Com o novíssimo Spectre, a Rolls-Royce apresenta um coupé 100% elétrico que vem reforçar as ambições da marca britânica e contribuir para baixar a idade média dos seus clientes. Sem emissões, mas gerando muito expectativa, este modelo junta-se a uma linhagem em que requinte e personalização não têm limites. O Motor24 teve a oportunidade de conduzi-lo (bem como aos Ghost e Cullinan) e verificou como é ‘viver’ no mundo do Euromilhões por umas horas.

Embora ao alcance de poucos, a Rolls-Royce é uma das marcas que povoa o imaginário de muitos entusiastas do mundo motorizado, sendo reconhecida globalmente pelo seu estatuto praticamente ímpar no mercado dos automóveis de luxo. Esse mesmo posicionamento é agora reforçado pela sua aposta na eletrificação, com o novíssimo Spectre a sublimar os conceitos de suavidade, requinte e conforto que são comummente associados à Rolls-Royce.

Tratando-se de um automóvel de nova geração, o novo Spectre dirige-se igualmente a um outro tipo de cliente, mais jovem e mais atento à questão da sustentabilidade, sendo este um objetivo declarado da marca – trazer novos clientes que apreciam as qualidades dos elétricos, mas que não descuram a já conceituada filosofia de luxo fora de série que é intrínseca à Rolls-Royce. A este respeito, note-se que a marca está comprometida com o objetivo de vender apenas automóveis elétricos a partir de 2030, com a expectativa gerada pelo Spectre a ser, de acordo com os responsáveis da companhia, um bom indicador para a aceitação deste tipo de tecnologia por parte dos seus clientes.

Para a Rolls-Royce, cada novo modelo é preparado com um foco máximo no conforto e atenção aos detalhes, tanto nos materiais escolhidos, como na apresentação visual. O Spectre não é exceção e cada painel de carroçaria e, sobretudo, o interior, beneficiam de apresentação irrepreensível. Tudo é personalizável e configurável e serve para sublimar o conceito de luxo supremo.

Sobressaem os bancos altamente confortáveis, a adição da tecnologia para diversas funcionalidades (por exemplo, para fechar as portas basta carregar um botão) e as áreas de contacto soberbamente revestidas, havendo até pormenores impressionantes como a própria haste seletora de velocidades atrás do volante revestida em pele com ponteado em combinação a condizer com tablier e portas.

O cliente tem a sua participação em cada detalhe, sendo a personalização uma área bastante rentável para a Rolls-Royce, que tem na sua área ‘Bespoke’ uma forma de atender aos desejos mais extravagantes dos clientes.

A carroçaria de estilo coupé resulta de programa de desenvolvimento extremamente exigente, prefigurando uma silhueta que fomenta a eficiência e a elegância. No caso do Spectre, com configuração de lugares 2+2, obteve-se um valor de apenas 0.25 Cd, sendo assim o seu carro mais aerodinâmico de sempre. A própria estatueta na ponta do longo capot, denominada ‘Spirit of Ecstasy’, foi modelada ao longo de mais de 800 horas em túnel de vento para ser mais eficiente…

Rapidez silenciosa

Este coupé de grande porte (não deixa de ter uma volumetria impressionante) conta com dois motores elétricos, um por cada eixo, para uma potência combinada de 430 kW/585 CV e 900 Nm de binário, o que lhe permite acelerar dos zero aos 100 km/h em apenas 4,5 segundos. A bateria tem uma capacidade de 102 kWh (com materiais provenientes de fontes estritamente controladas da Austrália, Marrocos e Argentina) para 530 km de autonomia prevista. O carregamento pode ser feito a 195 kW (CC), bastando-lhe 34 minutos para repor de 10 a 80% do estado de carga.

Tendo passado por Portugal para se ‘apresentar’ a jornalistas e potenciais clientes, na zona de Cascais, o Spectre impressiona pelas dimensões, em primeiro lugar. Com 5453 mm de comprimento, quase atinge as três toneladas de peso total (2975 kg), mas isso não é impeditivo para prestações bastante velozes e decididas, respondendo com entusiasmante fulgor à maior pressão do acelerador.

Tudo isto feito, no entanto, com relativa serenidade, fruto do trabalho dos engenheiros para que as acelerações ou travagens sejam compensadas pela suspensão, de forma a que a carroçaria esteja sempre ‘plana’, além de a marca ter procurado que a entrega da potência também fosse feita de forma mais suave, do que meramente através de um ‘disparo’ como é comum nos elétricos.

Neste sentido, dinamicamente, o amortecimento cuidado é regra de lei, com o eixo traseiro direcional a ajudar nas manobras mais apertadas ou em curva. O Spectre tem um pisar aveludado como poucos automóveis no mercado (pelo menos, até entrarmos nos Ghost e Cullinan…), mas ao mesmo tempo competente para agilidade nobre, sem devaneios, mas com muita segurança e estabilidade.

Ghost: O espírito da potência

Igualmente presentes neste evento organizado pela Rolls-Royce Mónaco, o Ghost e o Cullinan (em versão Black Badge com detalhes mais desportivos) reforçaram a postura de luxo incomparável. Ambos partilham motor de combustão V12 e dimensões desconcertantes, sobretudo no caso do SUV Cullinan, que se tornou no modelo de maior sucesso comercial da marca que, em 2022, ultrapassou pela primeira vez na sua história a fasquia das 6000 unidades vendidas em 12 meses (6021).

O Ghost é, talvez, o Rolls-Royce por excelência, com as suas portas ‘suicidas’ a serem pensadas com um propósito muito simples – o motorista sai do seu lugar e tem assim um ângulo melhor para, em dias de chuva, abrir o chapéu e permitir aos passageiros dos bancos traseiros uma maior proteção dos elementos. Aliás, na própria porta traseira encontra-se um chapéu-de-chuva, que pode, naturalmente, ser também personalizado, tendo a particularidade de existir um mecanismo na própria porta que seca o chapéu caso esteja molhado (que também existe no Spectre, por exemplo).

Tal como no Spectre, há luxo a rodos. Praticamente todos os painéis têm algum tipo de revestimento nobre e o forro do tejadilho ‘Starlight Headliner’ mimetiza a vivência sob um céu estrelado, graças aos 1340 pontos luminosos que nos agraciam. O comprimento também impressiona, com os seus 5,55 metros na versão mais curta (há uma maior, de 5,72 m), embora na condução esse tamanho pareça menos evidente.

Aqui, ao contrário do Spectre, há um motor de combustão. Um V12 biturbo de 6.75 litros de cilindrada e 571 CV de potência, associado a uma caixa automática de oito velocidades de conversor de binário. O ganho de velocidade é também impressionante (acelera dos zero aos 100 km/h em 4,8 segundos), mas suave. Essa é talvez a palavra que melhor caracteriza a prestação deste Ghost (mas também a dos outros dois, como se percebe), com uma aceleração que é notória e possante, mas sempre compensada pela suspensão que trata de manter carroçaria o mais plana possível. A tração integral e o sistema de eixo traseiro direcional fazem com que o Ghost seja também ágil q.b. para passagens rápidas e eficazes em curva. A forma como efetua as curvas em apoio, com direção aveludada e perfil muito seguro, dão-lhe um estatuto senhorial.

Cullinan Black Badge: Diamante negro

Por fim, a condução do aparentemente mais volumoso Cullinan segue os mesmos princípio. Com 5341 mm de comprimento, é a sua altura que fornece o aparato de um modelo gigantesco, quando até ‘só’ pesa 2660 kg. Os detalhes de requinte e de luxo máximo estão todos incluídos, nomeadamente, com os diversos revestimentos em couro, madeira e detalhes tecnológicos, como os ecrãs digitais e os tais botões para encerrar as portas de forma automática.

A pressão no botão do lado esquerdo faz despertar o V12 com estrépito emocionante. Os primeiros metros são de habituação às suas dimensões, sobretudo a uma posição de condução elevada, mas à qual rapidamente se cria habituação. A visibilidade geral é bastante boa e a tónica no conforto mantém-se.

Apesar de ter sido criado para enfrentar caminhos também por fora de estrada, o Cullinan aprecia mais o asfalto, mesmo o mais deteriorado, com a sua suspensão pneumática a contribuir para uma impressão de ‘tapete flutuante’. Com nome inspirado no maior diamante bruto alguma vez descoberto (por Thomas Cullinan), o SUV é realmente um diamante que importa explorar, já que vamos ganhando confiança e o conforto não é impeditivo para um comportamento dinâmico apreciável que beneficia do sistema de tração integral e da utilidade do eixo traseiro direcional.

A versão que pudemos conduzir era a Cullinan Black Badge, que elevava a potência máxima para os 600 CV e o binário para os 900 Nm, disponíveis logo às 1600 rpm (assim se percebem as respostas fulgurantes), além de dispor igualmente de alguns detalhes identificativos em cor escura, como a estatueta no longo, longo capot, as jantes especiais e os apontamentos também em preto atrás, além de aplicações em carbono no habitáculo. Na alavanca seletora de mudanças há ainda um modo ‘Low’ que, no Black Badge, melhora as passagens da caixa automática de oito velocidades em 50%, além de uma maior presença sonora do motor V12.

Com identidades tão específicas, os traços de conforto e luxo que são atribuídos à Rolls-Royce ficam bem patentes, tornando especiais estes modelos que nos transportam em breves viagens pelo mundo do ‘Euromilhões’, já que cada unidade ensaiada tinha um custo superior a 500 mil euros.

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