As linhas seduzem e intimidam em simultâneo, como se de um primeiro encontro às cegas se tratasse. O Ferrari Roma não é só um dos mais recentes desportivos produzidos pela marca italiana. É também um dos mais belos automóveis feitos nos últimos anos. E a atração à primeira vista transforma-se em fogo que arde sem se ver… alimentado por um V8 biturbo de 620 CV. Este é um contacto diferente com o foco nas impressões de um dia-a-dia ‘normal’.

Roma, cidade carregada de estórias e de presença na História, palco de encontros e de desencontros e pano de fundo para muitos filmes marcantes que povoam, ainda hoje, a mente de muitos cinéfilos. Mas também o nome de um dos Ferrari que procura recuperar a tradição da ‘Dolce Vita‘, algo que em português pode ser traduzido por ‘vida doce’, mera expressão empalidecida na língua de Camões.

Tal como num primeiro encontro, a primeira impressão diz muito (mas não tudo, atenção). Todo o design é fascinante. A dianteira bem longa com uma grelha pronunciada na cor da carroçaria, cavas das rodas muito marcadas e faróis divididos (com tecnologia LED) é apaixonante, evocando alguns dos modelos da marca que fizeram história na década de 1960.

Passando para a traseira, sobressai um conjunto apaixonante de linhas com um pequeno spoiler a dividir os grupos óticos bipartidos e quatro saídas de escape de grandes dimensões. Na tampa da bagageira está ainda um pequeno elemento ativo que se levanta a velocidades de autoestrada para incrementar a estabilidade geral. Ainda nem nos sentámos ao volante e já fomos conquistados pelo design.

Compêndio técnico

Este Ferrari recorre, uma vez mais, a um motor V8 de 3.9 litros, embora este tenha sido revisto face a outros modelos para oferecer maior eficácia. Entre as novidades, destaque para um filtro de partículas de gasolina para cumprir com as normas Euro 6D, mas que também ajuda a manter uma sonoridade rouca dos escapes.

A potência máxima deste motor com turbo ‘twin scroll’ é de 620 CV entre as 5750 e as 7500 rpm, com um binário máximo de 760 Nm logo às 3000 rpm, surgindo associado a uma nova caixa automática de dupla embraiagem com oito velocidades, que é mais compacta e seis quilos mais leve do que a antecessora de sete velocidades. Além de contribuir para reduzir as emissões e os consumos, esta caixa permite também maior rapidez e suavidade entre as passagens, graças ao uso de óleo de baixa viscosidade e cárter seco para minimizar as perdas por atrito na condução.

Assim, melhora também a sua atuação na condução urbana e durante o funcionamento do sistema start-stop, sendo estes dois aspetos em que o Roma está efetivamente bem conseguido, adotando tremenda suavidade de utilização em ritmos urbanos. Esta caixa de velocidades de nova geração é baseada na unidade estreada no SF90 Stradale, se bem que no Roma com escalonamento mais longo e marcha-atrás mecânica (no Stradale era de atuação elétrica).

A Ferrari detalha ainda que o Roma surge com sistema de Gestão Variável de Pressão, um software eletrónico que ajusta a entrega do binário à mudança inserida, permitindo dessa forma retomas mais lestas. Em sétima e oitava velocidade, o binário ascende aos 760 Nm, o que permite então à marca italiana alongar o escalonamento da caixa de oito velocidades – tanto permite uma boa economia, como uma resposta condizente com os seus pergaminhos.

O novo Ferrari Roma acelera dos zero aos 100 km/h em 3,4 segundos, cruzando os 200 km/h em 9,3 segundos, até chegar a uma velocidade máxima superior a 320 km/h.

Com 4656 mm de comprimento, 1974 mm de largura, 1301 mm de altura e 2670 mm de distância entre eixos, o novo Roma acusa 1570 kg na balança, mostrando assim trabalho elaborado na contenção do peso.

Esta é a ‘Dolce Vita’

Quando nos sentamos no Roma, somos apresentados pessoalmente a um cockpit cada vez mais digital e que tem dois lugares muito bem vincados à frente, ‘separados’ por uma consola central elevada, onde estão alguns dos principais comandos – dos vidros elétricos ou da caixa de velocidades (‘Auto’ ou ‘Manual’), bem como o de ativação do modo de ‘Launch Control‘.

O volante de base plana congrega todos os comandos usualmente encontrados nos manípulos atrás. Tudo feito de forma precisa e ergonómica. Os botões dos ‘piscas’ estão em destaque na parte superior do volante, um em cada lado, como é lógico. O botão de ignição do motor, o dos limpa-vidros e o ‘Manettino’, que permite alternar os modos de condução, entre os comedidos ‘Wet’ e ‘Comfort’ e os mais desportivos ‘Sport’ e ‘Race’, havendo ainda um modo ‘ESP Off’, que desativa o controlo de estabilidade. Atrás do volante, todo o espaço é aproveitado para as grandes patilhas de comando da caixa – cada toque uma expressão de sentidos.

O painel de instrumentos digital tem 16″ e pode ser personalizado de acordo com as preferências do condutor, por intermédio do comando tátil no lado direito do volante. Ao meio está um ecrã central tátil de 8.4″, a partir do qual é possível aceder a uma grande parte das funcionalidades (Apple CarPlay pode ser opção, mas não o Android Auto, o que é pena). Há um outro ecrã de 8.8″ para o passageiro, que pode assim comandar alguns dados de informação, bem como de áudio.

Todo o interior evidencia uma construção exímia, aproveitando da melhor forma muitos materiais de primeira linha, como revestimentos em pele, combinados com Alcantara. Nota ainda para o facto de ter dois pequenos lugares atrás, assumindo-se como um 2+2. Na bagageira, os 272 litros são convidativos para viagens de fim de semana.

Concerto de emoções

A ignição desperta o motor V8 e os primeiros ‘acordes’ são dignos de um concerto de emoções, sobretudo a ‘frio’. Sabendo-se da ameaça de extinção sob a qual os motores de combustão se encontram, qualquer aceleração oferece um acompanhamento acústico inolvidável.

A experiência de condução é totalmente variada consoante a utilização que se lhe pretende dar. Pode ser perdulário no amortecimento e confortável q.b. para o dia-a-dia e cumpre perfeitamente, mostrando desde logo, mesmo no modo de condução ‘Comfort’, uma característica fundamental – a direção fantasticamente precisa e uma boa resposta do motor.

Tudo se torna mais agressivo e mais rápido nos modos de condução mais desportivos, embora não nos tenha sido possível experimentar o modo ‘Race’. Uma carroçaria firme e responsiva, um compêndio de sensações com que é incrivelmente fácil de conviver no dia-a-dia e nos momentos em que se quer retirar um pouco mais de diversão e de emoção. Porque o Roma é precisamente isso: um desportivo 2+2 bastante bem calibrado, com um motor pujante, qualquer que seja a mudança inserida, recomendando-se a utilização das patilhas atrás do volante para uma conexão mágica.

Mas, é no dia-a-dia e na experiência do ponto de vista do utilizador que também sentimos uma diferença importante. Os outros condutores saúdam-nos, dizem-nos que é uma ‘bella macchina‘ e tiram fotografias ao Roma, o que eu percebo bem: merece figurar em qualquer smartphone ou máquina fotográfica. Uns param nos cruzamentos para nos deixar passar, apenas porque ‘precisam’ de ver aquela traseira seccionada e tão bem desenhada. Outros sorriem à sua passagem e viram a cabeça na sua direção.

Como eu percebo o desejo alheio. Talvez o desejo seja um pecado e talvez fale italiano, essa língua que os amantes dizem ser a que melhor expressa as juras de paixão. E quando se fala de desportivos, fala-se sempre em paixão, sendo que no caso de um Ferrari há também impregnado um manancial de ‘alma’ e de emoções que se tornam parte de nós quando tocamos no volante, quando pressionamos o acelerador ou quando ouvimos o escape a subir até às 7000 rpm numa ‘voz’ grave que nos envolve.

Em suma

Mais do que um ensaio usual, o que a Ferrari nos proporcionou foi uma experiência de vivência de um dia ao volante de um Roma, com este modelo a conquistar-nos pelo estilo, pela qualidade geral imperial e pelo binómio prestações/comportamento numa utilização que pretende ser divertida e atrevida, quando necessário.

Enquanto GT 2+2, o Roma é a epítome do que deve ser um automóvel de aptidões desportivas, confiante e confortável de uma forma geral, sendo também mais uma demonstração de que há uma carga emotiva em cada automóvel com as credenciais técnicas e dinâmicas da Ferrari. Nunca é só um automóvel. É sempre emoção. Neste caso, pode ser também uma canção na língua que muitos dizem ser a dos amantes.

FICHA TÉCNICA
Ferrari Roma
Motor: V8, 3855 cc, injeção direta, biturbo, intercooler
Potência: 620 CV entre as 5750 e as 7500 rpm
Binário: 760 Nm entre as 3000 e as 5750 rpm
Transmissão: Traseira, caixa de dupla embraiagem de oito velocidades
Aceleração 0-100 km/h: 3,4 s
V. Máxima: 320 km/h
Consumo médio (WLTP): 11,2 l/100 km
Emissões CO2 (WLTP): 255 km
Dimensões: (C/L/A) 4656/1974/1301 mm
Distância entre eixos: 2670 mm
Pneus: 245/35 R20 (D) – 285/35 R20 (T)
Peso: 1645 kg
Bagageira: 272 litros
Preço: N.D.

Fotografias: Rodrigo Hernandez/Direitos reservados

Percorra a galeria de imagens acima clicando sobre as setas.