O futuro da CUPRA está completamente orientado para a eletrificação, mas se muitos duvidam daquilo que esta tecnologia poderá trazer para o lado emocional dos automóveis, a CUPRA responde com a promessa de automóveis excitantes de conduzir, incluindo para a competição. É o caso deste CUPRA UrbanRebel Racing Concept, um protótipo bastante exclusivo e puramente elétrico que nos permitiu sentir como pode ser o automobilismo sem emissões.

Não é todos os dias que nos é dada a possibilidade de pilotar um protótipo de competição altamente exclusivo, mas foi exatamente isso que a CUPRA fez a um número bastante pequeno de jornalistas, que puderam sentir em primeira mão as emoções de estar a bordo de um automóvel elétrico de competição.

A ideia de tornar o UrbanRebel Racing Concept acessível aos jornalistas teve como principal intenção demonstrar o arrojo e a ligação umbilical que a CUPRA mantém com o lado emotivo dos automóveis, tanto para estrada, como para as competições, estando atualmente a marca presente em modalidades como o ETCR, a Extreme E e, também ainda, no TCR convencional (aqui com modelos de combustão).

Baseado no concept UrbanRebel revelado anteriormente, que prefigura a versão de produção em série que será lançada em 2025, o Racing Concept assume-se como um automóvel totalmente direcionado para a competição, sendo preparado de raiz como tal, ainda que não tenha, por enquanto, uma real aplicação funcional em termos de participação em competições. O Mundial de Rallycross (World RX), no entanto, seria uma excelente opção, atendendo ao que se viu no circuito de Montmeló, em Barcelona.

Ao UrbanRebel Racing Concept não faltam atributos técnicos para se destacar, desde logo pela motorização elétrica de 250 kW/340 CV, mas que no seu pico pode chegar aos 320 kW/435 CV, com 510 Nm de binário disponível praticamente desde o primeiro momento de aceleração. Como o seu peso é bastante reduzido (1230 kg sem piloto), recorrendo a diversos materiais de baixo peso e a uma bateria compacta de apenas 30 kWh, as suas respostas são avassaladora: a aceleração dos zero aos 100 km/h cumpre-se em apenas 3,2 segundos, mas é a capacidade de entregar a potência de forma tão bruta que impressiona.

O seu desenho radical também não deixa dúvidas da sua crença na emotividade: os para-choques volumosos tanto à frente, como atrás, a carroçaria compacta de três portas (4186 mm de comprimento, 1795 mm de largura e 1444 mm de altura ) e, sobretudo, a gigantesca asa traseira diretamente acoplada à carroçaria pela zona das cavas das rodas traseiras denotam a sua faceta desportiva concentrada apenas e só na competição.

A hora de acelerar

Antes de nos sentarmos ao volante de um dos dois protótipos disponíveis, os pilotos da CUPRA, Jordi Gené e Adrian Tambay, este último campeão do mundo de ETCR na temporada de 2022, passam em revista os principais procedimentos e explicam a pista, primeiro de forma estática com um mapa do circuito, depois com uma volta a bordo de uma carrinha, dando a conhecer o pequeno circuito que, se tivéssemos de encontrar um paralelismo, se assemelha ao formato de um feijão.

O cockpit é também desprovido das habituais mordomias dos automóveis de produção em série, baseando-se, ao invés, no radicalismo da competição. Antes de iniciarmos a marcha para duas curtas voltas ao mini traçado de Rallycross desenhado no circuito de Barcelona, é-nos explicado o essencial do cockpit – os botões para a comunicação rádio, a alavanca do travão de mão e os botões para os modos de condução (‘N’, ‘P’ e ‘R’). Há imensos outros botões, mas na avalanche de informação e, com pouco tempo disponível, nem sequer há tempo para lhes dedicar atenção.

De resto, os elementos de segurança estão em linha com os requisitos da Federação Internacional do Automóvel (FIA): a ‘rollcage’ que obriga a alguma ginástica na entrada e na saída do habitáculo, as bacquets de competição e os cintos de cinco pontos que nos mantêm colados ao banco.

Os outros jornalistas vão fazendo as suas experiências e surpreende que a sonoridade do UrbanRebel Racing Concept seja ‘simpática’, mesmo que longe dos desígnios dos motores de combustão a que nos habituámos ao longo de décadas. Na desaceleração, ouvido de fora, parece uma sirene a perder fôlego… Mas, ao menos, há uma sonoridade para nos podermos reger.

Fazem-me sinal: é hora de acelerar. O arranque é realmente impressionante, mesmo sabendo que o acelerador ainda não está a fundo. Na primeira chicane feita com cones, há dois que não resistem à passagem do UrbanRebel Racing Concept e ‘voam’ para longe. A razão prende-se com alguma atrapalhação com o capacete XL que desliza na cabeça e influencia a travagem. Mesmo apertado ao máximo, acabou por surpreender o ‘piloto’ de ocasião.

Porém, ainda há quase uma volta e meia pela frente e esta máquina revela todas as suas credenciais. Segue-se um gancho que faz a transição do asfalto para a terra. A direção é direta e atira o CUPRA para fora do asfalto com eficácia, percorre a zona de terra com misto de gravilha até um pequeno salto que, dita a prudência, não seja levado com o acelerador muito pressionado. Regressamos ao asfalto e à zona de partida/chegada. Segunda volta. Tudo passa muito depressa. Um pouco mais de confiança e o UrbanRebel Racing Concept está ainda mais apurado. A capacidade de aceleração espetacular, a travagem não menos eficaz e a direção tão precisa quanto informativa dão-nos um pequeno gosto do que é viver na era da competição elétrica.

Para quem é piloto ou para quem está ‘lá dentro’, a questão do ruído torna-se menos premente, até porque o foco é mesmo em retirar o máximo partido da experiência ao volante de um CUPRA que poucos terão à sua disposição.

No lado do ‘pendura’ é outra ‘música’

Depois, foi a vez de os pilotos levarem os jornalistas numa volta ao traçado e aquilo que achávamos espetacular torna-se quase sobrenatural. O CUPRA UrbanRebel Racing Concept é pilotado como um verdadeiro carro de rallycross e o que mais impressiona é o salto, no qual Adrian Tambay é particularmente exigente com o pequeno modelo elétrico. De facto, logo na primeira vez que o campeão de ETCR vai para a pista com um jornalista ao seu lado, somos surpreendidos com a violência com que o Racing Concept aterra do salto, com um barulho estridente que mostra que o piloto está nisto ‘a sério’. No outro Racing Concept disponível, Gené é mais suave.

Calha-me ir ao lado de Tambay e a partir do interior tudo se passa mesmo muito depressa. Arranque, primeira travagem para a chicane de cones, mais três que ‘voam’. Curva rápida para a esquerda, seguida de gancho de transição entre pisos, travão de mão aplicado e a traseira do UrbanRebel Racing Concept está já na terra. Ou melhor, na gravilha ao lado da faixa de terra. Curva para a direita e aproxima-se o salto, em que as quatro rodas no ar são garantidas. A aterragem é até suave, numa clara demonstração de que a suspensão deste CUPRA está habilitada a lidar com estes abusos. De regresso ao asfalto e acaba a experiência.

Fica a ideia de que a emoção e o carinho pelo automóvel enquanto máquina de emoções continuam bem defendidas. Com muito menos cheiro a gasolina e menos barulho, mas com a adrenalina da paixão ainda presente.

*Em Barcelona, Espanha.

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