Novo Renault Mégane R.S. no Estoril: Primeiro, estranha-se…

11/06/2018

Além da oportunidade mais do que importante de efetuar o primeiro contacto com o novíssimo Alpine A110 no circuito do Estoril, a Renault deu também a oportunidade aos jornalistas de testarem o igualmente novo Renault Mégane R.S. naquele emblemático traçado lusitano por ocasião do mais recente fim de semana de Passion Days. E o compacto desportivo mostrou bem o que vale…

Antes de mais, vamos fazer a revisão da matéria dada… O que é este Mégane R.S. e o que é que representa para a marca e para o segmento? Antes de mais, num mercado que tem neste momento intérpretes como o Honda Civic Type R, SEAT Leon Cupra, Hyundai i30 N, Peugeot 308 GTi ou Volkswagen Golf GTI, o Mégane R.S. é bastante aguardado, uma vez que dá continuidade a uma história de grande sucesso.

Neste Renault, duas grandes novidades: a primeira está sob o capot, na forma do motor 1.8 turbo de 280 CV e 390 Nm de binário, que assume o lugar do anterior 2.0 turbo. Com uma divisão especialista como a Renault Sport, com um vasto trabalho em diversas modalidades, não é difícil perceber que existe neste departamento uma perceção de ‘Toque de Midas’, em que a sua perícia faz sobressair qualidades já preexistentes. Volta a ser o caso, com a Renault Sport a trabalhar em praticamente todos os aspetos do Mégane normal, já de si uma base muito competente.

Um dos pontos de destaque deste novo Mégane R.S. é a tecnologia 4Control que, não sendo uma novidade absoluta na Renault, é-o no âmbito dos familiares compactos desportivos. Trata-se do sistema que permite a viragem das duas rodas traseiras num ângulo até 2,7 graus (assim possibilitando as quatro rodas direcionais embora com ângulos distintos) em que, abaixo dos 60 km/h as rodas traseiras orientam-se na direção oposta das dianteiras, melhorando a sua agilidade em velocidades mais baixas, ao passo que em velocidades acima dos 60 km/h (ou dos 100 km/h em modo Race), as rodas traseiras viram no mesmo sentido das da frente.

A Renault garante que este sistema permite uma estabilidade muito maior em curva, além de oferecer maior precisão de trajetórias. Na suspensão dianteira, mantém-se o esquema de duplo pivot, que permite dessa forma diminuir as perdas de motricidade e limitar os efeitos da transmissão do binário à direção.

Na prática, este é um método técnico que separa os capítulos do amortecimento e da direção, tornando a estrutura dianteira também mais rígida. Mais ainda, os batentes hidráulicos de compressão nos amortecedores tornam a eficácia da suspensão mais visível, reduzindo efeitos indesejados de firmeza em mau piso. Aqui, inspiração do mundo dos ralis. A Renault não se coíbe de apresentar este sistema como uma solução de “amortecedor dentro do amortecedor”: ao aproximar-se o fim do curso, um pistão secundário amortece o movimento da roda antes do batente de choque.

Ao dissipar a energia sem a “reenviar” à roda – como fariam os batentes convencionais – os batentes hidráulicos de compressão permitem evitar os efeitos de repercussão, para um controlo otimizado do contacto entre o pneu e o solo. Fruto de todos estes desenvolvimentos, o novo Mégane R.S. surpreende positivamente pela forma como o comportamento em mau piso é tão eficaz, sem que, com isso, perca eficácia desportiva.

Naturalmente, ainda a nível técnico, a carroçaria foi alargada em 60 mm à frente e 45 mm atrás, enquanto a altura ao solo baixou em 5 mm.

No circuito, antes do Alpine

Na ocasião, a Renault Portugal colocou à disposição dos jornalistas no Autódromo do Estoril diversos exemplares do Mégane R.S. e apenas um do Alpine e os dois são… diametralmente opostos. O registo do A110 já ficou noutro artigo, pelo que agora fica o relato do breve contacto de pista com o Renault Sport, musculado com o chassis ‘Sport’ (haverá um mais exigente ‘Cup’) e caixa automática EDC6 num local que não tem restrições, nem limites de velocidade.

Assim, uma primeira nota para a sonoridade proveniente dos escapes, com as passagens de caixa a serem acompanhadas de um trovão intenso. Fica bem num carro destes.

Do que não ficam dúvidas é da eficácia do motor 1.8 turbo, uma mecânica que impele com vigor o Mégane R.S. em frente, subindo de regime de forma muito rápida e com um escalonamento de caixa curto, tirando partido de uma pujança que não fica a dever a qualquer um dos outros ‘hot hatches’ do mercado – com exceção doutros mais extremos, como o Ford Focus RS (tração integral) ou os mais estratosféricos Mercedes-AMG A45 de anterior geração e Audi RS3 Sportback, que têm mais violência na entrega da potência.

Mas o Renault reage bem à maior pressão do acelerador em modo Sport, tornando a experiência mais ‘crua’ em modo Track, que é mais inclemente. Mas sobretudo, o Mégane R.S. exige alguma habituação… passando a fase de estranheza.

O ‘culpado’ é o sistema de rodas traseiras direcionais. Isto porque o carro é mais rápido a ‘desenrolar’ a curva, com o volante num ângulo que noutro modelo seria normal a resultar numa viragem mais rápida no caso deste Renault. Tão rápida que obriga a uma correção para se abrir a trajetória… É fácil e preferível, por isso, travar cedo para as curvas e, depois, tentar perceber numa trajetória ‘limpa’ uma aceleração em crescendo, apontando a direção de forma linear para o ponto de corda e procurar tocar no corretor externo à saída da curva. Mas fazê-lo de forma linear e não numa curva a duas fases. Noutro carro, como por exemplo, um Civic R, é mais fácil travar tarde, virar com naturalidade para a curva e depois dosear o acelerador, sempre com a dianteira a guiar com níveis de motricidade elevados. No Mégane, o eixo dianteiro divide a sua importância com o traseiro, que também se imiscui na tarefa de decidir a trajetória. Pode não ser tão ‘à piloto’ – pelo menos no caso deste chassis ‘Sport’.

Mas, é eficaz. Muito. E tão simples de aproveitar a sua potência, pelo menos em circuito, embora na apresentação nacional pelas redondezas de Jerez de la Frontera já se tenha ficado com uma ideia de eficácia desse sistema que dá ao Mégane R.S. uma importância reforçada, deixando a seu cargo o compromisso de acertar uma trajetória contínua e sem falha. Embora em estrada pública seja mais complicado de ‘atingir’ essas noções.

Para já, um começo muito bom, que merece aplausos. O ensaio em solo nacional servirá para tirar teimas no novo capítulo da luta no reino dos compactos desportivos.

Mas, como outro argumento de muito peso, o preço: chega em maio com chassis Sport e caixa EDC6 com preços a partir dos 40.480€. Algum tempo depois, chega a versão com caixa manual, por 38.780€… o preço mais baixo destas deverá dar espaço para a entrada em cena dos modelos com chassis Cup e Trophy, acima dos Sport.

E… afinal, porque é que o tema do Alpine é para aqui chamado? Porque num evento que teve dois modelos tão importantes enquanto desportivos, o facto de se ter um coupé de tração traseira e muito, muito leve – com o mesmo motor do Mégane R.S., mas menos potente – acabou por chamar tanto as atenções como o R.S.. Mas, sem dúvida, dois exemplares bastante especiais…

FICHA TÉCNICA
Renault Mégane R.S. 280 EDC Sport
Motor: Gasolina, quatro cilindros, injeção direta, turbo, intercooler
Cilindrada: 1798 cm3
Potência: 280 CV às 6000 rpm
Binário máximo: 390 Nm às 2400-4800 rpm
Tração: Dianteira
Caixa: Automática de seis velocidades (EDC)
Aceleração (0-100 km/h): 5,8 segundos
Velocidade máxima: 250 km/h
Consumo médio: 6,9 l/100 km (com jantes de 18″)
Emissões de CO2: 155 g/km (com jantes de 18″)
Peso: 1430 kg
Preço: 40.480€

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