A DS Techeetah é caso único na Fórmula E: pela primeira vez, uma equipa conta no seu plantel com dois campeões, o que permite desde já antecipar uma batalha interna bastante renhida entre Félix da Costa e Vergne. No entanto, pressão é palavra que não conta do dicionário do português.
“Se fosse há uns anos atrás talvez sentisse mais a pressão, mas estou numa outra fase da minha vida – tive um trabalho muito bom com psicólogos do desporto que continuo a fazer – em que a maneira com que abordei a época passada e com que vou continuar a abordar é que ponho o capacete com um sorriso na cara e estou-me a divertir a guiar, quando estou a ganhar e quando estou a perder. As coisas saem de forma muito mais natural quando gostamos do que fazemos. Vai ser essa a abordagem e, se ganhar, porreiro, é para isso que trabalhamos e que cá estamos. Se perdermos, voltamos para o ano e tentamos outra vez”, referiu o piloto em conferência de imprensa virtual na qual o Motor24 marcou presença. De facto, se o modo de estar diz muito sobre o estado de espírito de um piloto, Félix da Costa parece muito mais liberto, mesmo perante jornalistas interessados em ‘extraviar’ segredos.
Félix da Costa assume que é fundamental encontrar um bom equilíbrio entre calculismo e agressividade. “Essa foi uma grande diferença de quando pilotei pela BMW, quando estávamos a lutar pelo campeonato, e a época que fiz agora. Com a BMW ganhei a primeira corrida do ano e depois foi o ano todo à defesa. Obviamente, tem de haver um equilíbrio, mas gostei muito mais da minha abordagem em pista no campeonato deste ano, em que era líder do campeonato mas continuei a ser agressivo e a atacar. Sem dúvida essa é a maneira mais eficiente. Se começamos a mostrar medo e cautela a mais, somos comidos por todo o lado, somos comidos vivos. Obviamente tem de haver um equilíbrio, com agressividade q.b. mas com outro cuidado”.
Carro novo tem de esperar
Para o arranque da temporada, a formação contará com o mesmo monolugar da época passada, embora com algumas melhorias ligeiras, enquanto aguarda a homologação do monolugar que irá competir nas temporadas sete e oito, o que deverá acontecer no regresso da Fórmula E à Europa.Sobre este atraso, o piloto de Cascais indica que “a razão é relativamente simples”, prendendo-se com o facto óbvio de que “todos fomos afetados pela pandemia”, o que levou a Federação Internacional do Automóvel (FIA) a dar a possibilidade às equipas para homologarem os seus carros até mais tarde, em abril, já com todos os sistemas testados e comprovados.
“A DS aceitou – e bem – a oferta da FIA para garantir que a nível de fiabilidade vamos estar numa zona segura e confiantes, porque não vamos ter só de fazer a época sete, mas também a época oito com esse carro. O novo carro está pronto e até tenho testado nele, mas nós ainda não conseguimos meter todos os quilómetros em todas as peças que precisamos para serem validadas e até isso estar feito não queremos validar nada a 100%. Daí adiarmos um pouco a entrada do carro novo, que vai fazer também a temporada oito”, afirmou o campeão.
Apesar de não ter o material mais recente à sua disposição, Félix da Costa garante até que isso pode ser benéfico para as aspirações da DS Techeetah. “As perspetivas para a nova temporada são boas. À partida, iríamos só fazer duas corridas com o carro atual, em Santiago e México, mas agora que as duas corrida ficaram rondas duplas, teremos de fazer quatro, no Chile e na Arábia Saudita. Acho que temos uma vantagem, vamos por o carro no chão com todo o conhecimento. As outras equipas ainda vão estar a trabalhar com carros novos e, possivelmente, enfrentar alguns problemas de fiabilidade. Por isso, vamos ter a certeza de que o que vamos levar para as primeiras corridas é um carro que conhecemos bem. Vai ser mais duro, é certo, os outros deram um passo em frente, mas tenho a certeza de que não vamos estar mal, de que vamos ter um carro ganhador e todas as hipóteses de lutar por pódios e por vitórias”.
Equipa com “ideias fora da caixa”
“Esta equipa… Quase que os poderia chamar de loucos, porque têm ideias tão fora da caixa. É contagiante ver esta vontade de inovar, de querer fazer melhor. O carro novo é muito bom, um grande passo em frente, não só em termos de potência, [mas] mais leve e mais eficiente. Infelizmente, não posso dizer algumas coisas que o carro tem, mas são algumas maluqueiras que estão lá e que estão a funcionar e que poderão ver ao vivo que é uma grande vantagem”, aponta, indicando que mudaram alguns elementos da unidade motriz, como o motor, o inversor (que é o que faz regenerar a energia) e a caixa de velocidades.
“Fomos à procura da eficiência com menos peso, pelo que creio que foi um passo em frente em todas as áreas”, afiançou, adiantando ainda que outro dos objetivos foi fazer com que o carro seja “o mais inteligente possível”.
“Basicamente, tentamos que, se em corrida, eu perder toda a comunicação rádio com a boxe, o carro quase que me diz o que tenho de fazer, se posso ir mais depressa, se é altura do ‘Attack mode’ ou alguma mensagem da FIA para as equipas. Quando falamos de um novo software, é muito sobre na temática da eficiência, a maneira como se poupa a energia numa curva rápida, tem muito que ver com o software. E depois temos também o software que a equipa tem nas boxes que ajuda a definir a melhor estratégia, consegumos ter uma imagem melhor de quem vão ser os nossos concorrentes a meio da corrida”.
Respeito mútuo entre Félix da Costa e Vergne
“No ano passado passámos por algumas fases complicadas, [mas] fomos capazes de recuperar. O respeito que temos um pelo outro ‘encheu’ e é maior ainda e tenho a certeza de que não vão existir problemas de maior. Obviamente ele quer ganhar, eu quero ganhar, por isso é deixar o melhor vencer”.
Mas, Vergne será apenas o primeiro dos seus adversários, o mesmo se passando no caso da equipa, que venceu os dois últimos campeonatos de pilotos e o último de equipas. “Quando ganhas tantos anos seguidos, passas a ter um grande alvo nas costas. Há um grande ego dos construtores e é importante para uma marca ficar à frente das outras. Por exemplo, há a guerra entre as quatro marcas alemãs. A competitividade vai aumentar. A questão da pandemia torna a solução mais complicada. Se calhar vai haver mais jornadas duplas com menos tempo para voltar à fábrica, analisar as coisas e ir de novo correr, mas acho que isso pode jogar a nosso favor, porque temos uma equipa muito bem preparada”.
Seja como for, Félix da Costa parte para a temporada sete da Fórmula E como um dos favoritos, atendendo às suas prestações na época passada, tendo tudo do seu lado para repetir a façanha histórica para o automobilismo português.
Mark Preston (Diretor da DS Techeetah): “A pressão está do lado dos outros para nos bater”
Olhando para os seus rivais e para o que espera a DS Techeetah nesta nova época, o britânico é perentório.
“Se tiverem visto as últimas corridas, a Mercedes e a Nissan estavam mesmo atrás de nós, em especial estes últimos. Obviamente, não vão desaparecer e vão continuar a forçar, como todos os outros. Mas, se o facto de ser um campeonato do mundo é uma pressão adicional? Não creio, temos os dois melhores pilotos, o melhor motor e a melhor equipa. Não vamos mudar muito entre o ano passado e este e é bom entrar no novo ano com muita experiência. A pressão está do lado dos outros para nos bater”.
Interrogado quanto à abordagem para os dois pilotos na equipa, a resposta saiu mais politicamente correta: “Neste momento, temos de nos focar nos rivais e depois logo vemos como se desenrola”.
Para garantir que tudo corre bem em pista, Preston destaca ainda o valor da simulação para conseguir ter todos os elementos na sua melhor forma.
“A importância da simulação é imensa, porque não podemos fazer muitos testes em pista. Por isso, é cada vez mais importante trabalhar virtualmente para evitar que se façam erros na pista. Cometer o menor número de erros na pista é uma vantagem competitiva. O simulador ajuda a preparar-nos”.
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