Jean Ragnotti: O ‘domador’ francês dos Renault Turbo

22/07/2019

Lenda dos ralis, Jean Ragnotti ficou imortalizado na história da modalidade por oferecer à Renault o primeiro triunfo na modalidade de um carro com motor turbo, quando em Monte Carlo, 1981, bateu os favoritos Audi Quattro ao volante do seu Renault 5 Turbo.

Tal como fez na Fórmula 1, a metodologia de competição turbo foi também aplicada pela Renault nos ralis, com o 5 Turbo, um modelo que viria a fazer história no Mundial de Ralis. Reconhecendo a paixão e a lealdade à marca francesa, Ragnotti nunca deixou a Renault ao longo de uma carreira na qual teve vários pontos altos, conforme explicou ao Motor24 numa breve conversa que teve lugar em Paris.

Nunca tendo deixado a Renault, Jean Ragnotti não lamenta esse facto, recordando que foi na Renault que teve acesso a um amplo leque de possibilidades de competição diferentes. Ainda assim, confessa que teve convites de outras marcas.

“Tive convites de outras equipas, como a Peugeot de Jean Todt [NDR: antigo diretor da divisão desportiva da Peugeot entre as décadas de 1980 e 1990], mas a Renault permitia-me conduzir outros carros e dava-me prazer… Fornecia-me a melhor escolha de carros de competição. Além dos ralis, também fiz [as 24 Horas] de Le Mans por sete vezes e adorei”, refere o ex-piloto, hoje com 73 anos, mas ainda com grande energia.

Sobre os carros do passado, recorda que eram máquinas mais difíceis de gerir, até pela forma como a entrega da potência era feita, com alguma brusquidão pela entrada em ação do turbo numa era em que a tecnologia de sobrealimentação estava ainda a dar os seus primeiros passos na indústria automóvel. E aponta o Renault 11 Turbo Grupo A como aquele que lhe concedeu melhor prazer de pilotagem.

“Com o 11 Turbo obtive o melhor resultado da carreira [NDR: foi vice-campeão de Ralis da FIA na categoria de 2 Rodas Motrizes]. Tinha apenas duas rodas motrizes mas a sua eficácia era extraordinária”, aponta, acrescentando ainda que “na terra, o 11 era melhor do que o 5, não era tão potente, mas era mais fácil de explorar o motor”.

Mas foi com o 5 Turbo que causou sensação, ao vencer o Rali de Monte Carlo de 1981 de forma inesperada, batendo máquinas que, à partida, estariam melhor preparadas para os pisos sempre arriscados da prova monegasca. Recorda que era um motor “algo violento e que era preciso estar sempre muito concentrado na pilotagem”, mas que em 1982 se “tornou mais fácil e suave de conduzir depois de um ano de trabalho dos engenheiros da Renault”.

Elege ainda o Renault 8 Gordini “como um ótimo carro para servir de escola de aprendizagem para a pilotagem de alto nível” e recorda que uma das suas qualidades ao longo da carreira foi a facilidade de adaptação a diversos carros e pisos.

A comparação com a atualidade é sempre tema e Ragnotti não se coibiu de fazer uma apreciação do que mudou em cerca de quatro décadas: “Os ralis do meu tempo eram muito mais longos e exigentes. Quando fazíamos um rali do mundial na época eram dois ou três dos atuais. Hoje, começa-se na sexta-feira de manhã e são cerca de 300 quilómetros…”. Também os carros, diz, “parecem ser mais fáceis de conduzir, o que até alguns pilotos dizem”, fazendo também uma hierarquia de favoritos no Mundial de Ralis atual.

“Há alguns pilotos muito fortes hoje, mas diria que o Ott Tanak está um pouco mais rápido do que os outros, como o Sébastien Ogier ou o Thierry Neuville, mas são todos muito semelhantes. Também me parece que os carros têm todos uma performance muito semelhante hoje em dia”.

Garantindo que guarda “as melhores recordações do Rali de Portugal, com os seus espectadores nas especiais de Sintra”, o gaulês elogia a evolução do desporto em termos de segurança, dizendo que hoje está tudo muito mais seguro.

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