Mais do que possuir um automóvel, o futuro da mobilidade nas grandes cidades vai passar por ter sempre um carro disponível quando for necessário. Esta foi uma das conclusões retiradas da mais recente edição das Conversas AICEP, na qual se debateu o futuro da mobilidade dentro das grandes cidades e a forma como os anos vindouros trarão enormes mudanças na tecnologia e na indústria do automóvel, havendo uma ligação fundamental entre estes dois elementos.

Abordando um “futuro que já não é tão futuro assim”, esta conferência teve a moderação de João Caboz Santana, Presidente da direção da AICEP, cabendo ao jornalista da Global Media Group e do Motor 24, Pedro Junceiro, a tarefa de apontar as tendências que irão marcar o futuro dos automóveis e da tecnologia.

Para o jornalista e orador, a chegada dos veículos autónomos “é uma certeza e está mais perto do que se esperava há alguns anos”, sendo esse desenvolvimento tecnológico das marcas automóveis suportado, em grande parte, pela enorme torrente de parcerias entre estas e as companhias tecnológicas como a Microsoft ou a Google, que têm desenvolvido novos métodos para a introdução desta revolucionária tecnologia, mercê de fortes investimentos na área da tecnologia.

Além disso, destacou-se, também a questão da revolução perpetrada pelas companhias de mobilidade associadas às plataformas digitais como a Uber, Cabify ou MyTaxi, que permitem novos formatos de deslocação dentro das grandes cidades. Esses poderão vir a eliminar a tradicional forma de posse do automóvel, variando para um formato de serviço de automóveis, em que, mediante um pagamento ou cartão, um cliente passará a ter um carro sempre que queira, mas sem que seja seu – “em muitos casos, poder-se-á vir a ter um serviço de carros e não um carro próprio”, referiu.

Evolução massiva

Uma das necessidades para a implementação da condução autónoma e dos sistemas de comunicação entre veículos e destes com as infraestruturas passa pela melhoria da rede, que terá de ser baseada no 5G devido “ao enorme fluxo de troca de dados que um veículo autónomo irá procurar”, apontou Pedro Junceiro.

Enquanto os veículos puramente autónomos não chegam, necessitando ainda de um quadro de regulação normativo adaptado, existem já exemplos de implementação de tecnologias semiautónomas, como o cruise control adaptativo ou a mudança de faixa autónoma. Outros modelos, como no caso da Volvo com a sua gama 90, dispõem já de sistemas de alertas de acidentes ou piso com gelo ou escorregadio, alertando outros condutores para eventuais perigos.

Nova mobilidade

Com as grandes cidades a ganharem cada vez mais habitantes, a noção de propriedade automóvel “vai ser tremendamente alterada, graças à chegada de diversas aplicações de partilha de posse de automóvel e do carsharing, numa aposta que está mesmo a ser desenvolvida por parte dos construtores como a BMW, General Motors ou o Grupo PSA”, admitiu.

Outro aspeto relevante passa pela mudança do tipo de cliente-alvo, sendo este agora mais jovem e com a necessidade de estar permanentemente em contacto e ligado ao mundo, além de ter uma maior noção de ecologia e de procura por meios de transporte alternativos. Este aspeto acaba por estar intimamente relacionado com o da ascensão da tecnologia e, consequentemente, com o das aplicações de mobilidade, que têm beneficiado com os avanços das redes móveis e dos terminais de comunicação, baseando-se hoje, mais do que nunca, na conectividade e na vivência em rede.

Também a mobilidade elétrica foi abordada, referindo-se a tendência de implementação dos veículos elétricos face ao abandono progressivo de motores de combustão interna, sobretudo no que diz respeito ao Diesel, que está a ser ‘expulso’ das grandes cidades. A criação de uma rede de carregamento rápida alargada, o aumento da autonomia das baterias (e baixa do tempo de carregamento) e a redução dos custos são também fundamentais para o seu sucesso. O hidrogénio, como combustível do futuro, é também uma hipótese a ser desenvolvido e com uma margem de implementação muito real, embora careça em muitos países, como em Portugal, de uma rede de abastecimento dedicada.