BMW i8: Salto para o futuro

11/08/2018

Impossível começar uma análise a um BMW i8 sem começar pela estética, pouco aconselhável a condutores low-profile. Não é preciso precisar um grande esforço para ver nele uma reminiscência do M1, o desportivo produzido entre 1978 e 1981, mas na verdade este i8 é lindo qualquer seja o ângulo de que o observemos. Pode parecer (e é) ostentatório e futurista, mas as suas linhas devem muita à aerodinâmica.

Em andamento, mesmo forte, este deve ser um dos carros mais silenciosos que já conduzimos. Claro que, sendo um híbrido plug-in desportivo, o modo Sport da caixa de velocidade prioriza o motor a gasolina e a a sonoridade (gerado por software) que sai das colunas e que é projetada para o exterior também por colunas, faz lembrar um V8 a gasolina. Com prestações de nível muito elevado e consumos quase de citadino.

Sim, se quisermos começar por aquilo que se gasta na bomba, este i8 não arromba nenhum orçamento familiar (embora o consumo deva ser a menor das preocupações financeiras para quem compra um carro de mais de 150 mil euros). Após cerca de três horas a carregar as baterias numa tomada doméstica, é possível fazer perto de 25 quilómetros em modo puramente elétrico, desde que não ultrapassemos os 120 km/h. Mais do que suficiente para a circulação urbana.

Mesmo com o pé direito pontualmente mais nervoso, os consumos raramente chegaram aos 3l/100km em circuito urbano neste i8 que o Motor24 experimentou (cedido pela Caetano Baviera).

Para isso muito contribui o autêntico compêndio tecnológico que é este carro. Um motor tricilíndrico de 1.5 l de cilindrada, oriundo do Mini, colocado atrás, um motor elétrico para as rodas da frente, um chassis em alumínio, onde as baterias ocupam o túnel central. Com apenas 1,29 metros de altura e 1,94 de largura, o i8 tem o centro de gravidade situado a 460 mm do solo. Se pensarmos que os 362 cavalos (mais 10 na nova versão) apenas têm para deslocar 1.560 quilos, distribuídos quase idealmente (49:51), temos um carro extremamente rápido, que demora apenas 4,4 segundos para ir dos zero aos 100 km/h e atinge os 250 km/h.

Tudo num ambiente de extrema serenidade (e sonoridade, pois o som que sai das colunas está perfeitamente sincronizado com as rotações e as passagens de caixa), como se fora um carro normal, coisa que este i8 não é.

Aerodinâmica

Já referimos que as linhas futuristas deste autêntico “disco voador” devem muito à aerodinâmica e foi o fluxo de ar, estudado e testado em túnel de vento que esculpiu a carroçaria do i8, com o propósito de reduzir ao máximo o seu coeficiente de penetração no ar.

Assim é com as embaladeiras e as abas traseiras, que ajudam a “colar” a traseira à estrada. A inconfundível grelha da BMW é fechada e a enorme abertura no capot serve para transportar ar fresco para o radiador que arrefece as baterias.

Ainda no campo do estilo, destaque para as enormes portas, que abrem para cima, mas que obrigam a algum cuidado na hora de estacionar em espinha, pois elas afastam-se ligeiramente da carroçaria e só então se elevam. Não há melhor para atrair olhares, mas também para obrigar, como nos aconteceu, a entrar pela porta do passageiro, pois o carro que estacionou à nossa esquerda roubou centímetros (poucos) preciosos.

Aliás, o processo de entrada tem um pequeno, mas rapidamente assimilável truque, necessário pela reduzida altura e pela espessura das embaladeiras. Assim, primeiro sentamo-nos de lado e só depois introduzimos as pernas. Já a saída é uma brincadeira de crianças.

Onde os olhares também se fixam (e há tantos pormenores a apreender) é na assinatura luminosa traseira em U e nos pequenos vidros traseiros, que se fundem na linha fluida na carroçaria.

Curioso no i8, é que este é, também, um carro que apela ao tato, que dá vontade de passar a mão pelas linhas polidas da carroçaria, por aquelas “asas” traseiras.

Interior

O interior, com um habitáculo em plástico reforçado com fibra de carbono, segue a tradição da BMW, com o cockpit virado para o condutor. Nada a dizer da qualidade dos materiais, da sua cuidadada montagem, da ergonomia, com tudo à mão e sem obrigar a desviar os olhos da estrada, muito menos do esquema de funcionamento das teclas que nos permitem selecionar os modos de condução.

No modo eDrive (modo elétrico) podemos escolher o Eco Pro (que permite, entre outras funções relativas ao fornecimento de energia dos periféricos, rodar em roda livre) e Comfort (em que todos os equipamentos estão disponíveis sem restrição, caso do ar condicionado, por exemplo, e permitindo recuperação de energia somente na travagem). É possível acionar os dois últimos isoladamente, situação em que os motores de combustão e elétrico funcionam em conjunto.

Ao puxar a alavanca de velocidades para esquerda entramos em modo Sport e a paisagem começa a desfilar de uma forma rápida, aliás, muito rápida mesmo. É então que os dois motores unem esforços com o único propósito de proporcionar as melhores perfomances.
Sublinhe-se que a caixa tem apenas seis velocidades e que o motor elétrico tem uma caixa dedicada com duas velocidades.

À frente vamos sentados em bancos que mais parecem oriundo da competição, mas atrás os dois bancos apenas servem para curtas distâncias, sendo de difícil acesso e mais vale considerá-los com uma bagageira suplementar, porquanto a única que existe, situada atrás do motor a gasolina, tem uma capacidade de 154 litros, reduzida pela presença de dois cabos para carregamento. Um permite a ligação em tomadas domésticas, o outro em postos de carregamento.

De igual modo, não gostamos da ausência de locais de arrumação. As portas, obviamente, não têm bolsas, há um pequeno espaço na consola central e até o porta-luvas é de dimensões reduzidas. Também não gostamos do PRFC (Polímero de Carbono Reforçado), visível em diversos pontos do carro, como as embaladeiras ou as portas.

De série o i8 vem equipado com head-up display, ar concionado bi-zona , sistema Hi-Fi Harman Kardon, aviso de colisão, projetores LED completos, sensores de estacionamento dianteiros e traseiros, suspensão adaptativa, o sistema Top View, que permite ver o carro de cina. O monitor central de 8,8 polegadas dá sugestões de rota considerando a carga da bateria e o estilo de direção ou procurando estações de recarga.

Uma nota, ainda, para a enorme chave, com ecrã tátil, que permite verificar à distância diversos parâmetros do carro (portas fechadas, luzes desligadas, etc,) e também programar a ventilação.

Comportamento

Quando empurramos o seletor da caixa para a esquerda entrámos noutra dimensão. O painel de instrumentos passa a vermelho, o habitáculo é invadido pelo “troar” do motor, o acelerador fica mais reativo, passamos de caixa nas patilhas atrás do volante, os amortecedores ficam mais firmes e a direção mais direta, embora continue a denotar alguma artificialidade na forma como “lê” a estrada.

O motor térmico é ajudado pelo elétrico e não existem atrasos na entrega da potência. Acelera como um míssil até velocidades proibitivas, mas o comportamento dá confiança ao condutor.

Em estradas mais sinuosas, a ligeireza do conjunto, unido às quatro rodas motrizes, quase não dá trabalho aos travões, de potência suficiente, mas que não tivemos oportunidade de testar em condições mais empenhadas, fruto de péssimas condições atmosféricas, com chuva forte e granizo à mistura. Mas que deram para ver, isso sim, quão equilibrado é este carro inspirando confiança e permitindo mais alguma afoiteza.

O que mais impressiona no i8 é, tirando os defeitos de um projeto tão extremo como este, a facilidade condução quotidiana, os baixos consumos e, quando se trata de aumentar o ritmo cardíaco, a forma linear como a potência surge.

E não nos cansamos de elogiar os faróis laser, de uma eficiência a toda a prova, e que surgem como opcionais por 5.325 euros. Aliás, eram o extra mais caro deste i8, que vale 165.142,41 euros (valor base de 132.872 euros).

BMW i8
Tipo de motor: 1499 cc, três cilindros em linha
Potência: 231 CV (362 cv de potência combinada) às 5800-6000 rpm
Binário máximo: 320 Nm às 3700 rpm
Caixa de velocidades: Automática de seis velocidades
Motor elétrico: 96 Kw
Velocidade máxima: 250 km/h
Aceleração 0–100 km/h: 4.4 s
Consumo médio: 2, l/100 km
Emissões CO2: 46 g/km

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