Uma corrida de loucos em Hockenheim, na Alemanha, acabou com Max Verstappen (Red Bull) na primeira posição, dando um novo triunfo à Honda, para gáudio dos milhares de espectadores holandeses que se deslocaram ao traçado germânico. Com a chuva a baralhar (e muito) as contas, Sebastian Vettel deu à Ferrari a segunda posição depois de partir do último lugar na grelha, enquanto a tarde de celebrações dos 125 anos da Mercedes-AMG acabou em desastre: Lewis Hamilton foi apenas o 11o e Valtteri Bottas despistou-se a oito voltas do fim quando lutava pelo pódio.
Um total de 78 paragens nas boxes, chuva intermitente e muitos erros dos pilotos tornaram o GP da Alemanha de Fórmula 1 numa das corridas mais inesperadas dos últimos tempos, já que foram muitas as reviravoltas em praticamente todo o pelotão, com o resultado final a decidir-se nas últimas voltas.
No início da prova, com a chuva a cair, a direção de corrida optou por fazer três voltas de formação, para que os pilotos percebessem como estava o circuito, fazendo-se um arranque tradicional, com os 20 carros parados. Em sequência, Hamilton (autor da pole) e Bottas (terceiro) partiram melhor e saltaram para as duas primeiras posições, enquanto mais atrás Charles Leclerc recuperava desde logo alguns lugares desde o 10º, o mesmo fazendo Vettel partindo de último.
Com os pilotos indecisos em muitos casos entre pneus slick macios e pneus intermédios para chuva ligeira, algumas jogadas estratégicas não pagaram dividendos, já que as condições da pista iam-se alterando de forma muito rápida. Vários foram os pilotos apanhados desprevenidos pela chuva: primeiro nome sonante foi mesmo o de Verstappen, que fez um pião completo sem consequências de maior que não apenas a perda de tempo, mas, mais graves foram os casos de Charles Leclerc (Ferrari), que era segundo e estava em posição de lutar pelo triunfo na perseguição a Hamilton quando se despistou na penúltima curva, embatendo no muro de pneus, curiosamente o mesmo sucedendo na volta seguinte a Hamilton no mesmo local, embora tenha conseguido sair da escapatória com danos no seu Mercedes. Ato contínuo, entrou na via das boxes, mas fê-lo ao passar já para lá de um pino delimitador entre a pista a faixa de acesso, pelo que viria a ser penalizado em cinco segundos por essa infração.
Além disso, a sua equipa não estava preparada nem para mudar os pneus do seu carro, nem para substituir a asa dianteira do Mercedes, danificada no toque com a barreira de pneus.Viria ainda a sair uma segunda vez, prejudicando definitavamente qualquer pretensão de ainda chegar aos pontos. Também Nico Hulkenberg desperdiçou um potencial segundo lugar ao sair de pista no mesmo local que Leclerc e Hamilton, ficando preso na escapatória. A penúltima curva foi, aliás, ainda ‘armadilha’ não ‘fatal’ para Kimi Raikkonen (Alfa Romeo) e Carlos Sainz (McLaren), entre outros, que prosseguiram a sua prova, mesmo que perdendo tempo.
Exemplificando a variedade estratégica, houve quem fizesse três paragens e seis paragens, usando-se todos os pneus à disposição com exceção dos duros. As 78 paragens nas boxes resultaram na utilização de 97 jogos de pneus.
Verstappen, que chegou a parecer fora da batalha pelo triunfo após o seu pião, acabou por chegar ao comando a uma vintena de voltas do fim, mas os lugares subsequentes eram tudo menos comuns: Lance Stroll (Racing Point) foi o primeiro a apostar em pneus para seco na parte decisiva da corrida e saltou para o segundo lugar, à frente de Alexander Albon (Toro Rosso), Daniil Kvyat (Toro Rosso), Bottas, Sainz, Raikkonen e de um esforçado Vettel, que atacou na parte final para subir de sétimo para segundo.
A sua tarefa foi ajudada pelo despiste de Bottas a oito voltas do final, desta feita na saída da primeira curva, exagerando ao pisar os corretores ainda molhados e embatendo depois, com violência no muro exterior da pista. Nova situação de safety car e um novo ajuntamento para as quatro voltas finais, com Verstappen a ganhar logo um pequeno avanço, mas mais atrás a batalha a desenrolar-se de forma agressiva, com Albon a ser o principal perdedor, já que de uma única assentada caiu para quinto.
Num esforço final, Vettel superou primeiro Sainz, depois Stroll e, por fim, Kvyat, compensando assim o desaire de Leclerc e sendo muito saudado pelos adeptos locais, que tinham assim um piloto alemão no pódio. Na frente, também para gáudio de muitos dos holandeses que foram a Hockenheim, Verstappen cruzou a linha de meta em primeiro, dando mais um triunfo à Honda, que num dado curioso conseguiu ter dois carros no pódio, uma vez que Kvyat obteve um excelente terceiro lugar.
Lance Stroll terminou em quarto, na frente de Sainz e de Albon, que contribuiu para um ótimo resultado de conjunto da Toro Rosso. Também bom resultado de conjunto para a Alfa Romeo, que ficou com os seus dois pilotos nos pontos: Kimi Raikkonen foi o sétimo e Antonio Giovinazzi o oitavo*. Nas duas posições finais dos pontos, os dois Haas, com Romain Grosjean a ficar à frente de Kevin Magnussen depois de os dois pilotos se terem chegado a tocar numa tentativa de ultrapassagem do francês, para surpresa deste.
Fora dos pontos ficou Hamilton, que teve assim uma corrida alemã para esquecer, mas que até tinha começado de forma promissora até ao momento em que sofreu o seu despiste, momento que alterou decisivamente a sua corrida. De resto, a Mercedes-AMG não marcou qualquer ponto na Alemanha*.
*ATUALIZAÇÃO
Se, inicialmente, Lewis Hamilton tinha ficado fora dos pontos, uma penalização imposta aos dois pilotos da Alfa Romeo por infrações no procedimento de partida, levou a que tanto Raikkonen como Giovinazzi perdessem os pontos obtidos na corrida, com Hamilton a subir para o nono lugar (valendo dois pontos) e Robert Kubica a subir para o décimo lugar e a obter, dessa forma, o primeiro ponto da temporada para a Williams em 2019.
MAIS
Max Verstappen, Honda e Sebastian Vettel: Com uma exibição brilhante, Verstappen voltou a demonstrar o seu talento em condições muito difíceis, o mesmo se aplicando a Vettel, que conseguiu subir de último a segundo sem cometer o mínimo erro ao longo da prova alemã, redimindo-se, de certa forma, do erro do ano passado cometido naquele mesmo circuito. Já a Honda obteve o segundo triunfo em 2019 e colocou dois carros no pódio, levando mesmo a ironizar com aquela que havia sido a denominação de ‘motor de GP2’ que Fernando Alonso atribuíra no passado aos componentes da marca nipónica.
MENOS
Lewis Hamilton, Valtteri Bottas, Mercedes, Charles Leclerc e Pierre Gasly: As condições da pista não eram fáceis e nem os melhores falham, como demonstrou Hamilton ao sair de pista por duas vezes, a primeira das quais com danos severos no seu carro. Para piorar a situação, de seguida, assistiu-se a um raro momento de descoordenação da Mercedes, que na paragem das boxes demorou imenso tempo para reparar o monolugar do britânico. A tarde da equipa viria a ser ainda pior devido ao despiste de Bottas, quando procurava chegar ao segundo posto. Um exagero que terá custado caro, havendo quem diga que terá ali perdido o lugar na equipa para 2020. Também Charles Leclerc cometeu um erro que lhe custou caro. Quando procurava atacar Hamilton e era segundo, um excesso na penúltima curva levou-o a sair de pista, terminando a sua corrida contra a barreira de pneus. Nota ainda negativa para Gasly, da Red Bull. Em perfeito contraste com Verstappen, a temporada de Gasly não ‘descola’ do meio do pelotão, cometendo dois erros neste fim de semana, o primeiro nos treinos livres, o segundo na corrida, acabando por desistir quando procurava ganhar uma posição no meio da tabela. Com os dois novos recrutas da Toro Rosso a impressionarem, a vida de Gasly não está fácil para manter a posição na Red Bull em 2020.