Mesmo com os dois triunfos em Spa-Francorchamps e em Monza, circuitos de alta velocidade com poucas curvas lentas, poucos seriam aqueles que apostariam num triunfo da Ferrari no traçado urbano de Marina Bay, sobretudo com sinais de domínio. Mas foi exatamente isso que sucedeu no início da noite de Singapura, com os dois carros italianos a dominarem a corrida, mesmo que os seus rivais nunca tenham estado propriamente distantes.
Autor da pole position, Charles Leclerc, ficou com o segundo lugar, tendo sido batido desta feita pela melhor estratégia de Vettel, que parou uma volta depois para trocar de pneus e, com isso, saltou do terceiro posto – o qual ocupou na primeira fase da prova, atrás de Leclerc e de Lewis Hamilton (Mercedes-AMG) – para uma posição de potencial liderança, a qual viria a ser confirmada depois com as paragens dos outros dois pilotos.
Leclerc liderou a corrida desde o arranque, mas com os pneus macios a serem uma escolha comum entre os primeiros, o ritmo pareceu sempre estar contido, com o sexteto da frente composto por Leclerc, Hamilton, Vettel, Max Verstappen (Red Bull Honda), Valtteri Bottas (Mercedes-AMG) e Alex Albon (Red Bull-Racing) a procurar poupar os seus pneus para uma melhor estratégia. Foram Vettel e Verstappen os primeiros a parar entre os líderes, à 20ª volta, o que valeu a Vettel o salto para à frente de Leclerc, que parou uma volta depois, e de Hamilton, que parou apenas à 26ª volta. Com esta manobra, também Verstappen viria a ficar à frente de Hamilton, naquela que foi uma má operação para a equipa alemã.
Para Leclerc, a decisão de parar primeiro Vettel acabou por gerar algum desconforto, com o piloto monegasco a mostrar-se sempre muito contundente nas suas palavras para a equipa. Na fase final da prova, Leclerc chegou mesmo a pedir à equipa que lhe desse “tudo, incluindo o modo de motor”, que teoricamente lhe daria potência máxima para atacar a liderança de Vettel, apenas para ser alertado pela equipa que a prioridade era ter os dois carros no final.
Charles Leclerc: “Quero tudo, mesmo o modo de motor”.Ferrari: “Charles, temos de gerir [a situação] e trazer o carro até ao fim, temos de gerir a PU [NDR: unidade de potência, vulgo motor] e fazer o carro chegar ao fim”.
Charles Leclerc: “Sim, eu não vou fazer nada de estúpido, não é o meu objetivo. Quero que acabemos em primeiro e segundo. Apenas acho que não é justo. Isto não vai mudar. Não vou ser estúpido.
- Diálogo entre Charles Leclerc e a sua equipa, a cerca de 20 voltas do final, prestes a terminar um período de safety car.
Ainda assim, embora o triunfo tenha sido merecido, Vettel não evitou um pequeno susto quando depois das paragens nas boxes, atrás de outros pilotos mais lentos que estavam à sua frente na classificação em virtude de não terem parado – Antonio Giovinazzi (Alfa Romeo) foi líder por algumas voltas após as paragens dos pilotos da frente, à frente de Pierre Gasly (Toro Rosso Honda), Daniel Ricciardo (Renault) e Lance Stroll (Racing Point). Ao apanhar Gasly, o homem da Ferrari foi demasiado otimista e na ultrapassagem quase forçava um contacto, embora o francês tenha evitado o mesmo ao desviar-se para fora da pista.
O lugar mais baixo do pódio ficou com Verstappen, numa boa operação para a Red Bull, sobretudo por ter conseguido superar o Mercedes-AMG do favorito ao triunfo, Lewis Hamilton, que desta feita não foi além do quarto lugar final, com o britânico a não conseguir suplantar o holandês na parte final da corrida. Valtteri Bottas ficou em quinto, ao passo que Albon, no outro Red Bull, terminou em sexto.
Pierre Gasly foi o oitavo, na frente de Nico Hulkenberg, que foi o único dos Renault a pontuar depois de Daniel Ricciardo ter começado do final da grelha e de ter sofrido um furo após um toque noutro carro enquanto procurava já lutar por um lugar nos dez primeiros. Giovinazzi cruzou a meta em décimo, com o Alfa Romeo, depois de ter estado a liderar o grande prémio durante algumas voltas. Após a prova viria a receber uma penalização de dez segundos (adicionados ao seu tempo final), mas manteve o seu ponto.
Com este triunfo, o primeiro de Vettel desde a Bélgica de 2018 e o terceiro consecutivo da Ferrari, a equipa italiana parece ter recuperado alguma da sua competitividade para animar o campeonato até final, mas o atraso na tabela pontual face aos Mercedes não lhes deverá dar já para lutar pelos títulos.
Nota para três abandonos apenas, todos eles a obrigarem à entrada em pista do safety car – George Russell (Williams), Sergio Perez (Racing Point) e Kimi Raikkonen (Alfa Romeo), este último vítima de um excesso de Daniil Kvyat (Toro Rosso).
Percorra a galeria de imagens acima clicando sobre as setas.