Com a nova geração do C4, a Citroën entra numa nova fase da sua busca pela eletrificação. Recorrendo à nova plataforma CMP, que faz a sua estreia em modelos do segmento C precisamente com este C4, a marca dá um grande passo em frente, evoluíndo em praticamente todos os aspetos.
O primeiro, o da estética, revela um modelo mais angular, repleto de detalhes peculiares que necessitam de um olhar atento – muito mais do que aquele que a escassa hora de condução para cada um dos modelos nos permitiu. Mas, ao vivo, a impressão que fica é que o C4 é irreverente e apelativo, destoando de uma grande parte dos seus rivais.
Primeira viagem – sem emissões
Em tempos de pandemia e com a situação sanitária a agravar-se, tornam-se obrigatórias novas abordagens para estes breves contactos iniciais com os novos automóveis: antigamente, havia pares a bordo, agora vai cada um por si. Nesse âmbito, cada jornalista teve pouco mais de uma hora com um C4 térmico (com motor 1.2 PureTech de 130 CV com caixa EAT8) e com o C4 elétrico. Começámos por este último.
O ambiente a bordo é bastante agradável, com seleção de bons materiais, mesmo tratando-se de unidades de pré-produção, ou seja, ainda passíveis de alguma falha aqui ou ali. Os bancos são confortáveis (esta será uma noção determinante, como se perceberá ao longo do texto) e a posição de condução elevada, quase como num crossover assumido, fornece uma boa visibilidade geral.Uma dose de refinamento, por favor!
Sem ruído e com um pisar extremamente dócil, o ë-C4 percorre quilómetros de forma enérgica com o seu motor elétrico de 100 kW (136 CV), mesmo que se note, neste modelo, uma abordagem menos ‘bruta’ nas prestações. Mais do que intempestivo a ganhar velocidade, o ë-C4 aumenta de velocidade de maneira fluida, sobretudo nos modos de condução ‘Normal’ e ‘Eco’, este último capaz de limitar a entrega da potência e a climatização em favor da maior eficiência. O modo ‘Sport’, cuja entrada em ação é notória, torna a condução mais rápida, mas destaca-se muito mais pela capacidade nas recuperações, uma benesse usual do binário dos motores elétricos, neste caso, 260 Nm.
Com uma bateria de 50 kWh, o ë-C4 argumenta com uma autonomia estimada em ciclo WLTP de 350 quilómetros, que nos parece relativamente exequível desde que se suavizem os ímpetos do pé direito e se utilize o relevo e o modo de regeneração ‘B’ da caixa para ‘acumular’ uns quilómetros suplementares na bateria de iões de lítio. Num percurso de 38 quilómetros, com passagens urbanas e via rápida, o computador de bordo indicou-nos um consumo médio final de 16 kWh/100 km, em linha com os 16.6 kWh/100 km anunciados pela marca. Bom indicador. Ainda relativamente ao capítulo da autonomia, nota para uma diferença mais ou menos de 30 quilómetros entre os modos de condução ‘Eco’ e ‘Sport’, sendo esse o número que o modo mais desportivo retira à autonomia estimada no modo económico.
A condução é suave, percebendo-se que a filosofia de conforto apregoada pela Citroën está bem defendida. A direção com um bom tato é ponto positivo, mas é o conjunto geral dedicado ao refinamento e ‘souplesse’ que permite viagens com tranquilidade, ignorando os ressaltos da estrada e as pequenas imperfeições graças à suspensão de batentes hidráulicos, um argumento desta geração C4.
Os bancos têm bom amortecimento (também é parte do programa Citroën Advanced Comfort) e bom apoio do corpo – exceto quando se adota uma condução mais desportiva: falta algum apoio lateral. Mas aí também o ë-C4 exibe um pouco mais de rolamento da carroçaria, mesmo que nada de dramático.
Segunda viagem – abordagem térmica
Chegados ao momento de trocar de veículo, a segunda viagem fez-se com o C4 equipado com o motor 1.2 PureTech de 130 CV associado à caixa automática de dupla embraiagem de oito velocidades (EAT8). Por fora não há diferenças evidentes para o ë-C4, mas por dentro há uma diferença ao carregar-se no botão de ignição – desperta o motor de três cilindros e a insonorização, que parecia tão boa no ë-C4, perde-se um pouco. Contudo, essa sensação decorre apenas nos primeiros segundos e metros da viagem, tornando-se depois mais silencioso.
Havendo os mesmos modos de condução, sente-se também uma diferença na entrega da potência entre esses, sendo mais comedido no modo ‘Eco’ e mais ‘urgente’ no modo ‘Sport’. Não existem diferenças dramáticas entre esses, mas a entrega dos 130 CV torna-se um pouco mais expedita nos arranques e retomas, facilitada ainda pela caixa automática que aproveita bem os 230 Nm na maior parte das situações.
Numa ou noutra ocasião, sobretudo a subir e com o modo ‘Eco’ ativado, a caixa pode manter, teimosamente, uma relação demasiado alta para o momento, algo que o condutor pode resolver com a patilha esquerda atrás do volante para o controlo manual da caixa.
O comportamento segue os mesmos predicados do ë-C4, orientando-se mais para o conforto de utilização do que para a utilização dinâmica desportiva, mesmo que nos tenha parecido muito equilibrado – tal como o elétrico – nas estradas mais sinuosas, não escondendo, ainda assim, alguma inclinação da carroçaria, sem que se torne preocupante. Face ao elétrico, gostámos mais do tato do pedal do travão no modelo com motor de combustão, uma circunstância causada pelo sistema de regeneração de energia do elétrico.
Houve ainda tempo para ‘medir’ o espaço nos bancos traseiros, sendo facilmente utilizável até por adultos de maior estatura, graças à amplitude para as pernas e à altura generosa. Quer no elétrico, quer no térmico, não apreciámos sobremaneira o sistema de seletor de caixa, que troca a alavanca por uma patilha de acesso… estranho.
Em suma…
Duas faces da mesma moeda, os dois Citroën C4 experimentados privilegiam, sobremaneira, o conforto de utilização, sendo permissivos no mau piso e obedientes q.b. para os percursos mais sinuosos. No entanto, a sensação ‘lounge’ de conforto e boa ambiência a bordo sobressai nos novos C4, registando-se também melhorias nos materiais usados e na configuração do interior.
O 1.2 PureTech 130 EAT8 tem um custo de entrada de 28.108€ no nível Feel Pack (24.908€ se optar pela caixa manual com o nível Feel), enquanto a idêntica configuração de equipamento com o motor elétrico tem um custo base de 38.606€ (37.606€ no nível Feel). O que parece certo é que os novos C4 têm argumentos para se baterem com os melhores do segmento C, posicionando-se como uma alternativa diferente e de valores diferentes, nos quais a originalidade e o conforto são ambições primeiras.
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