Na subida da Avenida Infante Santo para a Estrela, numa Lisboa a regressar a alguma normalidade pré-Covid, prestes a parar por obrigação de mais um semáforo, reparo pelo ‘canto do olho’ no condutor do Ford Fiesta à esquerda a olhar com algum entusiasmo (ou talvez mais curiosidade) e de polegar ‘afirmativo’ estendido. O semáforo encarnado dá para tirar algumas dúvidas. Com algumas dificuldades para ouvi-lo – além da janela bipartida, o volume do smartphone estava no máximo enquanto fazia de autorrádio, que o Ami não tem – lá percebo a primeira pergunta. “Isso é porreiro, vale a pena?”, interroga, curioso com o simpático Ami da Citroën, uma ‘pedrada no charco’ da mobilidade elétrica de quatro rodas.

Após uma breve troca de palavras, ainda mais convencido da validade do Ami para “as voltinhas do dia-a-dia em cidade”, o condutor do Fiesta volta a erguer o polegar e segue o seu caminho. Esta foi apenas uma de algumas tiradas curiosas que deu para ouvir em cerca de hora e meia de viagem pela capital portuguesa. O novo Ami está já disponível em Portugal, num processo de compra totalmente digital, a partir dos 7350€ na versão de entrada.

Pequeno e ao mesmo tempo tão peculiar, o Citroën Ami não parou de chamar a atenção por onde quer que passasse. Uma constatação deveras interessante e que surpreende até os jornalistas mais experientes que já estão habituados a lidar com tudo o que é automóvel. Isso é também revelador do bom esforço da Citroën para criar uma ‘ferramenta’ de mobilidade inovadora. Talvez se deva começar por ver o Ami exatamente como isso mesmo: um dispositivo ‘fora da caixa’ para responder a algumas problemáticas prementes da mobilidade urbana – como a falta de espaço e a preocupação com as emissões. Como tal, não deve ser comparado com um automóvel no sentido mais comum.

Repto da mobilidade urbana

É aqui que entra a Citroën e o seu Ami. A revelação do modelo decorreu em Paris, no final de fevereiro de 2020, ou seja, já com o ‘fantasma’ da Covid-19 a pairar sobre o mundo, mas desde logo surpreendeu pelo arrojo e pela forma simples de oferecer uma alternativa aos meios ‘suaves’ de mobilidade, como as trotinetas ou e-scooters. Aqui, o foco é oferecer um transporte de zero emissões, mas com conforto e segurança redobrada.

A simetria dos elementos não é casual, mas antes fruto do engenho gaulês. As secções dianteira e traseira são simétricas, o mesmo sucedendo com as portas, que são exatamente as mesmas dos dois lados, pelo que varia o sentido de abertura. No total, menos de 250 peças compõem o Ami, o que impressiona. Reduzem-se custos de produção e simplificam-se processos de montagem, naquele que é mesmo o termo central do Ami.

João Catalão Mano, Diretor da marca Citroën em Portugal, admite que este é um momento importante para a mobilidade, na medida em que pode haver um momento antes e depois do Ami que, através da sua simplicidade, inova nalguns aspetos, a começar desde logo pela compra – totalmente digital, mas também pela forma de utilizar, com baixos custos e facilidade de utilização.

Acessível a partir dos 16 anos com carta B1, adequa-se a diferentes utilizações e diferentes vivências, pelo que a marca deposita esperanças não só no setor dos particulares que procuram algo mais económico para as tais voltas do dia-a-dia, mas também para o setor profissional, sobretudo, no das entregas urbanas, sendo nessas ruas que o Citroën Ami ‘navega’ como ‘peixe na água’.

Com apenas 6 kW de potência do motor elétrico e 40 Nm de binário, o Ami é ágil q.b. nos arranques, lançando-se com energia nos primeiros metros, que se esbate em torno dos 30-35 km/h, embora esteja perfeitamente adequado às exigências da grande urbe. Mais delicadas as subidas, sobretudo as mais íngremes, que exigem um pouco mais de paciência ao utilizador, mas quem está ao volante saberá disso de antemão. Será normal ser ultrapassado pelos mais apressados nas estradas com duas vias no mesmo sentido, mas ‘está tudo bem’. Há uma certa tranquilidade no facto de não passar dos 45 km/h, sendo assim ‘anti-radares’. Pelo menos, onde forem de 50 km/h de velocidade máxima…

O seu mérito é percorrer até 75 quilómetros em meios urbanos com uma única carga, podendo ser recarregado numa simples tomada doméstica de 220 V, levando cerca de três horas a repor a bateria de 5.5 kWh de zero a 100%. Já a autonomia – bastante realista – é de 75 quilómetros em ciclo WLTP.

A experiência de condução prima pela humildade, com o condutor sentado em posição elevada, ligeiramente à frente do banco do passageiro (o Ami tem dois lugares, com exceção da versão Ami Cargo, que tem apenas um), sendo os bancos algo firmes, não sendo propriamente confortáveis, mas percebe-se a intenção – os bancos são de fácil limpeza e são efetivamente para utilização em viagens curtas. Maior habituação requerem os espelhos retrovisores de estilo ‘bicicleta’, que têm ajuste manual.

No interior não há grandes luxos: instrumentação básica (com indicador da velocidade e autonomia), tejadilho panorâmico, ventilação (sem ar condicionado) e suporte para smartphones fazem parte do equipamento deste citadino, que se destaca ainda pela excelente visibilidade geral proporcionada pela ampla superfície vidrada a toda a volta. A agilidade urbana fica garantida pelas curtas dimensões: 2,41 metros de comprimento, 1,39 metros de largura e 1,52 metros de altura, com uma brecagem de 7,2 metros.

A direção não tem assistência, mas dificilmente notará, pois o baixo peso do conjunto – 470 kg já com a bateria – e os pneus finos de 14 polegadas obrigam a pouco esforço braçal. Os comandos da condução (‘D’, ‘N’ e ‘R’) estão localizados do lado esquerdo do banco do condutor, em posição pouco comum.

Surpreende também o espaço de arrumação disponível a bordo, até para malas de cabina de avião, que podem ir no habitáculo, com respetiva rede de separação do condutor. A estrutura tubular em metal garante rigidez e segurança do habitáculo em caso de acidente.

Gama e equipamentos

Se o Ami é simples na sua conceção, também não poderia ser de outra forma na configuração. A versão base é a Ami Ami (7350€), subindo depois de preço com quatro kits personalizáveis a que a Citroën deu o nome de ‘edições coloridas’, compostas por versões My Ami Orange, My Ami Grey, My Ami Blue e My Ami Khaqui (7750€). Naturalmente, o ponto alto é a carroçaria colorida a que se juntam alguns elementos específicos.

Detalhe interessante: os elementos destes kits personalizáveis são entregues numa caixa no lado do passageiro e são montados em casa pelo comprador. Os kits personalizáveis são compostos por itens como os autocolantes para a carroçaria, embelezadores de rodas, rede central, tapetes pretos, suporte para malas no lado do passageiro, suporte de apoio para smartphone e uma caixa DAT@AMI para conectar o smartphone ao veículo. Essa caixa é essencial para o funcionamento da aplicação My Citroën, que permite ao condutor aceder a um conjunto de informações essenciais sobre o Ami a qualquer momento, como a autonomia, estado de carga da bateria e tempo restante para uma carga de 100%, quilometragem, alertas de manutenção e marcações de operações de serviço.

Depois, com packs instalados por especialistas, há os Citroën My Ami Pop (8250€) e My Ami Vibe (8710€). O primeiro assenta no My Ami Orange, mas acrescenta embelezadores pretos nos para-choques, autocolantes para a parte inferior da porta, spoiler no tejadilho e embelezadores para os farolins. A My Ami Vibe tem por base a My Ami Grey, juntando embelezadores pretos para os para-choques e para os farolins, dois conjuntos pretos de alargadores dos guarda-lamas, barras de tejadilho em vez do spoiler e dois autocolantes para a porta com motivo de ‘linhas de nível’.

Versão Cargo

Para os clientes profissionais, a opção My Ami Cargo é particularmente interessante, sobretudo no caso de empresas com entregas urbanas ou pequenos negócios como floristas ou entregas de material ao domicílio. A carga útil desse modelo – incluindo todos os espaços do habitáculo – é de 400 litros, com a zona de carga ao lado do condutor a oferecer 260 litros, com uma divisória e até uma zona de ‘escritório’ para arrumar documentos. No total, pode levar 140 kg de carga. O seu preço é de 7750€.

À venda online e nas lojas FNAC

Diferente é também o percurso de compra por parte do interessado. O processo apenas pode ser feito de forma digital, sendo tão fácil como fazer as compras da semana para casa. Acedendo ao site da Citroën é possível configurar e escolher entregas e pagamentos. Mas, é também possível encomendar o AMi nas lojas FNAC, num processo que também já acontece em França.

Ainda assim, apesar do processo digital de compra, isso não quer dizer que os concessionários estejam postos de parte, com 27 concessionários da rede a poderem ser pontos de entrega do Ami.

Em suma

O Ami acaba por ser uma resposta a novas tendências da mobilidade urbana, porventura um resultado da busca por uma solução disruptiva e capaz de levar a marca para um nicho além do já conhecido automóvel. Por outro lado, abre um novo espectro para a mobilidade elétrica e poderá ser um instrumento importante para serviços de mobilidade partilhada nas grandes cidades, onde a grande maioria dos automóveis entra com apenas um ocupante a bordo (o condutor).

Porém, se o sucesso comercial fosse diretamente proporcional à quantidade de olhares, sorrisos e indicadores apontados ao Ami, garantidamente já seria um campeão de vendas.

Ficha Técnica
Citroën Ami

Motor Elétrico
Bateria Iões de lítio, 5.5 kWh
Potência 6 kW
Binário 40 Nm
Velocidade máxima 45 km/h
Aceleração 0-45 km/h 10s
Autonomia (WLTP) 75 km
Carregamento 3h00 numa tomada de 220V
Dimensões (C/L/A) 2410 mm/1390 mm/1525 m
Jantes 155/65 R14
Preço Desde 7350€

Percorra a galeria de imagens acima clicando sobre as setas.