A Renault sabe que nem todos os seus clientes estão já predispostos para adotarem a mobilidade 100% elétrica, pelo que seria imprudente cortar em definitivo com a estratégia de mobilidade à medida de cada um. Assim, a gama do novo Austral contempla diferentes opções de eletrificação, sendo a E-Tech Hybrid aquela que mais atenção recolhe. Uma solução criada pela companhia gaulesa e estreada neste novo SUV, com desempenho competente e refinamento bem conseguido.

É com a tecnologia híbrida que a Renault espera cativar os antigos clientes dos motores Diesel, propondo uma solução altamente eficiente e com respostas capazes de satisfazer todas as necessidades, com dois níveis de potência preparados: 160 CV e 200 CV. Na apresentação internacional que decorreu em Madrid, Espanha, a marca colocou à disposição dos jornalistas a versão mais potente, sendo esta uma solução que demonstrou os seus predicados ao longo de percursos variados. As versões ensaiadas eram também as mais equipadas, com acabamento desportivo Esprit Alpine.

A bordo, a primeira impressão é a de um modelo muito bem conseguido, com nível de acabamento muito elevado, destacando-se também pelos bons materiais e por revestimentos que dão uma ótima impressão geral. Esta melhoria na qualidade percebida acaba por ser importante, atendendo à melhoria também dos seus rivais, pelo que a Renault está assim em muito boa posição.

Mas, é no capítulo da tecnologia que o Austral começa a marcar pontos, com a solução OpenR com os seus dois ecrãs a ser bastante interessante. O painel de instrumentos tem fácil leitura apesar da multiplicidade de informações apresentadas e o head-up display consegue ser ajuda criteriosa na condução ao projetar no para-brisas as principais informações.

O manuseamento do sistema de infoentretenimento, criado pela Google Automotive, é muito semelhante ao de um smartphone, o que quer dizer que resulta intuitivo e de fácil interpretação, havendo muitos menus para explorar. Num deles, é até possível ajustar o volume dos ‘piscas’. Simples, mas útil… O ecrã de 12″ na unidade ensaiada mostrou também boa precisão em andamento e ótima leitura, mesmo perante o Sol, o que se explica pelo revestimento antirreflexo aplicado na superfície.

A posição de condução é elevada, como convém num SUV multifuncional, oferecendo boa visibilidade. Algo que nos parece pouco funcional é o posicionamento de três hastes de controlo do lado direito atrás do volante – para o comando da caixa, para o controlo da limpeza do para-brisas e para o controlo do sistema de áudio -, o que gera por vezes toques involuntários dada a sua proximidade. Também o botão do modo ‘EV’ para forçar a entrada em cena do motor elétrico colado com o botão de ignição é pouco prático naquele local.

Nota ainda para a qualidade geral do habitáculo, mostrando-se uma evolução notória, sobretudo quando na versão de equipamento mais elevada, a Esprit Alpine com um toque de desportividade à mistura. O espaço atrás é correto, situando-se na média do segmento, tendo ainda como vantagem a movimentação longitudinal dos bancos traseiros, o que permite aumentar a volumetria da bagageira, a qual varia entre os 430 litros e os 1455 litros com o rebatimento das costas dos bancos.

Boas respostas, ainda melhor refinamento

A tecnologia híbrida apresentada no Austral pode ser obtida em dois níveis de potência – 160 CV ou 200 CV. Porém, a base técnica é a mesma: ambos recorrem a um novo motor 1.2 Turbo de três cilindros (130 CV e 205 Nm), que se combina com dois motores elétricos: um é o motor de tração (e-motor) com 50 kW e 205 Nm, enquanto o outro é um gerador/motor de arranque de alta tensão (HSG) utilizado para ligar o motor de combustão, trocar de velocidades e carregar a bateria. Há ainda uma bateria central de iões de lítio de 1.7 kWh (400 V) e caixa de velocidades multimodo de dentes direitos.

O sistema full hybrid deste Austral significa que apenas durante alguns momentos é possível circular em modo elétrico. Porém, o sistema funciona realmente bem, com boa integração da unidade elétrica a permitir, durante muitas vezes, que funcione sem recurso ao motor de combustão de 1.2 litros. Adicionalmente, como a capacidade de regeneração é muito boa, a bateria facilmente repõe a carga necessária para nova tirada apenas com o motor elétrico.

Como é de supor, há que dosear o pedal do acelerador para não despertar o motor de combustão, mas quando tal acontece, as prestações combinadas são muito boas, com aceleração dos zero aos 100 km/h em 8,4 segundos no caso da versão Esprit Alpine. Não obstante, sobretudo em modo mais ecológico de condução (ajustado pelo Multi-Sense), há um ligeiro atraso na resposta quando se pressiona o acelerador mais a fundo para uma ultrapassagem, por exemplo, algo que os responsáveis da Renault com quem falámos garantem que será ainda melhorado até ao lançamento.

Muito elogiável é o trabalho feito pela marca no ‘jogo’ de ação entre os dois motores, com transição feita de forma impercetível e excelente insonorização – muitas vezes, nem se percebe que o motor a gasolina está em funcionamento, havendo também um ótimo trabalho na supressão das vibrações a bordo.

Sem grande contenção na condução e passagens por zonas de subida em montanha, obtivemos um consumo médio de 6,1 l/100 km, o que leva a crer que é realmente possível obter os valores anunciados pela Renault para esta versão híbrida de 200 CV (desde 4,6 l/100 km).

O comportamento dinâmico corresponde às expectativas, com um controlo de carroçaria muito satisfatório, num bom equilíbrio entre conforto e desportividade, também a reboque de uma boa sensação da direção, que se revela precisa e com assistência variável consoante o modo de condução. Apenas no piso mais empedrado existe alguma sensação de maior firmeza, o que pode ser explicado pelas jantes de maiores dimensões (20 polegadas).

A agilidade sai reforçada pela presença do sistema 4Control Advanced, uma evolução do eixo traseiro direcional que permite ao Austral ser mais manobrável em espaços apertados, com um raio de viragem idêntico ao de um Clio, por exemplo, apesar de ser substancialmente maior, enquanto acentua a sua estabilidade em curvas mais rápidas.

O preço desta versão Iconic Esprit Alpine tem um custo em Portugal de 45.300€, embora seja de salientar que é a de topo.

Em suma…

Neste primeiro contacto, fica a noção de um Austral que eleva o estatuto da Renault dentro das propostas híbridas, sobretudo por via de um sistema eletrificado muito refinado e bem ajustado para uma ampla variedade de utilizações, sem que se mostre demasiado penalizador nos consumos em caso de condução mais destemperada.

O comportamento regrado com bom compromisso entre conforto e dinamismo é outra das suas características, podendo por isso corresponder a uma vasta amplitude de expectativas.

Neste primeiro contacto, também ficámos bastante satisfeitos com a subida geral na qualidade operada pela Renault neste Austral, mas sobretudo com o reforço na vertente do equipamento e da tecnologia, algo em que este SUV se demarca face à grande maioria dos seus rivais. Exemplo disso é o sistema de infoentretenimento que é realmente interessante de utilizar.

Contas feitas, o Austral pode ser tudo o que o Kadjar não conseguiu ser: uma grande dor de cabeça para os rivais.

*Em Madrid, Espanha

FICHA TÉCNICA
Motor (térmico): 1199 cc, 3 cilindros em linha, turbo, injeção direta
Potência: 130 CV às 4500 rpm
Binário: 205 Nm às 1750 rpm
Motor elétrico 1: Síncrono de ímanes permanentes, 68 CV/50 kW, 205 Nm
Motor elétrico 2: Gerador de energia/auxiliar, 34 CV/25 kW, 50 Nm
Potência combinada: 200 CV
Bateria: Iões de lítio, 1.7 kWh
Aceleração 0-100 km/h: 8,4 seg.
Velocidade máxima: 175 km/h
Consumo médio (WLTP): 4,6 l/100 km
Emissões CO2 (WLTP): 104 g/km
Dimensões (C/L/A): 4.510/1843/1618 mm
Distância entre eixos: 2667 mm
Bagageira: 430 (555)-1455 litros
Preço: 45.300€

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