Alfa Romeo Stelvio Quadrifoglio: Superpotência italiana com 510 CV

09/04/2019

Para os que menos percebem desta coisa de automóveis, Stelvio não é um nome inventado a preceitos de marketing pela Alfa Romeo. Ou antes, tem um lado de marketing, mas por associação àquela que é uma das mais sinuosas e desafiantes estradas europeias, precisamente apelidada Stelvio, situada em Itália. Com uma imensidão de curvas e contracurvas, oferecem-se como o sonho de qualquer amante da condução. Já o passageiro pode não encontrar assim tantos atrativos num percurso com tantas curvas fechadas.

Arrojado, portanto, que um SUV tenha o nome de uma das estradas mais serpenteantes do mundo, mas a Alfa Romeo assume com confiança que este SUV foi concebido para brilhar em percursos onde o condutor precisa de confiança total no automóvel. Sobretudo quando nas laterais está um trevo verde, símbolo máximo de desportividade na gama da marca italiana e recordação quase épica dos tempos em que a marca se impunha nas corridas de Fórmula 1 na década de 1950.

Para o Stelvio Quadrifoglio – eis a denominação da versão e do trevo verde –, há muitos pontos de destaque, mas quiçá nenhum outro seja tão determinante como o motor. Um V6 bi-turbo de 2.9 litros com 510 CV construído totalmente em alumínio e com ajuda da Ferrari, o que resulta num dos motores a gasolina mais excitantes de explorar. O aumento de peso e o facto de ser um modelo com tração integral (Q4) obrigou a Alfa a proceder a algumas mexidas na caixa automática de origem ZF, com oito velocidades.

Italiano com modos

Com os seus modos de condução DNA (que deveriam ser RDNA, mas não ficava tanto no ouvido, admita-se), os parâmetros do Stelvio são adaptados ao estilo de condução: Dynamic, Natural e Advanced Efficiency promovem alterações no carácter dinâmico deste Stelvio, com o primeiro a ser mais orientado para a condução desportiva (mas com todas as redes de segurança eletrónicas ainda ativadas) e o último a ser aquele que privilegia a economia, possibilitando por exemplo que circule em modo roda-livre.

Mas também há um ‘R’. E esse pertence a Race, um outro modo que torna o Stelvio num senhor de brutalidade surpreendente. Desde logo pela sonoridade que emana das quatro saídas de escape – grave, imponente, borbulhante e indicativa de que sob aquele longo capot com guelras bem visíveis está uma mecânica de emoções fortes. A impetuosidade das respostas é assinalável e geralmente apenas atingível em desportivos puros, mas aqui estamos sentados um pouco mais alto e o Stelvio Quadrifoglio responde com determinação capaz de nos colar ao banco. Se dúvidas existissem, basta pensar numa aceleração dos zero aos 100 km/h em apenas 3,8 segundos para uma velocidade máxima de 283 km/h. É, também, o SUV mais rápido de Nürburgring…

A acompanhar essa sua energia está uma caixa automática de oito velocidades com patilhas fixas situadas na coluna da direção e que tem um manuseamento (e funcionamento) impecável. Colocar o pedal a fundo rapidamente nos coloca em velocidades inesperadas, com a passagem de relação a fazer-se acompanhar de um estalido proveniente do escape. Race é corrida e este Stelvio parece exatamente vindo das pistas. Pelo menos, em linha reta. E como será a curvar?

Simplesmente viciante. A direção tem uma precisão elevadíssima, apontando a frente exatamente para onde se quer na trajetória e o chassis (partilhado com o Giulia) controla muito bem o adornar da carroçaria quando se abusa, com a traseira a ‘envolver-se’ com neutralidade numa genica que parece ser resultante de tração sobre carris. Mas, com os seus 510 CV e 600 Nm de binário, importa reter que há reações que devem ser progressivas, até porque o controlo de estabilidade desativa-se e o condutor fica por sua conta e risco. Mas, o equilíbrio é tão sobrenatural que mesmo quando se exagera, a resposta é tendencialmente estável, ajudado por uma travagem de elevada potência graças aos discos em carbocerâmica (opcionais por módicos 8000€). E sim, tanta agilidade está mesmo num SUV!

Claro que tem algumas desvantagens. A suspensão fica muito mais firme, fazendo notar as imperfeições do piso, mas ajuda na consolidação de uma eficácia dinâmica que irá apaixonar os adeptos da Alfa e de todos aqueles que não querem só chegar ao destino, mas sim fazê-lo com uma tónica de excentricidade emotiva. A Alfa chama-lhe ‘mecânica das emoções’. Parece-nos uma indicação corrreta.

Depois, há os outros modos de condução que adocicam o comportamento do Stelvio Quadrifoglio. O modo Dynamic já dá uma boa sensação do que este SUV é capaz de fazer, tornando as respostas mais lestas, reduzindo a assistência da direção e o amortecimento torna-se um pouco mais firme, mas ainda com uma pontinha de conforto. As ajudas permanecem ligadas e a sonoridade é ‘castrada’, permitindo uma utilização quotidiana ajustada. Talvez o melhor modo em termos de equilíbrio entre condução quotidiana e laivos de desportividade. No modo Natural, tudo se passa com maior simplicidade e a agilidade dinâmica dá azo a uma condução despreocupada e sem prejuízo do conforto graças ao amortecimento adaptativo.

O sistema de tração integral é uma característica que está presente mas que apenas é chamada quando o eixo dianteiro perde motricidade, já que, regra geral, a entrega da potência faz-se às rodas traseiras.

Consumos pouco simpáticos

Com o Stelvio Quadrifoglio, os consumos tendem a ser algo elevados, sobretudo quanto mais se acelera. Numa toada quotidiana, o consumo médio ronda os 11 ou 12 l/100 km, mas adote o modo Race e esses mesmos consumos elevam-se para mais condizentes 15 litros por cada 100 quilómetros. O que, convenhamos, é bastante. Para contrariar essa tendência, o modo Advanced Efficiency traz maior suavidade na entrega da potência, maior suavidade no chassis e modo roda-livre em ação sempre que possível. No final do nosso ensaio obtivemos um valor médio de 12,4 l/100 km.

SUVerdesportivo

Por dentro, condutor e passageiro vão ‘abraçados’ em bacquets da Sparco com estrutura fina e ligeira (produzidos em carbono e também opcionais por 3800€), com regulação elétrica da altura, enquanto o volante com base plana conta conta com o botão de ignição incluído (no lado esquerdo), a partir do qual é possível fazer despertar a mecânica a gasolina. Os materiais são nobres, apresentando-se em bom patamar, tal como a construção geral. Ponto criticável só a integração do ecrã do sistema de infoentretenimento na parte superior do tablier, que é de dimensões mais reduzidas do que em muitos dos rivais do segmento e a sua interação a partir do comando rotativo na consola central. Pedia-se mais atualidade neste aspeto.

Atrás, descontando o natural inconveniente causado pelo túnel central, que atrapalha a habitabilidade do passageiro em lugar central, há espaço mais do que suficiente para as pernas e em altura, mesmo para quem é mais alto. A visibilidade por parte do condutor também não é ótima, sobretudo devido à grossura dos pilares A e dos espelhos retrovisores, que tapam de certa forma a visão ao condutor. A visão traseira também não é das melhores, diga-se, uma vez que o óculo traseiro é estreito e está posicionado em local alto…

Este conjunto italiano tem um preço à altura do seu carácter: sem os opcionais, é um valor de 117.500€, que compreende itens como o sistema Uconnect Link (Mirroring Apple CarPlay & Android Auto), portão da bagageira com abertura e fecho automática, jantes em liga leve de 20″ Design Quadrifoglio, suspensão ativa, sensores de luminosidade e de chuva e sensores de estacionamento dianteiros e traseiros. Na versão ensaiada, com os já citados discos de travão em carbocerâmica (8000€), Cruise control adaptativo com travagem automática (1300€), sistema multimédia Connect 3D Nav 8,8″ (1300€), Pack Sound Theatre by Harman/Kardon com 900W (14 incluindo subwoofer) e friso em torno da coluna da porta cromado (1400€), bacquets em fibra de carbono, com tecido e Alcantara Sparco (3800€) e pintura Vermelho Competizione (2800€), entre outros equipamentos, o valor final a pagar seria de 132.783€.

VEREDICTO

Um dos pilares da ressurreição da Alfa Romeo é o Stelvio, contando com uma configuração muito semelhante à do Giulia Quadrifoglio: tanto um como outro funcionam, essencialmente, como símbolos de potência e dinamismo da marca de Arese. Mas, não o fazem de ânimo leve. O Stelvio é, potencialmente, um dos SUV desportivos mais competentes do mercado, demonstrando rapidez impressionante e uma toada dinâmica que rivaliza com os mais convencionais superdesportivos que polvilham o mercado.

A mecânica V6 facilmente eleva a adrenalina do condutor, com prestações pouco usuais num SUV. Estável sobremaneira, o Stelvio Quadrifoglio é ágil e emocionante, com velocidade de passagem pelas curvas muito elevada. Massivamente rápido, até para as suas dimensões. Tem os seus pecadilhos, como o consumo médio elevado ou o sistema de infoentretenimento a carecer de uma atualização, mas o Stelvio, enquanto conceito é algo de verdadeiramente especial: um deleite a conduzir, uma beleza para olhar e uma extravagância a que não é fácil aceder em termos de preço.

Características Alfa Romeo Stelvio Quadrifoglio
Motor Gasolina, V6, 2891 cc, injeção direta, turbo, intercooler
Potência 510 CV às 6500 rpm
Binário 600 Nm às 2500-5000 rpm
Transmissão Integral, caixa automática de oito velocidades (ZF) com modo sequencial
0-100 km/h 3,8 s
Velocidade máxima 283 km/h
Consumo anunciado (medido) 9,8 l/100 km (12,4 l/100 km)
Emissões CO2 227 g/km
Comp./Larg./Alt./Entre eixos 4702 mm/1955 mm/1681 mm/2818 mm
Peso 1905 kg
Suspensão (Fr/Tr) Independente McPherson/independente; adaptativa desportiva
Mala 525-1600 litros
Pneus 255/45 R20 (f) – 285/40 R20 (t)
Preço (ensaiado) Preço: 117.500€ (132.783€)

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