma vez que Valtteri Bottas também subiu ao lugar mais alto do pódio por duas vezes. Uma prova cabal de que a formação alemã continua a ser a força dominante, mesmo quando no início da temporada se esperava outra ordem.

No final dos ensaios da pré-temporada, muitos apontaram a Ferrari como principal favorita, mas o resultado do GP da Austrália rapidamente colocou água na fervura, deixando entender, uma vez mais, que seria a Mercedes-AMG a dispor do melhor carro em pista.

As provas seguintes encarregaram-se de confirmá-lo, mesmo que a Ferrari tenha contado com alguns fogachos de competitividade que ameaçaram travar a senda de triunfos germânicos (como no Bahrein, Canadá ou na Áustria), mas acabou por ser uma outra equipa, alicerçada pelos esforços de Max Verstappen a vencer corridas em 2019 que não a Mercedes-AMG.

Com um monolugar bem-nascido e um motor Honda que está agora num nível de competitividade semelhante ao de Mercedes, Ferrari e Renault, o jovem piloto holandês tem sido um dos grandes animadores desta primeira fase da temporada, vencendo na Áustria com uma ultrapassagem tardia a Charles Leclerc (Ferrari) e na Alemanha depois de ‘sobreviver’ à lotaria das condições meteorológicas. Uma vez mais, na Hungria – última prova antes das férias ‘forçadas’ de três semanas no mês de agosto – esteve também em posição de vencer, mas Hamilton, valendo-se de todo o seu talento e da excelência do seu carro, superou Verstappen com uma estratégia mais acertada.

Feito o círculo no início deste texto, regressamos a Hamilton, que tem de ser apontado como principal favorito ao título também em 2019, dada a superioridade da Mercedes-AMG na primeira metade do calendário. Se inicialmente até contou com a oposição do seu companheiro de equipa, Valtteri Bottas, que pareceu determinado em fazer vida difícil ao britânico (ambos venceram duas corridas nas primeiras quatro), o finlandês foi acumulando erros que o deixam bem atrás de Hamilton no campeonato e até na perspetiva de continuidade para a temporada de 2020 ao serviço da Mercedes-AMG.

Mas, cabe à Ferrari o papel de maior desilusão da temporada de 2019 até aqui. Encarada como favorita aos triunfos antes do arranque da época, os resultados em pista mostraram uma outra realidade, com muitas dificuldades aerodinâmicas em curvas mais lentas, compensando por outro lado pela excelente velocidade de ponta. No entanto, circuitos como o de Hungaroring, muito sinuosos, deixaram bem patentes as dificuldades de Sebastian Vettel e de Charles Leclerc para darem luta aos Mercedes e até, nalguns casos, aos Red Bull. Até aqui, a equipa transalpina não conta com um único triunfo, o que é um claro indício de que algo correu mal na preparação da temporada da equipa de Maranello.

No seio da equipa italiana, Leclerc tem impressionado pela rapidez mas também têm sido muitos os seus erros, como na qualificação para o GP do Azerbaijão, no Mónaco ou na Alemanha.

Vettel, por outro lado, tem sido mais consistente, perdendo o GP do Canadá de forma polémica depois de uma penalização de cinco segundos imposta por ter regressado à pista de forma perigosa após uma saída de pista numa das chicanes do circuito Gilles Villeneuve.

Verstappen, a outra estrela

Foi a Red Bull, mais concretamente por obra de Max Verstappen, a quebrar a hegemonia alemã na lista de vencedores de 2019. Com o holandês em grande forma e já sem cometer os excessos de anos passados, a equipa tem sido a maior rival da Mercedes-AMG nos mais recentes grandes prémios, com os resultados de Áustria, Alemanha e Hungria a mostrarem uma revitalização completa depois de alguns anos difíceis de perda de competitividade. A melhoria de rendimento da Honda foi também fundamental para esta subida da Red Bull para o patamar das equipas vencedoras de 2019, estando já longe do assunto de ‘piada’ que era atribuído aos motores nipónicos em anos anteriores.

Mas, se Verstappen tem sido a outra estrela além daquela dos Mercedes-AMG, já o mesmo não poderá dizer o seu recém-despromovido colega de equipa, Pierre Gasly, sempre longe das prestações do holandês e mais atreito ao erro. Estas duas circunstâncias valeram-lhe a despromoção para a Toro Rosso, por troca com Alexander Albon, que tem sido uma das figuras na formação ‘secundária’ da equipa de bebidas energéticas.

Se Hamilton parece bem encaminhado para a obtenção de mais um título, importa também salientar que após a pausa de verão o cenário pode mudar, tal como se viu no ano passado, quando a Mercedes ganhou uma distância evidente no regresso às pistas em setembro para se distanciar definitivamente de Vettel na luta pelo título.

Primeiro e segundo pelotão

À existência de um primeiro pelotão responde um segundo pelotão bem definido, mas que tem sido um dos mais interessantes de seguir na temporada, uma vez que as lutas em pista são bem renhidas. Em ligeiro destaque está a McLaren, que recuperou muita da competitividade perdida desde 2014, com Carlos Sainz e Lando Norris a oferecerem à marca de Woking bons resultados em 2019, surpreendendo até a prestação de Norris nesta sua chegada à Fórmula 1.

Albon, que será promovido à Red Bull a partir do próximo GP da Bélgica, foi um dos responsáveis pela boa primeira parte de época da Toro Rosso, embora tivesse sido de Daniil Kvyat o primeiro pódio da formação de Faenza desde que… Sebastian Vettel venceu o GP de Itália em 2008. O russo aproveitou as condições caóticas do GP da Alemanha e terminou em terceiro, numa posição muito festejada por um piloto que ganhou consistência e calma para ser agora um nome seguro na equipa.

Também a Alfa Romeo tem apresentado bons registos neste ano, embora seja muito por responsabilidade da consistência e experiência do veterano Kimi Raikkonen, que tem compensado muito do desalinho de Antonio Giovinazzi.

Em contraponto, o caso da Renault, que tem um dos maiores orçamentos da modalidade e uma dupla de pilotos também de altíssimo nível – Nico Hulkenberg e Daniel Ricciardo –, mas que não tem conseguido as prestações que os seus responsáveis esperavam no início da temporada. Inconsistências ao nível do acerto aerodinâmico e também alguns problemas de fiabilidade roubaram pontos à formação, que ainda assim espera melhorar na segunda metade da época.

De igual forma, a Haas também não tem estado ao nível do ano passado, com a equipa americana a braços com problemas na gestão dos pneus em corrida. Uma circunstância que se torna mais gritante quando em qualificação consegue produzir bons resultados dentro do top 10, que depois não se traduzem em pontos na corrida. Além disso, as lutas internas entre Romain Grosjean e Kevin Magnussen também parecem não ajudar…

À frente da Haas está a Racing Point, que teve um final de época conturbado em 2018, mas que tem feito uma série de boas prestações na presente temporada, mesmo que Sergio Perez e Lance Stroll não tenham a mesma consistência nos pontos do que em anos anteriores.

Liga dos últimos

Por fim, resta a Williams. A histórica equipa de Grove, no Reino Unido, começou a temporada tarde e com um monolugar notoriamente mais lento do que os demais, chegando a ser ‘dobrados’ por duas vezes na mesma corrida quando o usual entre as equipas mais lentas, dada a competitividade usual nos tempos que correm, é apenas uma volta de atraso.

No entanto, George Russell e Robert Kubica têm lutado bastante para esconder alguns dos défices do carro inglês e, após uma prova bastante complicada, o polaco acabou por ‘receber’ um ponto no GP da Alemanha, já depois do final devido à desclassificação (ainda para decidir após apelo dos afetados) dos dois Alfa Romeo. Ainda assim, tempos difíceis para uma formação que, noutros anos, chegou a estar na luta pelo título, mas que não desarma, tendo já apresentado um ritmo melhor no GP da Hungria.

Classificações após o GP da Hungria (12 de 21)

1

Lewis Hamilton

MERCEDES

250

2

Valtteri Bottas

MERCEDES

188

3

Max Verstappen

RED BULL RACING HONDA

181

4

Sebastian Vettel

FERRARI

156

5

Charles Leclerc

FERRARI

132

6

Pierre Gasly

RED BULL RACING HONDA

63

7

Carlos Sainz

MCLAREN RENAULT

58

8

Kimi Räikkönen

ALFA ROMEO RACING FERRARI

31

9

Daniil Kvyat

SCUDERIA TORO ROSSO HONDA

27

10

Lando Norris

MCLAREN RENAULT

24

11

Daniel Ricciardo

RENAULT

22

12

Lance Stroll

RACING POINT BWT MERCEDES

18

13

Kevin Magnussen

HAAS FERRARI

18

14

Nico Hulkenberg

RENAULT

17

15

Alexander Albon

SCUDERIA TORO ROSSO HONDA

16

16

Sergio Perez

RACING POINT BWT MERCEDES

13

17

Romain Grosjean

HAAS FERRARI

8

18

Antonio Giovinazzi

ALFA ROMEO RACING FERRARI

1

19

Robert Kubica

WILLIAMS MERCEDES

1

20

George Russell

WILLIAMS MERCEDES

0

 

1

MERCEDES

438

2

FERRARI

288

3

RED BULL RACING HONDA

244

4

MCLAREN RENAULT

82

5

SCUDERIA TORO ROSSO HONDA

43

6

RENAULT

39

7

ALFA ROMEO RACING FERRARI

32

8

RACING POINT BWT MERCEDES

31

9

HAAS FERRARI

26

10

WILLIAMS MERCEDES

1

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