A Honda e a Toyota uniram esforços para trabalharem em conjunto na viabilidade do desporto automóvel no Japão numa era em que a sustentabilidade ganha cada vez maior preponderância. O objetivo é encontrar uma fórmula que permita manter o sucesso de uma das competições locais, a Super Fórmula, com vista aos próximos 50 anos.

O Campeonato Japonês de Super Fórmula, organizado pela Japan Race Promotion (JRP), é um dos mais importantes do país (a par do Super GT), chegando ao seu 50º aniversário este ano, mas os desafios ambientais e económicos obrigam a repensar esta modalidade. Foi precisamente isso que a Honda Racing Corporation (HRC) e a Toyota Gazoo Racing (TGR) se comprometeram a fazer para desenvolver as linhas que vão guiar os próximos 50 anos da competição.

Embora seja um campeonato local, o desenvolvimento técnico da Super Fórmula é bastante interessante, tendo um aprumo aerodinâmico evoluído semelhante aos Fórmula 1 e motores de quatro cilindros em linha e 2.0 litros de cilindrada com uma potência acima dos 500 CV, contando com o envolvimento oficial da Honda e da Toyota. Os monolugares, os pneus e todas as outras partes fundamentais são fornecidas por um único fornecedor em cada uma das áreas, pelo que a diferença está no talento do piloto.

Desta competição – ainda que com denominação diferente – destacaram-se no passado pilotos como Satoru Nakajima, Aguri Suzuki, Ralf Schumacher, Pedro de la Rosa, Tom Coronel, Tora Takagi ou Andre Lotterer, muitos dos quais com passagem pela Fórmula 1.

Com uma popularidade em queda – até mesmo em comparação com o Super GT –, o site Toyota Times conta que um dos momentos determinantes para dar início a esta reforma que agora se aproxima foi a visita do CEO da Toyota, Akio Toyoda, à sua equipa a Rookie Racing em agosto de 2020 naquela que foi a primeira corrida daquela temporada após a disrupção causada pela pandemia de Covid-19. Depois de falar com a sua equipa, Toyoda propôs um encontro com o Presidente da JRP, Yoshihisa Ueno, para pensar em formas de revitalizar a modalidade.

Mas foi também a Covid-19 que colocou a nu um dos problemas da competição – a falta de emoção. Devido à necessidade de reduzir o número de pessoal nas equipas, foi proibido o reabastecimento na corrida e a obrigatoriedade de mudanças de pneus, pelo que as corridas tornaram-se monótonas.

Pouco depois dessa primeira prova e do contacto inicial entre Toyoda e Ueno, o responsável máximo da Toyota, ele próprio um piloto nas horas vagas, contactou o seu congénere da Honda, então Takahiro Hachigo quanto à necessidade de tornar as corridas mais interessantes.

Pensar nos próximos 50 anos

Assim nasceu o conceito SF NEXT50, ou seja o ideal de desenvolvimento de competição para os próximos 50 anos da Super Fórmula, procurando agora tornar a modalidade num palco de desenvolvimento para novas tecnologias de mobilidade, com foco em duas áreas para a próxima geração de carros da modalidade, os quais irão entrar em cena na próxima temporada: fazer experiências com materiais, pneus e combustíveis para ajudar na neutralidade carbónica e melhorar a aerodinâmica para maximizar o potencial do piloto.

No passado dia 18 de julho, pilotos e engenheiros da Honda e da Toyota testaram os seus carros na área em redor de Fuji Speedway, focando-se em áreas como os pneus com materiais mais sustentáveis e novas soluções aerodinâmicas. Noutra diferença face ao passado, de forma a trazer mais adeptos, os testes de desenvolvimento são abertos ao público, retirando assim uma grande parte da aura de secretismo e de inacessibilidade que geralmente está associada a este tipo de situação.

O site Toyota Times dá ainda conta de uma interessante rivalidade saudável entre as duas marcas japonesas numa área tão simples como a da sonoridade dos motores. Num dos testes, a Toyota estava a empenhar-se neste aspeto, com o responsável de projeto da HRC, Masahiro Saiki, a gostar tanto do que estava a ouvir proveniente do sistema de escape do motor Toyota que foi incentivado a fazer melhor. “Se a Toyota se adianta, nós não nos conseguimos conter enquanto engenheiros – temos de fazer algo ainda melhor”, é citado Saiki, que até gostaria de voltar a ter motores com múltiplos cilindros que não apenas os quatro na atualidade.

Desse momento resultou um pedido inusitado da equipa de desenvolvimento da Honda para entrar na boxe da Toyota para ver o sistema de escapes, como refere o responsável da Toyota Racing Development (TRD): “Normalmente, não entramos nas boxes da Honda e eles não entram nas nossas. Isso nunca aconteceria numa corrida normal, mas este ambiente torna isso possível. Vimos que não havia problemas em mostrar-lhes. A resposta de Saiki foi ‘vamos construir algo melhor para a próxima vez’”.

Tendo no topo das prioridades o objetivo de tornar a competição mais amiga do ambiente, também os resultados dos testes são partilhados, incluindo ao nível do desenvolvimento dos combustíveis sustentáveis que irão reduzir substancialmente as emissões poluentes

Como corolário deste esforço conjunto, os carros apareceram em pista nesse teste com os dois logótipos da marcas – HRC e TGR – nas asas dianteiras, diluindo as rivalidades num espírito de cooperação para um bem maior: o progresso e manutenção do desporto automóvel como uma área relevante de desenvolvimento para a mobilidade no Século XXI.