Uma temporada em que Hamilton chegou a ter 43 pontos de desvantagem para o seu colega de equipa, depois de este vencer, de forma consecutiva, as quatro primeiras provas do calendário. E em que o piloto inglês deu azo a uma ‘remontada’ digna dos melhores contos de fadas, transformando, no início de agosto, um cenário preocupante num comando de 19 pontos.
A seguir foi a vez de Rosberg brilhar novamente, vencendo nos Grandes Prémios da Bélgica, Itália e Singapura de forma consecutiva. Duas corridas depois, a desistência de Hamilton na Malásia parecia ter entregue, em definitivo, o primeiro campeonato da carreira do alemão, que voltou a estabelecer a diferença em 33 pontos. Mas eis que um novo surto vitorioso do colega na Mercedes foi adiando esse sonho.
Chegámos à última corrida do ano, em Abu Dhabi, com tudo por decidir. Mas com Rosberg na dianteira, graças aos 12 pontos que separavam os escudeiros dos ‘Flechas Prateadas’. No momento decisivo, o alemão fez a corrida calma que lhe competia, e que no fundo marcou este fim de época. Qualificou-se em segundo, conseguiu manter a posição no arranque e não cometeu qualquer erro para emular o pai e tornar-se no segundo filho de um antigo campeão do mundo (Damon Hill foi o primeiro, repetindo o feito do pai, Graham) a sagrar-se ‘rei’ da Fórmula 1.
Corrida emocionante, mas com poucos motivos de interesse
Se esperava um arranque estratosférico de Lewis Hamilton ou Nico Rosberg, desengane-se. Ambos fizeram partidas ‘normais’, mas o alemão teve a sorte de Daniel Ricciardo ter ‘patinado’ as rodas no momento em que engrenou a segunda velocidade do seu Red Bull, aguentando o ‘comboio’ liderado por Sebastian Vettel, que procurava desesperadamente ultrapassar o seu antigo colega de equipa em Milton Keynes.
Já Max Verstappen fez o favor de se despistar logo a seguir à travagem para a curva 1, não evitando um ligeiro toque em Nico Hulkenberg. Um dos fatores – a prestação da Red Bull – que poderia ‘apimentar’ a decisão do título parecia estar descartado. Faltava saber o que iria fazer a Ferrari, com Raikkonen em terceiro. Mas o finlandês nunca conseguiu ‘atacar’ o Mercedes de Rosberg. Só quando os pilotos da frente efetuaram as suas primeiras paragens nas boxes é que a corrida ganhou alguma emoção, pois a Red Bull decidiu arriscar com Verstappen, pedindo ao holandês para se manter em pista. Tudo num momento em que apenas 5s separavam os seis primeiros – algo praticamente inédito ao longo de 2016.
No regresso ao traçado, Hamilton estava na frente, mas Rosberg ficou ‘entalado’ atrás de ‘Mad Max’, que, como é costume, não facilitou em nada a ultrapassagem. Até que na volta 20, o alemão, com tudo a perder (bastava-lhe ser terceiro para garantir o título), decidiu forçar esse momento, perante os aplausos do seu engenheiro. Com isso ganhou uma vantagem suficiente para parar novamente nas boxes à 30ª volta, retornando ao Circuito de Yas Marina com 3,7s de vantagem sobre Verstappen, que apenas tinha parado uma vez.
Hamilton e Vettel procuraram surpreender
Enquanto os dois Mercedes já tinham parado duas vezes a 25 voltas do fim, Vettel apenas o tinha feito por uma ocasião, encontrando-se por isso na liderança. De forma inteligente, Hamilton, segundo à frente de Rosberg, procurou abrandar o ritmo da corrida – uma tentativa de fazer com que os pilotos que seguiam atrás do duo da Mercedes (Verstappen e Ricciardo) se aproximassem do líder do campeonato, colocando-lhe mais alguma pressão e retirando-lhe, eventualmente, preciosos pontos. Mas nada disso aconteceu, com a equipa anglo-germânica a pedir encarecidamente ao #44 para ‘abrir a pestana’. O inglês voltou então a fazer o que melhor sabe, sempre com Rosberg no seu encalço, mas sem nunca perder o controlo.
As últimas cinco voltas foram de cortar a respiração. A Ferrari acertou na estratégia, mas faltava Vettel caçar Verstappen. Numa ultrapassagem emocionante, o #5 conseguiu o que procurava. Agora tinha Rosberg à sua frente, que era novamente abrandado por Lewis Hamilton, apesar dos pedidos de Paddy Lowe e da Mercedes para aumentar o ritmo e garantir a vitória. Ao pedido de “Lewis, precisamos que andes mais depressa”, Hamilton respondeu com “Agora não posso falar”. A duas voltas do fim, “agora estou a perder o campeonato, deixem-me vencer a corrida”, voltou a dizer o inglês.
Apesar da pressão, tal não aconteceu, com Nico Rosberg a levar o carro até ao segundo posto e a festejar o primeiro título mundial da sua carreira, embora Lewis Hamilton tenha vencido 10 Grandes Prémios, contra nove do alemão.
André Bettencourt Rodrigues / Autosport