O chefe da equipa francesa falou do actual nível de investimento nos motores que continua a ser elevado e deu o exemplo da Honda admitindo o bom trabalho da marca nipónica, mas realçando o elevado investimento feito:
“Não é uma surpresa [a forma actual da Honda] pois ficou claro no ano passado que a Honda estava progredindo muito rapidamente. A fiabilidade era ainda um problema, mas lembro-me de Spa, em que vimos um sinal muito claro de que a Honda estava a evoluir bem, dado o enorme investimento que entendemos que eles fizeram. Não é uma surpresa que esteja valendo a pena, porque ainda estamos numa F1 que recompensa o quanto se gasta, em vez de como se gasta. E isso é uma preocupação”.
“O aumento de custos é, na minha opinião, insustentável. Pode estar a dar resultado na Honda agora, mas a certa altura irá tornar-se insustentável para um dos quatro construtores, e aí, quem sabe o que acontecerá ? Eu acho que a F1 não pode dar-se ao luxo de perder qualquer um dos construtores. E eu não vejo acções ou decisões para minimizar a necessidade de gastar de uma maneira que pode ser insustentável a médio e longo prazo.”
A Honda tem feito progressos significativos ao nível da sua unidade motriz, conseguindo tornar-se cada vez mais competitiva, juntando a isso fiabilidade indispensável para o sucesso, de tal forma que já está ao nível da Renault:
“Eles estão definitivamente de volta a um bom nível”, disse Abiteboul. “Eles estão num nível semelhante ao nosso em termos de competitividade, por causa da nossa decisão sobre a Versão C. É por isso que novamente não podemos ficar a dormir no desenvolvimento de motores do ano que vem.”“E também temos de colocar isso em perspectiva olhando para 2021, em que queremos começar o mais cedo possível. Como sempre, temos de avaliar como podemos equilibrar o objetivo de curto prazo com os objetivos de longo prazo”.
A maior competitividade da Honda era uma questão de tempo. Uma marca com tantos recursos técnicos e financeiros não iria continuar a fazer má figura com um motor híbrido de alta competição, mais ainda porque o seu mercado alvo passa cada vez mais por híbridos e eléctricos. E o que a Honda fez é, em certa parte, notável, conseguindo recuperar a desvantagem temporal que tinha face aos concorrentes. Mas claro que para isso deve ter investido grandes quantidades de dinheiro, algo que a Renault nunca esteve disposta a fazer e que levou a Red Bull a mudar de fornecedor, entendendo que os seus desejos seriam mais facilmente atendidos pela Honda do que pela Renault. Além disso fala-se que a McLaren começa a ficar preocupada com a performance dos motores e com a sua arquitectura, que não permite um desenho do chassis tão agressivo quanto o que o Honda permitia, criando logo à partida limitações no desenho do monolugar.
Esta corrida quase desenfreada ao “armamento” pode levar muitas marcas a não querer investir na F1. As marcas cada vez querem gastar menos no desporto motorizado, que não é mais do que um veiculo de marketing. As novas gerações, as novas formas de comunicação levam a que a importância da competição, embora ainda grande, se vá diluindo. Assim, um fornecedor de motores não quererá entrar numa espiral de gastos como fez a Honda, para minimizar os efeitos da publicidade negativa. E com a cada vez maior aposta nos eléctricos, é pouco provável que grandes marcas olhem para motores híbridos como justificação para um investimento forte. A Renault com a sua postura irredutível quanto aos gastos desmesurados, poderá chegar a um ponto em que pode fechar o investimento, preferindo apostar noutro tipo de tecnologia. Para já terão de forçar o desenvolvimento do motor para não ficarem para trás mas até quando e como irão continuar a forçar? Numa altura em que os regulamentos de 2021 continuam sem novidades, torna-se importante olhar para esta questão com cuidado e encontrar soluções que permitam aumentar o interesse da F1 por parte de construtores, assim como manter felizes os que estão presentes.