Contacto Toyota GR Supra: Um senhor na estrada, um ‘bruto’ na pista

21/05/2019

Comecemos pela pergunta que todos estarão a fazer: será o novo Toyota GR Supra, desenvolvido em parceria profunda com a BMW, um meritório membro da linhagem Supra? A resposta, muito simplesmente, é sim. O novo coupé de dois lugares da marca japonesa carrega em si todos os elementos que caracterizam um desportivo de sucesso, sobretudo, atendendo à vertente dinâmica.

Com a Toyota a fazer regressar esta designação icónica à modernidade, a escolha da BMW como parceira no desenvolvimento gerou algumas críticas, sobretudo entre os indefetíveis da marca japonesa, que olham para este modelo como um porta-estandarte dos valores da Toyota e, como tal, merecedor de uma ‘arte’ de evolução isolada. Contudo, como nos explicaram os responsáveis da marca em Madrid, onde teve lugar a apresentação internacional, este foi o caminho mais adequado em termos de custos num mercado em que este tipo de veículos arrisca em ter um peso negativo no resultado entre desenvolvimento/produção e retorno.

Assim, a Toyota aliou-se à BMW para criar um novo Supra, desenvolvendo uma plataforma partilhada em alumínio e aço que no caso da marca bávara teve como resultado um novo Z4 roadster. Mas, na Toyota, o foco é outro, mesmo que ainda exista um ‘elefante na sala’, como lhe chamei no artigo de apresentação, que poderá ler aqui. Esse ‘elefante’ é o facto de ter diversos componentes de origem BMW, como o motor de 3.0 litros com seis cilindros em linha e 340 CV de potência ou, ainda mais evidente, assim que se abre a porta e se acede ao habitáculo, com desenho muito parecido com o do Z4.

No entanto, seria tão injusto como redutor dizer que o novo GR Supra é um BMW disfarçado. E bastam alguns quilómetros para perceber que neste seu novo modelo, a Toyota tem um desportivo brilhantemente concebido, controlável de forma eficaz e divertida em estradas sinuosas, mas ainda mais entusiasmante de conduzir em circuito. Mas, cada parte por si.

Primeiro Gazoo

A Toyota procurou aplicar no seu GR Supra muitos dos ensinamentos aprendidos em circuito, representando o primeiro modelo global de desenvolvimento Gazoo Racing, a marca com que a Toyota compete a nível oficial no Mundial de Ralis (WRC) ou no Mundial de Endurance (WEC).

Eis a razão pela qual o novo GR Supra é muito mais do que uma mera adaptação de uma outra versão: o legado de competição foi aqui incluído, como por exemplo na conceção de solução de baixo peso ou de uma afinação de suspensão que é específica, alcançando aquilo que a marca apelida de ‘rácio dourado’ entre agilidade e estabilidade, graças às medidas de distância entre eixos (2470 mm) e largura de vias (1594 mm à frente e 1589 mm atrás) que permitem ao Supra ‘brilhar’ no capítulo dinâmico. O programa de testes para este carro teve o circuito de Nürburgring Nordschleife como palco privilegiado, com os engenheiros a levarem ao limite o carro naquele local, aprimorando o seu comportamento.

Além disso, procurou-se obter uma rigidez estrutural bastante elevada, com a Toyota a referir que este GR Supra tem mesmo uma rigidez estrutural superior à do Lexus LFA (que tinha chassis em fibra de carbono) e centro de gravidade inferior à do GT86, que tem já um valor baixo graças ao motor boxer. A suspensão adaptativa (AVS) conta com diversos elementos de alta rigidez e em alumínio para reduzir os pesos em suspenso, que em última instância são sempre inimigos da precisão dinâmica, valendo a pena notar ainda que a suspensão MacPherson na frente e de multibraços atrás estão conectados ao subchassis para maior rigidez.

A questão do peso anteriormente referida também é importante, já que o novo Supra tem distribuição equitativa entre os dois eixos (50:50).

Embora a Toyota tenha no seu grupo uma plataforma como a do Lexus LC, a marca optou por enveredar no caminho da parceria com a BMW para uma plataforma diferente, considerando que a do LC poderia não ser eficaz para o que se pretendia num carro de motor de seis cilindros dianteiro e tração traseira de baixo peso. Além disso, com esta solução, a Toyota pôde reduzir os custos e o tempo de desenvolvimento.

Na estrada, no modo de condução Normal (que altera alguns parâmetros do veículo, como a resposta do acelerador, a sonoridade ou a suspensão), os primeiros dois apontamentos relativamente ao novo Supra dizem respeito ao seu modo de estar: primeiro, não é particularmente bem insonorizado (nem é isso que se quer aqui…), ouvindo-se o escape e as próprias pedras ou detritos projetados pelas rodas traseiras com pneus super-aderentes Michelin Pilot Super Sport.

Porém, segundo ponto, é confortável e robusto. Solidamente construído, absorve bem as irregularidades do piso, tanto de empedrados como de lombas (ainda que a suspensão traseira se revele um tanto ou quanto mais ‘seca’), por isso adaptando-se bem a viagens longas – desde que se tolere a sonoridade do motor. A direção é precisa e o conjunto permite condução tranquila sem provocar desconforto. Um senhor na estrada, bem civilizado e que chama apenas a atenção pelo seu visual.

Chegados aos primeiros percursos de curvas encadeadas, liga-se o modo Sport e o Supra começa a sobressair pelo seu dinamismo: o motor turbo de 340 CV e 500 Nm às 1600 rpm, associado a uma caixa de velocidades de oito velocidades com patilhas atrás do volante para as passagens de relações, eleva facilmente o ritmo e a adrenalina a bordo ganha pontos.

O Supra, apesar dos seus 340 CV, conduz-se de forma certeira e exibe uma previsibilidade que sustenta as convicções do condutor. Não é dócil, mas é perdulário – não faz gala dos erros do condutor, antes atenua-os. Os travões – com discos dianteiros de 348 mm na frente e 345 mm na traseira – resistem enormemente à fadiga (o que viríamos a comprovar no circuito de Jarama) e mantêm a sua eficácia. Sempre em modo Sport, o diferencial autoblocante ajustável permite motricidade superior à saída das curvas e a potência disponível assegura que saímos disparados para a seguinte…

Um bruto na pista

As ideias iniciais de solidez e de bom compromisso entre dinamismo e conforto não ficam à porta do circuito de Jarama, mas antes são corroboradas no seu interior. Contudo, aqui o foco é extrair o máximo – ou o que nos deixam extrair do Supra. Isto porque, como nos repetiram por diversas vezes os instrutores que nos seguiam na pista, as unidades de teste eram escassas e até mesmo as peças de reposição não estavam ainda disponíveis em grande número. Num circuito onde se chega ao ponto de travagem da reta da meta a mais de 210 km/h vale a pena ter um pouco mais de cuidado.

a carregar vídeo

Mas, ao lado de um dos instrutores ‘contratados’ pela Toyota, sentámo-nos ao volante e percebemos desde logo que o GR Supra tem uma base muito equilibrada, competente na arte de andar depressa com uma precisão e estabilidade direcional que não compromete nas transferências de peso em apoio. A direção, precisa e responsiva, ordena e o chassis cumpre, tirando partido de um conjunto de travões mordaz e que corresponde de forma massiva à exigência de desacelerar a partir dos cerca de 220 km/h. Sim, travámos um pouco para lá dos ‘pinocos’ que serviam de indicador do ponto de travagem. E, ainda assim, trajetória apenas ligeiramente alargada, recompondo compostura à sua saída, aproveitando toda a motricidade concedida pelos pneus da Michelin e pelo diferencial ativo desenvolvido pela Toyota. O motor turbo sobe de regime de maneira rápida, com a velocidade a subir com intensidade, embora o único ponto que não nos convenceu plenamente tenha sido a rapidez de atuação da caixa automática ZF após ativação pelas patilhas. Mas são apenas minudências.

Saímos do carro depois da segunda sessão (eram duas em pista) completamente convencidos de que este carro é uma concessão ao prazer de condução, fácil de explorar, mas ao mesmo tempo exigente, baloiçando entre curvas com eficácia, com frente incisiva e traseira mais solta, mas divertida.

Em suma… Com um preço de 81.000€ na versão Legacy, aquela que será a única em Portugal, os entusiastas e admiradores da marca poderão ficar tranquilizados com a ideia de que este GR Supra merece continuar a ostentar o nome Supra porque em nada reduz o seu legado. Quanto muito, vai fortalecê-lo.

Percorra a galeria de imagens acima clicando sobre as setas.