Naquela que foi a primeira corrida do Mundial de Resistência (WEC) em solo europeu (segunda do calendário), pudemos acompanhar bem de perto a Team Peugeot TotalEnergies nas 6 Horas de Portimão, com os revolucionários 9X8 Hypercar a deixarem boas indicações nas mais de 439 voltas completadas, em ritmo de corrida ao traçado algarvio.

Dona de um passado desportivo com algumas das criações mais icónicas do automobilismo, o departamento de competição Peugeot Sport, criado há mais de 40 anos, merece todo o respeito. Seja nos troços de rali, nas subidas em Pikes Peak, ou nos desertos impiedosos, a marca sempre garantiu triunfos. Mas também o conseguiu na resistência, assim como num lugar muito importante e por três diferentes ocasiões: as 24h de Le Mans, onde triunfaram em 1992 e 1993 com o Peugeot 905, e em 2009 com o Peugeot 908, que venceu igualmente 20 das 32 corridas nas quais participou.

O Peugeot 9X8 é o sucessor espiritual destes protótipos de resistência com pedigree
vencedor.

Mas, mesmo com um grande ‘peso nos ombros’, o 9X8 vai mais longe, sendo um
conceito inovador que une a Team Peugeot TotalEnergies à Peugeot Design Lab, de
forma a desenvolver um automóvel que, para além de se esperar rápido e vitorioso, seja
também imediatamente reconhecido como uma criação da marca francesa, entregando a
emoção e dinamismo de um automóvel de corridas.

Depois, existe também o ‘pormenor’ de o Peugeot 9X8 não contar com asa traseira,
tornando-o numa criação totalmente distinta dos Hypercars que correm neste campeonato: é preciso recuar até 1971 para encontrar um vencedor das 24h de Le Mans sem asa traseira. Uma solução que era até agora “standard”, mas em que a Peugeot resolveu inovar e não colocar no seu protótipo, seguindo uma direção completamente distinta.

O ‘leão’ de pista

O Peugeot 9X8 é um Hypercar, por isso pode ser baseado tanto em automóveis de estrada, como em protótipos, podendo contar com uma potência total de 500 kW (670 CV), com
um peso mínimo de 1030 kg. Para se ter uma noção, o Peugeot 208 mais leve vendido em
Portugal pesa 1098 kg… mas tem apenas 75 CV.

Esta categoria permite ainda uma maior variedade de abordagens por parte das equipas, não só na sua forma exterior, mas igualmente na abordagem técnica, nomeadamente nos motores. No caso da Peugeot Sport, o 9X8 é composto por um motor a combustão V6 de 2.6 litros Bi-Turbo com o ‘V’ a 90º, em conjunto com um motor elétrico de 200 kW, montado na dianteira, alimentado por uma bateria de 900 V, desenvolvida em conjunto pela TotalEnergies e pela Saft, garantindo-lhe a tração integral.

Os bastidores

Durante a corrida, conhecemos os “cantos à casa”. Começando pela Motorhome, utilizada pela primeira vez esta época que inicia a ronda europeia. Entramos num local onde as famílias dos pilotos, parceiros e convidados da marca podem assistir às corridas, com a responsável pela nossa visita a explicar que tanto este local, como as boxes, contaram com a ajuda da Peugeot DesignLab para garantir um espaço mais “clean” seguindo o aspeto do 9X8.

Para além de um amplo lounge, existem duas salas para briefing (e debriefing) que estão constantemente ligadas à sede da PeugeotSport em Versalhes, onde se discutem
diversas ideias, estratégias e se solucionam problemas. Ao lado encontramos, numa outra divisão, duas marquesas, onde os pilotos (e restantes membros da equipa) recuperam, já que as corridas podem durar entre 6 horas, como esta em Portimão, passando pelas 8h até às “duríssimas” 24h de Le Mans. Para isso, a Peugeot Sport conta com dois massagistas que acompanham a equipa por todo o campeonato, que percorre três continentes.

Por falar nisso, a PeugeotSport leva consigo, para cada circuito, cerca de 60 pessoas no total, entre mecânicos, engenheiros, responsáveis pela comunicação e até motoristas dos três camiões que são usados na ronda europeia. Este número pode aumentar para as 80 pessoas nas corridas mais longas.

O primeiro camião já o conhecemos, compondo o motorhome. O segundo é uma sala de engenheiros, que fora das boxes traçam estratégias em conjunto com aqueles que encontraremos dentro da garagem, como remotamente em França. O terceiro camião é uma verdadeira oficina, que permite que os mecânicos construam peças dos carros no local. Aqui, a particularidade é que todos os armários estão dispostos da mesma maneira que na fábrica, para um acesso mais rápido. Para além disso, todas as ferramentas, da maior à mais pequena, contam com um QR Code que permite saber “quantos quilómetros já viajou”, de forma a saber se está perto do prazo de trocar. Tudo para evitar males maiores.

Passando para o interior das boxes, conhecemos algumas peças principais do Peugeot 9X8. Começando pelas jantes e pneus, que a equipa tem de trocar em tempo recorde: cada conjunto pesa 20 kg. Toda a carenagem dianteira, incluindo os faróis LED que garantem a luz nas corridas noturnas, é a peça mais pesada, com 58 kg. Já a traseira, também com as luzes, tem um peso de 38kg.

O capot motor, a que chamam de “shark fin”, das peças grandes é a mais leve, pesando apenas 10 kg. Tudo isto pode ser retirado e colocado rapidamente tanto no Peugeot 9X8 com os números 93 ou 94, de forma a perder o mínimo de tempo possível em caso de necessidade. Estas peças conseguem este peso graças à sua construção em fibra de carbono (com a dianteira a contar também com Kevlar) garantindo o baixo peso, mas igualmente a forte resistência conhecida deste componente.

Na box, organizada de forma mais “aberta” e simples, encontramos mais engenheiros, 12 no total, divididos pelos dois carros, que analisam toda a telemetria durante os treinos, qualificações e corridas. Em redor, algumas peças já preparadas para irem diretamente para o Peugeot 9X8, se necessário.

No local onde os carros costumam estar entre as diferentes sessões, os mecânicos estão a postos, preparados para qualquer eventualidade, controlando a corrida pelos ecrãs, mas também à escuta graças aos auscultadores com que todos contam, para que as reações sejam rápidas. Pudemos assistir a uma paragem nas boxes, onde se verificou a rapidez e organização desta equipa, que utilizou esta prova algarvia para continuar a preparar o seu protótipo, que garantiu lugar no Top 5 com o carro 94 de Nico Müller, Gustavo Menezes e Loïc Duval. O Peugeot 9X8 #94 teve de sair das boxes no início da corrida, tendo de lidar com todo o pelotão nas primeiras voltas, terminando em sétimo lugar, com uma boa estratégia.

Créditos: Rodrigo Hernandez

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