Citroën C4 Cactus 1.2 Puretech 110 EAT6: Foi você que pediu sem bolhas?

12/09/2018

Surpreendeu quando foi lançado em meados da década e foi um dos responsáveis pelo crescimento não só da Citroën no mercado europeu, como também do próprio aumento de importância dos SUV. O C4 Cactus mostrou que a companhia gaulesa ainda conseguia fazer carros desconcertantes e apelativos, sobretudo pela introdução das ‘catitas’ bolhas de proteção ‘AirBump’.

Cerca de quatro anos passados, a Citroën renova com grande cuidado o seu C4 Cactus, embora os principais traços identificativos se mantenham bem presentes, a começar desde logo pela dianteira de grupos óticos bipartidos. À primeira vista, não difere muito de um C3, ostentado assim um visual jovem e rebelde, capaz de apelar a todos.

Porém, olhando para os flancos, há quem lamente a perda dos ‘AirBumps’ que protegiam as portas dos ‘malvados’ encostos alheios. Em seu lugar, na zona inferior da carroçaria, três sinais apenas que parecem evocar os tempos em que existiram bolhinhas protetoras… Também nos para-choques desapareceram os ‘Airbump’ e no tejadilho as barras estilizadas ‘voaram’ para outras paragens…

Pontos fortes

Mas a Citroën soube limar alguns dos seus pontos fortes. O primeiro de todos: o conforto. A marca do Grupo PSA é notavelmente reconhecida por esta sua qualidade (desde os tempos do 2CV que assim é) e a renovação do C4 Cactus aprofunda essa ligação. A suspensão com amortecedores progressivos hidráulicos é a principal razão pela qual os passageiros são tratados de forma tão ‘mimada’ perante estradas inclementes de mau piso. O segredo, desenvolvido pela estratégia a que a Citroën deu o nome de ‘Advanced Comfort’, está na adoção de batentes hidráulicos nos amortecedores que absorvem os impactos em compressão e distensão. Assim, não há a sensação de ‘choques’ da roda em buracos ou nos desníveis mais profundos, com benefício total para os ocupantes, que beneficiam de viagens suaves.

Mas a estratégia Advanced Comfort vai além disso. Engloba ainda o interior e, nesse aspeto, os bancos que quase convidam a dormir como se fossem sofás de casa marcam pontos. Até pelo padrão dos mesmos e pela decoração, numa combinação de cores creme, vermelho e preto.

Uma particularidade que deriva ainda do C4 Cactus anterior, assim como detalhes mais exclusivos que na época do lançamento chamaram a atenção: o porta-luvas que parecia um cofre ou os puxadores internos das portas, que replicavam as pegas das malas de alta-costura francesa. A luminosidade a bordo é outro aspeto interessante, mesmo sem um tejadilho panorâmico.

De resto, o C4 Cactus prima pela simplicidade no interior, com materiais ligeiramente abaixo de alguns dos seus rivais no segmento C/C-SUV (o Cactus fica a meio caminho dos dois), mas com os tais detalhes estilísticos e a construção sem mácula a compensarem. O espaço a bordo é interessante, albergando com comodidade dois passageiros nos bancos traseiros, merecendo destaque o espaço para as pernas e a altura, com a largura a ser o ponto menos destacável. Também atrás os bancos apelam ao conforto.

O facto de o C4 Cactus ser uma reinterpretação do modelo que foi lançado em 2014 significa que um dos seus pontos menos interessantes continua presente: os vidros das portas traseiras têm abertura em compasso, uma solução que poupa peso, custo e que numa carroçaria de cinco portas não acrescenta grande utilidade. Coisas de estilo…

A bagageira tem boa capacidade, com os seus 358 litros, ficando na média do segmento. Tem, no entanto, um problema que é o lábio de carga que é muito elevado, o que pode complicar o carregamento de objetos mais pesados.

Boa surpresa dinâmica

Tal como o modelo anterior, o C4 Cactus preserva o seu bom comportamento dinâmico, muito por culpa da sua estrutura leve e pela eficácia da suspensão que, afinal, não é só para conforto. Não terá a mesma agilidade quase instintiva de alguns dos outros rivais da categoria, sentindo-se o adornamento da carroçaria em curva e em travagem, mas sem que isso represente um excesso penalizador. Ou seja, acaba por ser ágil q.b. para manobras evasivas e percursos mais encadeados, cumprindo perfeitamente com aquilo a que se propõe mas permitindo-se à veleidade de surpreender um pouco neste campo. E, claro, combina essa capacidade com a já abordada questão do conforto, o que é portanto um trunfo a seu favor. Ainda assim, os bancos, elogiáveis pela sua macieza, poderiam ter mais apoio lateral do tronco…

William Crozes @ PLANIMONTEUR

A unidade ensaiada dispunha de um bloco 1.2 PureTech de 110 CV acoplado a caixa automática EAT6, numa combinação que serve para manter uma condução viva e despreocupada, com respostas bem conseguidas que também ganham pontos com a ligeireza do conjunto. As prestações acabam mesmo por superar as expectativas, dando ao Cactus uma maior vivacidade, com as retomas a serem também muito eficazes. Não obstante a boa conceção do bloco de três cilindros, a sua sonoridade torna-se audível quando em acelerações mais prolongadas, havendo ainda a reportar algumas vibrações ao ralenti, sem que isso se traduza num ponto verdadeiramente a seu desfavor.

Os consumos rondam os seis litros, com a média do nosso ensaio a ser de 6,4 l/100 km, não fugindo em demasia ao que a Citroën define como valor homologado (5,3 l/100 km).

Com um preço base de 17.200 euros, o C4 Cactus tem um posicionamento deveras interessante no mercado, até pelo equipamento a condizer (cruise control, jantes de 16 polegadas ou hill holder). A versão ensaiada, mais equipada (Shine por 18.556€), juntava uma série de tecnologias de assistência à condução, como o reconhecimento dos sinais de trânsito, além de sistema de infoentretenimento com ecrã tátil de 7.0 polegadas denominado Citroën Connect Radio com navegação, jantes de 17″ diamantadas ‘Cross’ e ar condicionado automático.

VEREDICTO

A Citroën tinha no anterior C4 Cactus um caso de sucesso e a estimativa é de que o renovado modelo gaulês mantenha essa tendência. Sem mudar em demasia o visual – mesmo que as ‘bolhinhas’ deixem algumas saudades – recebe alterações técnicas que o valorizam, como é o caso do conjunto de medidas Advanced Comfort, que fazem do C4 Cactus um modelo aprazível pela suavidade com que leva os seus ocupantes em viagem.

O casamento do motor 1.2 PureTech a gasolina com a caixa automática de seis velocidades resulta numa proposta suave e eficaz, com boas respostas e que oferece também tranquilidade na condução. Uma proposta que mantém a sua irreverência e uma posição muito forte num mercado cada vez mais repleto e, sobretudo, que não abdica do seu cariz de vivência ‘Feel Good’. Remate final, o preço ajuda bastante.

FICHA TÉCNICA
CITROËN C4 CACTUS 1.2 PURETECH EAT6
Motor: Gasolina, 3 cilindros em linha, injeção direta, turbo+intercooler
Cilindrada: 1199 cm3
Potência: 110 CV às 5500 rpm
Binário máximo: 205 Nm às 1750 rpm
Suspensão Dianteira: MacPherson, independente, barra estabilizadora
Suspensão Traseira: Eixo de torção, barra estabilizadora
Tração: Dianteira
Caixa: Automática de seis velocidades
Aceleração (0-100 km/h): 10,3 segundos
Velocidade máxima: 193 km/h
Consumo médio anunciado (medido): 5,3 l/100 km (6,4 l/100 km)
Emissões de CO2: 119 g/km
Peso: 1165 kg
Bagageira: 358-1170 litros
Comprimento/Largura/Altura (mm): 4170/1729/1480
Distância entre eixos (mm): 2595
Pneus: 205/50 R17
Preço base (ensaiado): Gama a partir de 17.106 (18.556€)

MAIS: Conforto; segurança; preço; visual jovem; prestações.

Menos: Alguns materiais do interior; vidros traseiros de abertura em compasso; ausência de conta-rotações.

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