GP Inglaterra: Mercedes ou Ferrari, quem ganha?

06/07/2018

O duro soco no estômago que a Mercedes apanhou no GP da Áustria deixou Toto Wolff e Niki Lauda devastados. Não houve tempo para lamber as feridas e depois do das montanhas da Estíria, o mundial de Fórmula 1 já desembarcou em terras britânicas para cumprir a visita anual ao “templo” de Silverstone, com uma antevisão bem mais favorável…

A décima paragem desta viagem em redor do globo que é o Mundial de Fórmula 1, é feita numa pista rápida, o que entorna o favoritismo para o colo da Mercedes. Aliás, nos últimos anos a casa alemã tem sempre o ás de trunfo na mão, dominando como quer o GP da Grã-Bretanha com a vedeta Lewis Hamilton. E contra factos não há argumentos: nos últimos cinco anos a vitória foi Mercedes e nos últimos quatro foi Hamilton quem festejou no topo do pódio.

Curiosamente, este é o ano em que pela primeira vez na história longa da Fórmula 1, os primeiros nove Grandes Prémios da temporada ficaram, igualmente divididos, por três equipas (Mercedes, Ferrari e RedBull têm três vitórias cada uma). Por outro lado, a RedBull é a única equipa que viu os seus dois pilotos ganharem, com Daniel Ricciardo a bater Max Verstappen por 2-1.

Depois de ganhar no Canadá, onde pensava que ia perder, e ver Sebastien Vettel dar um tiro nos pés em França, Maurizio Arrivabene agarrou com unhas e dentes o resultado do RedBull Ring que devolveu à Ferrari o comando dos campeonatos de pilotos e equipas. Talvez por isso, a Ferrari encheu o peito de ar e acredita que em 2018 o resultado final do GP de Inglaterra poderá vestir-se de vermelho.

Mas… e nestas coisas, há sempre um mas!, a Mercedes está apostada em repor a (sua) ordem das coisas e recuperar o comando das operações, aproveitando um circuito que lhe serve de forma perfeita.

O traçado de Silverstone tem um perímetro de 5,9 quilómetros e a sequencia de curvas de Maggots, Becketts, Chappel e Copse, juntamente com outras zonas de forte apoio, são perfeitas para carros com longa distância entre eixos e este circuito acaba por servir de forma perfeita ao Mercedes W09 como as curvas lentas do Mónaco rimam de forma perfeita com o RedBull.

Mas há ainda outro pormenor que acentua o favoritismo dos Mercedes. Os carros de 2018, mais largos e com mais borracha disponível em pneus que voltam a ter menos 4 mm de altura na banda de rolamento, algumas curvas de Silverstone vão ser feitas a fundo. Por exemplo, Copse era feita com um levantar de pé, desta feita será a fundo sem grandes dificuldades, pelo que a performance do motor será essencial. Ora, a nova evolução da unidade de potência da Mercedes mostrou que deu um passo em frente em termos de desempenho e um atrás em termos de fiabilidade. Sabia que a Mercedes não perdia dois carros na mesma corrida deste o GP de Espanha de 2016, prova, curiosamente, ganha por Max Verstappen na frente de Kimi Raikkonen e Sebastien Vettel? E sabia que a última vez que a Mercedes perdeu dois carros num GP devido a problema técnico foi no GP de Italia de 1955 (embora nessa prova tivesse quatro carro e os outros dois acabaram em primeiro e segundo)? Já agora, sabia que foi a primeira vez, após 22 corridas, que não houve pilotos Mercedes no pódio e que o recorde de pódios consecutivos pertence á Mercedes com 28 corridas entre Austrália 2014 e Silverstone 2015?

Com cada volta a ser cumprida 70% do tempo de acelerador a fundo, a vantagem está do lado da Mercedes e, também, da Ferrari com a RedBul, em teoria, a estar fora desta luta pois o motor Renault, mesmo com o novo “party mode”, está longe das unidades de potência alemães e italianas.

Como referi acima, os pneus Pirelli P-Zero voltam a exibir menos 4 mm de altura na banda de rolamento e, se recordarem, quando a casa italiana ofereceu estes pneus (Espanha e França), Lewis Hamilton e a Mercedes esmagaram a concorrência. Bem que o quatro vezes campeão do mundo gritou aos quatro ventos que não sentiu diferença nenhuma nos pneus que já ninguém acredita nisso, pois ficou evidente o melhor controlo da temperatura dos pneus com a banda de rolamento mais fina.

A escolha das misturas verte, igualmente, a favor da Mercedes pois para SIlverstone, a Pirelli oferece os pneus Macios, Medios e Duros, ou seja, as misturas com que a Mercedes melhor se dá. A escolha destas misturas deve-se ao receio da Pirelli que a maior velocidade de passagem em curva coloque mais pressão sobre as borrachas italianas e comecem a granular e abrir bolhas como sucedeu no RedBull Ring.

E esta situação introduz o famoso grão de areia que pode estilhaçar o favoritismo da Mercedes. Os chassis mais benignos com os pneus de Ferrari e RedBull reequilibram os pratos da balança. Fica depois, no ar, a questão da estratégia. A Mercedes errou de forma clamorosa no RedBull Ring no que toca à estratégia e isso acabou por ser ainda mais doloroso após o abandono dos dois carros devido a falhas técnicas.

Contas feitas, o favoritismo da Mercedes é uma evidência, mas não absoluta, pois há algumas variáveis que a casa alemã não controla e pode abrir a porta à Ferrari, já que a RedBull não deverá ter arcaboiço para que Max Verstappen repita a vitória – a primeira da RedBull no RedBull Ring – depois de ter feito o terceiro lugar no Canadá e o segundo em França.

Curiosamente, o favoritismo da Mercedes não desfoca o palmarés da Ferrari em Silverstone. A casa de Maranello já venceu por 16 vezes na Grã-Bretanha das quais treze em Silverstone, sendo a equipa que mais vitórias possui na ilha britânica. Os últimos cinco anos não têm sido risonhos, é verdade, e em 2017 os pneus foram uma questão premente que acabou por arruinar a corrida de Vettel, salvando Raikkonen a honra do “Cavallino Rampante” com um pódio, tendo a última vitória da Ferrari acontecido em 2011, com Fernando Alonso.

Os homens comandados por Maurizio Arrivabene querem mudar o cenário dos últimos anos e levaram debaixo do braço um novo fundo plano e um redesenhado difusor, capazes, acredita Mattia Binotto, de fazerem o SF71H andarem a fundo nas curvas de Silverstone. Já agora, convém lembrar que a Ferrari alongou a distância entre eixos porque sentiu que em pistas como a britânica ficava muito para trás. A Mercedes manterá o enorme pacote aerodinâmico estreado na Áustria, mas desembarcará em Inglaterra com um novo nariz no W09 e uma renovada asa dianteira.

No campo da RedBull, apesar de Max Verstappen ser adepto das grandes declarações quando fica de peito cheio – “o chassis do RB14 é o melhor do plantel!” – a verdade é que em Silverstone será difícil ao holandês e a Daniel Ricciardo estarem na luta pela vitória. O motor Renault não ajuda e para que a equipa austríaca consiga entrar na luta terá de fazer a dança da chuva e esperar que um par de safety car virtuais ou reais, estabeleçam a confusão nos estrategas de Mercedes e Ferrari.

Fica mais um dado para juntar à equação que poderá encontrar o vencedor: todo o circuito de Silverstone foi reasfaltado. Lembram Barcelona? Circuito com novo asfalto, pneus com faixa de rolamento mais fina 4 mm? Em Inglaterra juntam-se os pneus mais duros para oferecer à Mercedes o claro favoritismo. A beleza e competitividade da Fórmula 1 atual está, exatamente, aqui… é complicado antever de forma certeira o que vai acontecer e já falhei algumas previsões aqui no Autosport e na Sport TV. Mas fazer prognósticos depois do jogo não é para mim…

José Manuel Costa